terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Ok. Vamos falar disso.
Chega de assuntos românticos e delicados.
Escatologia também faz parte do nosso mundo, e nós não podemos passar a vida inteira simplesmente achando que ninguém vai ao banheiro.

Pois aqui está a dura verdade: todo mundo vai. Fato.

Acontece, porém, que o mundo corporativo-sócio-politicamente-correto tem a obrigação de evitar esse assunto. Aliás, não somente o assunto. O ser humano tende a evitar imagens, lembranças e cheiros. Especialmente o cheiro.

O século 20 trouxe muitas pragas. Algumas não chegaram ao século seguinte, mas outras sobrevivem, como times de futebol, alfinetes de segurança e iogurtes . Mas a pior delas, e justamente a que mais cresce, é o Bom Ar.

Fabricado pela Reckitt Benckiserm, o Bom Ar tornou-se a praga corporativa mais odiada por funcionários que, por um acaso do destino, tem suas mesas próximas aos banheiros da empresa.

O intuito não é dos piores. Com o objetivo de abafar o cheiro proibido, o Bom Ar promete "eliminar odores desagradáveis e perfumar suavemente, criando ambientes aconchegantes e proporcionando uma sensação duradoura de ar puro no ambiente".

Como podemos caracterizar um odor desagradável? Aliás, alguém já disse isso antes?

- Por favor, o senhor pode se afastar um pouco.
- Algum problema?
- Sim, sinto no senhor um certo odor desagradável...

Neste caso, a pessoa deveria ter usado um Bom Ar. A pessoa poderia usar, por exemplo, o aroma cheirinho de roupa limpa. Problema resolvido.

Mas voltando ao Bom Ar Corporativo, o que não estão percebendo é que aos poucos vai se tornando mais latente uma mudança de comportamento no olfato humano.

Na tentativa de inibir o cheiro de cocô, estão, na verdade, substituindo o cheiro por cheiro de Bom Ar.

A seleção natural de Darwin já mostrou isso (aquele lance da mariposa). Com o passar de alguns milhares de anos, o cheiro natural vai mudar. E, naturalmente, os funcionários próximos ao banheiro daqui a 100.000 anos terão que aturar cheiros como Floral Fresh, Acqua Marine, Brisa Fresca, Flores de Jasmim ou Pêssego.

E isso não só no banheiro. Se hoje já temos o aerosol, sachet, spray e ativa (este último dura até 30 dias!), imagine como será no tempo sugerido acima: um verdadeiro perfume de rosas globalizado.

Felizmente não estarei mais aqui. Mas temo pelas pessoas que habitarão o planeta. O que está por vir não cheira nada bem. Talvez seja Campos de Lavanda, eu acho.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

O que me acalma?

Escrever
Quando se está sozinho, como agora, que remédio melhor do que escrever?
As palavras surgindo, saindo da sua mente, aparecendo no papel - que, na verdade, nem papel é - trazem um bom sentimento. Algo seu está sendo criado. Algo bom. Não, não um Machado de Assim, mas, pelo menos, suas lembranças que estão ali.

Quando escrevo, coloco minhas dúvidas, meus medos, meus segredos, minhas paixões e alegrias. Minha alma. Meu eu. O verdadeiro eu. Ou, quem sabe, o eu como eu gostaria de ser. Mas não sou. O eu como eu deveria ser. Mas falta coragem. OU falta oportunidade. Ou dinheiro, ou tudo junto, vai saber.
Meu blog não é bonito
Não é fashion
Não é trend
Não é cool
Só é branco
Simples
Detalhes em azul

Meu blog é mal escrito
Não é comentado
Mal e porcamente
De vez em quando
Me dou ao trabalho
E o deixo atualizado

Não é personalizado
Não é diário
Não é de ouro
Não é de outro
Nem é usado
É mais abandonado
É quase um apelo
É quase um abano

Por fim, meu blog
Meu blog é só isso
Palavras comuns
Textos pífios
Poemas baratos
Sem fotos, ou fatos
Ou falácias
De flores, margaridas
Acássias
isso tem na vida
No meu blog
No meu blog
tem só escrita.
Porque eu tenho essa mania?

Será que sou só eu?
Será que só eu espero da amizade uma troca
Sofro por antecipação

Sò eu mergulho de cabeça e me machuco
Só eu me animo com nosos projetos
Só eu

Qual razão?
D'eu pensar tanto nos problemas?
D'eu esperar tanto dos outros?
D'eu investir tanto no que não sei?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Então ela chegou.


Não estava tão bonita assim
Nem tão cheirosa
mas ainda assim eu ficava apaixonado
Toda vez que a via
Quando virava meu rosto para outro lado.

Fitei-a, por alguns segundos. Sua reação foi um sorriso, seguido de um estranhamento, típico dos que são olhados.

Eu também não tive a melhor reação do mundo. Diante de sua beleza, fiquei tímido, mais que o usual, mas que no entanto causou a ela uma boa impressão.

A forma com que eu olhava a calçada, procurando irregularidades entre os ladrilhos, mostrava inseguranças, mas ao mesmo tempo deixava escapar o quanto aquele momento era importante.

Ela se aproximou com seu olhar maravilhoso
E eu, tão feio, desajeitado, o cabelo horrível
Mesmo assim se apaixonou
Mesmo assim se encantou

Até hoje nem acredito.
Acordo a cada manhã, pensando no começo. Pensando em como tudo aquilo aconteceu.
Ela diz "bom dia" como quem diz "me passa o açúcar". Mas as palavras que saem da boca dela em deixam enebriado.

Apaixonado.