terça-feira, 28 de maio de 2013

Eu já desisti de São Paulo


As pessoas adoram dizer por aí que São Paulo é uma relação de amor e ódio. A Folha, de tempos em tempos, publica pesquisas sobre esse envolvimento do paulistano com a cidade. Não vou ser hipócrita aqui, apenas honesto. Não odeio 100% São Paulo, mas chega muito perto disso. Infelizmente, fiz minha vida nessa cidade que cheira mal e, hoje, fica difícil sair e deixar tudo - e todos - pra trás. Sem demagogia? Se odeio tanto São Paulo, o que ainda faço aqui? Me falta coragem, oportunidade, algo que consiga me mover.  A verdade é essa. Mas isso não esconde o que verdadeiramente sinto. Aliás, muito do que falo aqui vale para o Brasil.

São Paulo é terrível. É uma cidade feia. Como falei, cheira mal. Mas o que mais incomoda em São Paulo não é culpa apenas de São Paulo. É culpa do Brasil também. É a demora com que as coisas acontecem. Tudo aqui leva anos para ficar pronto. Em alguns casos, décadas. Veja o caso do Largo da Batata. Desde que sou criança aquele trecho da cidade está em obras. Agora, parece que vai acabar. Lá se vão vinte anos!

Irrita a falta de planejamento da cidade. Como as coisas parecem acontecer de qualquer jeito. É fato que hoje as autoridades parecem se preocupar um pouco mais com isso. Mas o que já foi feito, dificilmente dá pra remediar. Tome Paraisópolis como exemplo. Uma das maiores favelas da cidade (já ouvi que é a maior) no meio de um bairro de classe média alta. Violência por lá é comum. Coisa do cotidiano. Trânsito, também. Porque, com o aumento da violência, as casas somem e dão lugar a prédios. E, onde antes havia quatro ou cinco carros, há agora 300 veículos. E a falta de planejamento salta à vista. O Morumbi é um típico exemplo de como a cidade não se preparou minimamente para crescer.

A Avenida Giovanni Gronchi está saturada. Há muitos e muitos anos. As ruas paralelas, usadas como vias de escape, também. A Giovanni é rigorosamente é a mesma desde que foi construída. Na ocasião, meados dos anos 1950, o Morumbi era tão longe que NINGUÉM da Prefeitura pensou, em algum momento, que aquele bairro poderia um dia se tornar populoso. E isso irrita demais. Em Buenos Aires, na nossa vizinha Argentina, isso não acontece. As avenidas são largas. Oito, nove, 10 faixas de cada lado da avenida. Qual a dificuldade para que São Paulo possa fazer o mesmo? Sério, é tão complicado assim? Somos menos inteligentes que os argentinos (e não estou colocando aqui nenhuma rivalidade, é apenas uma pergunta retórica)?

Talvez o maior símbolo da falta de planejamento de uma cidade, no maior sentido da palavra, sejam os postes. Parte do nosso dia dia, das nossas vistas, eles são ignorados pela maioria das pessoas. Mas estão ali, como troféus do descaso, como lembranças incessantes de que, nesta cidade, pouco ou quase nada se faz - ou fez - para prever o futuro.

Os postes de São Paulo não são postes comuns. Como diz um amigo meu, são verdadeiras usinas elétricas. Dezenas de fios emaranhados, jogados, se entrelaçam correndo pelas vias, ligados em casas, prédios, favelas, misturados sobre árvores que ficam em calçadas esburacadas, apertadas, com camelôs, lixo na rua e cidadãos que não respeitam o trânsito.

Aqueles postes fazem mais do que deixar a cidade feia, mais vulnerável a quedas de luz e acidentes com pipas ou afins. Eles fazem a gente lembrar, todo dia, em nosso caminho para o trabalho, que esta cidade provavelmente nunca terá jeito. O prefeito Haddad falou, este ano, que quer remover a fiação da cidade. Isso vai custar milhões. É louvável que o prefeito fale isso, e eu torço fervorosamente para que ele consiga realizar a promessa. Mas não conseguirá. Porque em São Paulo (e no Brasil), tudo demora. E quatro anos (ou oito) é muito pouco para ele resolver esse problema. Até porque há outros problemas, muito maiores e mais significantes do que enterrar fios de poste.

São Paulo é um poço sem fim de problemas. E parece que todos eles emperram em uma máquina velha, sem manutenção, que é o sistema. O sistema tributário. Com preços ridículos, mescla de impostos abusivos e lucros exagerados. O sistema de esgoto. Com rios que fedem e envergonham o paulistano e bairros ricos que despejam seus dejetos em qualquer lugar. O sistema de trânsito, que tem obras superfaturadas que já nascem velhas e motociclistas que não sabem o que é respeito. O sistema de segurança, em que 37 estupros por dia passam diante dos olhos em notícias no elevador e quase não causam espanto. Ou que ir a um restaurante é um risco de assalto duplo - seja pela casa, com seus preços que estão entre os mais altos do mundo -, ou pelos bandidos, que fazem arrastão livremente.

Eu já desisti de São Paulo. Claro, ainda faço minha parte. Ainda atravesso na faixa, aproveito a cidade, jogo  o lixo no local correto e tento, na medida do cidadão normal, cooperar com o trânsito. E louvo aqueles que fazem o bem pela cidade. Admiro, quase invejo. Mas minha desesperança é tanta, tamanha, que parece não ter volta. Penso em ter filhos, sim, mas tenho medo de criar alguém que irá conhecer esse local mundano, sujo, que infelizmente é o centro de negócios mais importante do País. Maldita São Paulo.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Teste: Asha 311

Prólogo: Antes de dar início ao texto-teste propriamente dito, uma introdução que se faz necessária: durante os último oito anos da minha vida, uma obrigação ética me impossibilitou de fazer qualquer tipo de testes de celulares – trabalhando para fabricantes, seria impossível manter-me imparcial. Nesse meio tempo, os blogs de tecnologia nasceram e se multiplicaram, enquanto eu vesti camisas de marcas – por um tempo, a Sony Ericsson, por mais tempo, a Nokia. Este é, de fato, o primeiro teste de um celular que farei sem vínculo com nenhuma empresa – pra quem não sabe, já não trabalho para nenhuma fabricante de celulares (e sinto falta, admito). Isso dito, vamos ao teste de fato. 

Nokia Asha 311: isso é o que restou do N9 

Asha 311, o pequeno valente da Nokia

Pedi para testar um produto da Nokia à LVBA, agência de comunicação da marca. E me enviaram o Nokia Asha 311. Um produto que vive naquela categoria limbo: está entre os mais vendidos por ser mais popular, mas nenhum blog de tecnologia se interessa. Afinal, todo mundo quer saber dos Galaxies, Lumias e iPhones, mas o que há de interessante para falar de um telefone intermediário? Muita coisa, na verdade.

Não levou nem 20 minutos para chegar à primeira conclusão do Asha 311: fãs do N9 (como eu), uni-vos: o MeeGo ainda vive. Não, não estou falando de espólios na forma de Jolla, Tizen e afins, mas de algo de dentro da própria Nokia mesmo. De fato, muito da usabilidade do N9 pode ser vista nesta linha de celulares da Nokia. Mas já falarei da interface. Começarei pelo design externo. 

Design
Asha 311 de perfil...
O Asha 311 tem uma ótima pegada. Pequeno, compacto, é um oásis no meio desses telefones com telas cada vez maiores - soa quase nostálgico, se me permitem, ter um celular tão pequeno nos dias atuais. Não que eu seja contra – aliás, eu não compactuo com essa tendência de telas enormes, se me perguntarem. Quebram o tempo todo. Com tela de 3’’, o 311 é um celulares “das antigas” – dá pra levar no bolso sem chamar a atenção. O acabamento, como era de se esperar, é um pouco mais simples. Um plástico brilhante atrás, com uma câmera enorme em tamanho, mas com apenas 3.2 megapixels – confesso que acho pouco para os dias de hoje, mesmo nessa categoria. Na lateral direita, botão de bloqueio da tela e volume – nada de botão físico para a câmera. Na esquerda, nada. Acima, entrada para fone de ouvido 3,5mm, cabo USB no centro e o plug para carregador – ainda o carregador “fininho”, proprietário da Nokia (o telefone também pode ser carregado via USB). Na frente, o Asha traz apenas dois botões, os clássicos verde e vermelho – este último liga e desliga o aparelho. 


...e de costas
Na mão, o Asha 311 tem uma ótima pegada
O Asha 311 é um dos porta-vozes da nova geração dos celulares medianos da Nokia. O velho S40 deu lugar ao “Asha Touch”, um sistema mais moderno e repensado para telefones com tela sensível ao toque. Mas será que ele dá conta do recado? 

Interface 
Ligando o Asha 311, você percebe que, de fato, os S40 cresceram – eu lembro de antigamente, quando você não conseguia usá-los sem chip. Pois o 311 já avisa que o telefone está sem chip e se você quer liga-lo mesmo assim. Muito bom, característica que antigamente só existia em smartphones. Pois é, há alguns meses, a Nokia anunciou que GfK e IDC, duas consultorias famosas, estavam reclassificando os Ashas Touch como smartphones, devido a sua capacidade de baixar apps e tudo mais. Em tese, é apenas uma mudança na nomenclatura, mas isso é suficiente para que o produto seja, de fato, considerado um smartphone? 

Nos primeiros dias de testes, eu diria que não. Com o passar do tempo, percebi que ele faz mais do que um celular comum. Ou seja, está mais para um híbrido. Um smartphone precisa rodar apps simultaneamente e permitir que o usuário alterne entre eles – como fazemos no computador. O 311 não faz isso. Se você tenta sair de um aplicativo aberto, ele pergunta se você quer fechá-lo. Há, sim, alguns aplicativos, especialmente de chat e e-mail, que rodam em segundo plano. Mas isso não é suficiente para chamar esse produto de smartphone. Mas a definição de "smartphone", na verdade, é nebulosa. Eu acredito na que mencionei acima, mas muitas empresas ou especialistas por aí consideram que ter uma loja de aplicativos e funções mais parrudas já bastam para que o produto seja um telefone inteligente. Então, não vamos mexer nesse vespeiro.

O N9 pobrinho
Classificações à parte, o 311 traz um visual bem renovado, como dito. E aqui começam as comparações com o N9. Fã que sou do único MeeGo à venda da Nokia, muitos que podem ler este texto acharão que só estou fazendo essa ligação por questões pessoais. Mas confesso que não.

Quando perguntado sobre o futuro do N9 na ocasião de seu lançamento, o presidente da Nokia Stephen Elop afirmou que "elementos do N9" iriam sobreviver, como o design industrial (que foi parar no Lumia) e a interface. Talvez ele estivesse se referindo a isso. Similaridades? Ambos trazem três telas iniciais e o conceito “swipe”, baseado em gestos – basta deslizar o dedo para direita ou esquerda que você alterna a tela. 

Enquanto no N9 as três telas são de apps abertos, menu clássico e feed + notificações, no 311 a coisa é um pouco diferente. A página de menu clássico está lá, mas a segunda página é exclusiva para o discador de telefone, enquanto a terceira é a mais estranha: é, basicamente, a tela inicial dos velhos Symbian, com relógio, aplicativos e contatos favoritos. Me dá a impressão que a Nokia deixou essa tela momentaneamente - talvez ela suma em versões futuras e dê lugar a uma página de notificações, quando os Ashas estiverem mais evoluídos. Há, ainda, uma tela de bloqueio que mostra as horas e notificações como chamadas perdidas ou mensagens, de novo, no mesmo layout do N9 – deslize-a para a direita ou esquerda e o produto está desbloqueado.

A tela de bloqueio do N9 e do Asha 311
O swipe aplicado no Asha 311...

...e no N9. Quase igual, porém (bem) mais lento no Asha

Recebendo uma chamada no Asha 311

E, por fim, também é possível puxar uma barra de cima pra baixo em qualquer uma das telas iniciais – algo que surgiu no Android e foi adotado pelos últimos Symbians. Nela, você pode ajustar itens como bluetooth e wi-fi, ou ainda ter (mais) atalhos. Curioso, no meu primeiro teste com o 311, ele insistia em me mostrar que havia redes Wi-Fi abertas na área de alcance – te incentivando a se aproveitar da rede vizinha. 

Dia dia
No funcionamento do dia dia, o 311 cumpre praticamente todas as funções que você precisa em um telefone - com um pouco mais. A loja de aplicativos está lá. Tem Foursquare, Twitter e Facebook feitos para o produto. E funcionam direitinho. Há quem considere apps como Instagram essenciais, mas pra mim o mais importante de todos, diria obrigatório, é o WhatsApp. E ele também está disponível na loja. A loja de apps da Nokia para S40, aliás, me surpreendeu pela interface otimizada para telas menores e rapizez na instalação dos apps. Ah sim, Angry Birds também pode ser baixado (mas eu confesso que não aguento mais esse jogo). Como brinde, a Nokia "dá" 40 jogos gratuitos da EA (Electronic Arts), que ficam em um ícone especial. A promoção vale por um tempo determinado, que começa a contar a partir do primeiro acesso à loja. No aparelho que veio pra teste, não foi possível fazer a verificação dos jogos pois o prazo já havia expirado em algum teste anterior.

Se o Asha 311 peca em alguns quesitos quando comparado a smartphones, ele traz a melhor das qualidades que um celular mais simples pode ter: a bateria. Foram vários, vários dias no modo stand by. O aparelho foi mantido ligado no Carnaval inteiro e sobreviveu. Usando o produto em ligações, conexões e tudo mais, ele também não fez nem um pouco feio. Com três dias de uso, a bateria ainda estava de pé. Impressionante - confesso que nem lembrava de uma época em que as baterias dos celulares duravam tanto.

Os mapas da Nokia também estão no 311 - mas use somente em caso de emergência. Sim, estamos falando de um produto de entrada, então tudo deve ser relativizado. Dependendo do caso eu ainda ia preferir consultar o velho Guia de ruas em papel do que o Mapas para S40. Lento, quase irritante. Mas, de novo, se você não tiver outra opção, ele pode ser bem útil para traçar rotas, achar locais e  salvar favoritos.

Redes Sociais
Como falado acima, o produto conta com diversos apps oficiais das principais redes feitos com exclusividade. Quer dizer, o Foursquare, Twitter e Facebook estão lá. O produto também traz um bizarro ícone do Orkut por lá - tudo bem que o telefone é popular, mas o povo ainda acessa isso?

Se quiser utilizar suas redes sociais no Asha 311, opte pelos apps individuais. Porque a Nokia também oferece o Social, um agregador de redes que, supostamente, facilita sua vida mostrando todos seus feeds em apenas um local. Fuja disso. O app é lento e tem interface ruim - aliás, um legado que vem desde os tempos de N8.

Câmera
A câmera do Asha 311, de 3.2 megapixels, é razoável. Também fiz um vídeo, mas não o postarei aqui. Vejam uma foto tirada com o Asha 311 e outra com o Lumia 800, com câmera de 8 megapixels. Lógico que essa comparação é injusta, mas serve apenas para propósitos de referência.

Foto tirada com o Asha 311

Foto tirada com o Lumia 800
Como viram, a foto do Asha 311 não ficou ruim. Mas, se você curte fotografar com um celular, o Asha 311 não é o mais indicado, quem sabe até em sua categoria. Ah, e ele não tem flash.

Teclado
Nos primeiros modelos de Symbian touch (N97, em especial), uma das grandes críticas ao produto ia ao teclado virtual. Pois ele não possuía layouts QWERTY na vertical, apenas o velho T9 em formato digital. A Nokia corrigiu isso com o tempo e o layout do teclado do Asha 311 foi uma grata surpresa. Exige, sim, uma curva de aprendizado. As letras são pequenas e, à primeira vista, você provavelmente pensará que jamais irá conseguir digitar naquilo. Mas consegue. Com um touch capacitivo bem resolvido, o Asha 311 permite uma boa digitação com um relativo conforto.

O teclado do Asha 311 ao lado do N9: assim como o irmão mais velho bastardo, o teclado também pode ser recolhido com um swipe pra baixo

Internet
Navegar na internet no Asha 311 é bom e ruim. O navegador criado para o sistema, que comprime as páginas, deixa o carregamento das páginas mais rápidos. Mas a tela pequena é um problema. Também não existe o clássico pinch to zoom, o que faz qualquer um ficar "pinçando" a tela à toa. Somente após algumas tentativas você aprende que esse gesto não serve pra nada. A conexão Wi-Fi ajuda bastante na rapidez, apesar do produto também contar com conexão 3G. Para quem não curtir o navegador nativo, a loja conta com o Opera Mobile, sempre uma boa alternativa (eu só usava ele no meu velho C7).

Resumo
Na loja oficial da Nokia, o Asha 311 custa R$ 399. No Submarino, achei por 349. Aí muitos blogueiros e jornalistas por aí pensam: "esse produto é lento e limitado". Bem, meus amigos, por R$349 eu digo que está ótimo. Você leva um N9-wanna-be que pode até ser smartphone de vez em quando, com mapas, Wi-Fi, 3G, 40 jogos (pra baixar) de graça, câmera razoável, vídeo, internet (relativamente) rápida, um touch honesto e loja de aplicativos com milhares de itens. Nesta faixa de preço, a briga com os Androids de entrada é dura. Nunca testei um Android de entrada, então fica difícil a comparação. Basta dizer que o 311 foi aprovado no meu.

É isso, espero que tenham gostado! Quem sabe um dia eu volto com um novo telefone - se me empolgar, quem sabe eu abro um blog só pra isso. Tanta gente faz por aí...