quarta-feira, 8 de maio de 2019

Teste - Citroën C4 Cactus

Passei duas semanas com a nova aposta - e uma das mais importantes em sua história recente no Brasil - da Citroën, o C4 Cactus. Será que vale a pena a compra?



Estive com a versão THP Shine, que tem o valor sugerido de R$ 102.790. A versão básica parte de R$ 69.990 - mas claro que muitos dos mimos aqui não estarão presentes. Ah, tem a versão PCD também.

POR FORA

A primeira impressão que você tem é o visual do carro. O C4 com seu tom bicolor (lembra daqueles carros antigos do seu avô que eram assim? Bem, parece que isso está voltando). Ao todo, são possíveis 14 combinações de cores, alternando o teto com o corpo do carro. A combinação que ficou comigo foi a cor "de divulgação", que aparece em todos os materiais promocionais, que é EMERAUDE BLUE/BLANC BANQUISE (isso mesmo).



Mas é possível encontrar outras por aí. Ainda que o Cactus não seja extremamente popular quando andei pelas ruas de São Paulo, próximo à PSA (escritório da Peugeot / Citroën), encontrei vários estacionados. E fiquei chocado ao ver que a maioria era...prata. Brasileiro é um povo meio medroso, né? Aquele velho medo de "perder dinheiro na revenda" por ser uma cor muito diferente do preto / prata.

De qualquer forma, a cor realmente chamou a atenção. Não raro, peguei pessoas olhando para o carro e, em um caso mais surpreendente ainda, fui abordado por meninas na porta de um prédio (que deviam estar esperando um Uber ou coisa assim) quando estava saindo para pegar o carro estacionado na rua. Quando falei que aquele carro era meu, elas disseram que só queriam elogiar mesmo, que tinham achado o carro lindo.

Então é isso. O Cactus por fora chama a atenção ao ser um SUV compacto (a bola da vez e, parece, o novo queridinho do brasileiro - eu gostava tanto de você, hatch) com um certo ar de agressividade. Suas dimensões ligeiramente menores quando comparado a um SUV padrão não o deixam por baixo. Ele parece nervoso - e é também, com aquele motor THP dentro (mas já falo disso adiante).



A rodas aro 17'' diamantadas também chamam a atenção. Detalhes estão espalhados por todo o carro. O C4 Cactus é um produto brasileiro, quase que inteiramente concebido por aqui mesmo, a começar pelo design exterior.

POR DENTRO

Quando você entra no carro, a sensação continua muito boa. A impressão de bom acabamento é notória. Os bancos em couro com costura aparente encaixam perfeitamente com o design interior. Há um bom espaço interno - não é um carro enorme, entenda isso. Aliás, muita gente acha que somente o fato de ser SUV quer dizer que o carro é grande. E não é bem isso. O que caracteriza um SUV, essencialmente, é sua altura - com uma suspensão mais elevada, ele fornece uma experiência de direção um pouco superior aos demais - tecnicamente falando apenas.

O painel de instrumentos é simples e funcional. O volante é um pouco mais reduzido do que a média - mas não chega a ser um iCockpit como da irmã Peugeot - e também tem um acabamento premium. Confesso que achei ele um pouco "duro" em alguns momentos. Senti falta daqueles volantes com alguma espuma mínima, que você pode apertar quando o trânsito está no seu auge.



O sistema de entretenimento funciona bem. Uma tela com ótima resolução (não entrarei nos detalhes de especificação). Achei o layout para rádio um pouco confuso, entre as guias para "memória",  "banda", "frequência". 

O sistema também oferece os essenciais Android Auto e CarPlay, respectivamente do Google e Apple. E aí vem um erro crasso de design dos caras: a entrada USB do sistema fica na própria tela, basicamente no meio do painel. Isso quer dizer que, como ambos os sistemas somente funcionam com cabo, você precisa ficar com um cabo esticado no meio do carro praticamente o tempo todo. Sério que ninguém de design pensou nisso? E, pelo jeito, o problema parece estar em toda a família, já que estou agora com um Peugeot 2008 e, de novo, lá está o USB na tela. E pensar que o Fiesta 2014 da família que temos aqui tem o USB escondido próximo ao freio de mão...

Mas o ser humano se adapta. E com o tempo você esquece que tem um cabo ali, juro.

 O ar condicionado é digital, mas não é bizone. Funciona muito bem, apesar de que achei as saídas de ar um pouco confusas. O fechamento delas não é padrão, por meio de um botão que deslizamos ao lado. Fiquei na dúvida quando a saída estava fechada ou indo para um determinado lado. Mas isso também é adaptável.

Sou um fã de "porta-trecos". Bem, O Cactus não é uma referência nessa área. No painel central há um pequeno compartimento para dois copos, algumas coisinhas e só. Entre os bancos, não há um suporte para o braço (justo agora que estava acostumando!). Há um dispenser central, não muito grande, para guardar tranqueiras também. Há, claro, os dois porta trecos nas laterais das portas e é basicamente isso. Confesso que até hoje sinto falta daquele maravilhoso porta-trecos que o VW Polo oferecia embaixo do banco. Que sacada.




O volante multifuncional funciona bem. É bem parecido com o sistema da Peugeot, com rodinhas que deslizam para diferentes funções. A Citroën parece preocupada com ajustes de volume, no entanto. Há três opções para controlar o volume no carro: 1) no próprio volante (e, apertando os dois botões ao mesmo tempo, ele muta); 2) na tela touch (por meio de um símbolo + e -); e 3) com uma tradicional bolinha que lembra o som que tinha no Fusca dos meus pais. E, talvez seja fruto da minha idade, ou coisa da geração, eu até usava o sistema do volante, mas o que eu mais gostava era girar a bolinha no painel. :-)

O C4 Cactus herda algumas tecnologias que começaram a chegar por aí e já estão presentes no primo (irmão? Tio?) mais velho, o Peugeot 5008. Isso inclui o aviso de mudança de faixa e o sensor de proximidade. Achei os dois legais, mas um pouco irritantes em alguns momentos (eles podem ser desabilitados nas configurações do carro).



O primeiro, basicamente, te avisa se você começa a mudar de faixa lenta repentinamente. Talvez seja mais útil na estrada, em um momento de cansaço. Na cidade, quando você faz todo tipo de manobra por N razões, ele exagera um pouco. Por exemplo, tive que passar pela contramão em uma rua aqui perto pq a faixa estava bloqueada por um caminhão. Lá vai ele começa a apitar.

O sensor de proximidade é mais ou menos a mesma coisa. A ideia, de novo perfeita para estrada, é que ele perceba quando há uma parada repentina a sua frente. Se você não notar a tempo, o carro freia por você. Claro que há situações em que nem o sistema conseguiria evitar, mas mesmo assim, sensacional, não? Bom, no uso diário da cidade, ele incomoda um pouco de vez em quando. O anda-para de São Paulo é constante e, muitas vezes, parece que o trânsito andou, mas não andou de verdade. E, quando o sistema percebe que o carro a frente está próximo, a tela touch corta a imagem e exibe um aviso de segurança.

Vidros automáticos, up and down, mas algo incomoda: não há como fechar os vidros pela chave quando você já saiu do carro. Sério:? Em 2019 você ainda precisa entrar novamente no carro, liga-lo e subir os vidros.

Falando em chave, isso é bem legal: ela tem aqueles sensores de proximidade também e você não precisa nem apertar nada quando está chegando no carro. Basta chegar com a chave no bolso e o carro abre segundos antes de você por a mão na porta. Isso é bastante útil especialmente se você está com as mãos ocupadas. O mesmo (quase) vale para sair: se você passar a mão pela maçaneta na hora de sair do carro, ele tranca automaticamente. Achei a função meio "boba" e usei pouco, mas está registrada. Ah, a partida é no botão. Nada a comentar aqui, só pra registro também.



O porta-malas tem capacidade para 320 litros, o que não é muita coisa. Para efeitos de comparação, meu Polo das antigas tinha 300 litros. Há sempre a opção de reclinar bancos, bi partidos e afins, mas não espere um porta-malas enorme. Aliás, não espere isso de muitos SUVs / crossovers compactos.

CONDUZINDO

Na hora de dirigir, o C4 Cactus mostra a que veio. O motorzinho THP embarcado nele é sensacional. Também não entrarei em detalhes aqui, basta saberem que o motor é turbo e fruto de uma parceria entre BMW e PSA. Pra quem gosta de dirigir e tem o pé pesado, o bichinho anda.

Como em outros carros da família, há a opção "eco" e "S", sendo a primeira uma tocada mais suave, esticando menos as marchas, e a segunda mais esportiva. O câmbio é automático de seis marchas, e não notei nenhum engasgo enquanto estive com ele. Sem dúvida é o melhor câmbio automático que já vi na PSA.

Outro ponto que gostei bastante: para os amantes do semi automático (ok, eu sou um deles), não há o "paddle shift" (borboletas atrás do volante - aliás, infelizmente acho que isso está morrendo), mas há a opção de usar o "pra cima / pra baixo" no próprio câmbio. Mas o Cactus corrige algo que muitos fazem errado: pra cima é pra reduzir a marcha, e pra baixo é pra aumentar a marcha. Isso é clássico, combina com a própria inércia do corpo e deixa a tocada muito mais gostosa. Estive com o Toyota Yaris há algum tempo e ele segue padrão (errado) de, pra cima, marcha aumenta. Como é frustrante você tentar levar o carro desse jeito!



A direção é ridiculamente macia; freios são incríveis. As rodas aro 17" ajudam a dar mais estabilidade nas curvas, mesmo em alta velocidade. O Cactus traz outros detalhes interessantes: faróis que ligam e desligam automaticamente, limpadores de para-brisa idem, aquela seta temporária que você dá quando vai mudar de faixa, sem precisar acionar a seta inteiramente). O carro é muito macio na tocada também. Quem ficou no banco de trás não reclamou de falta de espaço e, nas lombadas e buracos que infelizmente fazem parte do nosso dia dia, ele foi bem. O espelhinho interno, olha só, tem uma tecnologia que detecta luzes muito ofuscantes e se ajusta automaticamente. "Tipo uma lente Transitions",  me falaram. Ou seja, acabou a era de ficar fazendo aquele ajuste no espelho quando o sujeito de trás chega com farol alto na sua cara. Tem câmera de ré, mas não tem o sensor de estacionamento que apita (você acostuma, mas senti um pouco de falta no começo).

O VEREDITO

O Citroën C4 Cactus se mostrou um carro bastante versátil, com um design bem diferente do que encontra por aí (a não ser que você lamentavelmente escolha um prata), um pacote de acessórios e opcionais bem completo. Não tem um espaço interno tão grande assim, o que pesa um pouco contra se isso é importante pra você. 

Talvez a versão shine por mais de 100k possa ser um pouco demais por tudo que o carro oferece, mas definitivamente ele se torna bastante competitivo em versões inferiores - que, vamos combinar, continuam oferecendo o que realmente importa - embora eu admita que voltar para os motores convencionais após experimentar o THP é...triste. De qualquer forma, o C4 Cactus marca uma nova fase para a centenária (agora, em 2019) Citroën. E, se isso é um gostinho do que ela trará nos próximos 100 anos, eu gostei.