quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Água na Caipirinha
Por Luís Joly

A conclusão da etapa japonesa da Fórmula 1 acabou por revirar totalmente a decisão do campeonato. Tudo se mostrava favorável para o alemão, que, como em um roteiro ao melhor estilo de Hollywood, sairia triunfante, com seu oitavo título, rumo à merecida aposentadoria. Talvez a quebra de seu motor – algo raro – até seja parte desse roteiro, mas a verdade é que mesmo os mais fanáticos tifosi mostram-se muito confiantes para uma surpresa na derradeira etapa brasileira. Alonso recebeu a vitória no colo, e viu-se no pódio exatamente a imagem inversa do resultado da etapa Chinesa, 1 semana antes. Massa, isolado e cercado por seus rivais, fez o papel que coube a Alonso na China.

Para o Brasil, uma série de desilusões servem de registro na última semana. A primeira, ainda sombra da etapa anterior, na China, em que tanto Massa como Barrichello envolveram-se em acidentes pouco convincentes e fizeram feio. No caso do piloto da Honda, o caso foi ainda pior, já que notoriamente trombou-se com o alemão Nick Heidfeld, de maneira no mínimo estapafúrdia, e saiu ileso de uma punição severa por parte da FIA.

Nos treinos do Japão, Massa parecia ter se redimido com a conquista da pole em cima de seu companheiro, mas ao longo da prova acabou perdendo o segundo lugar para Alonso – que, mais tarde, tornaria-se liderança com o abandono de Schumacher.

A segunda desilusão brasileira veio em forma de despedida. Suzuka, autódromo tão significativo para nossa história na categoria, despede-se na Fórmula 1 após ser usado pela primeira vez em 1987. Já naquele ano, inclusive, deu o título a Nelson Piquet, após o atabalhoado Nigel Mansell bater forte nos treinos e ficar fora da corrida. Suzuka pode até voltar no futuro, mas já não terá o mesmo brilho que teve no passado. No curioso circuito em formato de “8”, Nelson Piquet e Ayrton Senna deixaram suas marcas, com quatro títulos. Desde o último, de Senna em 1991, a pista não teve mais a mesma importância para o Brasil. Mesmo assim, deixará saudade.

Alonso, ao vencer uma corrida que não trazia bons prognósticos a ele, portou-se como melhor amigo de todos os integrantes da Renault. Nem de longe lembrava o sisudo jovem que passou a semana atacando seus próprios companheiros, acusando-os de não o favorecer na equipe. Pelo contrário, lembrava muito mais Michael Schumacher, que vibrou como nunca na China. No Japão, Schumacher mostrou mais uma vez que os tempos em que trocava sopapos com seus companheiros se foram. Resignado, chegou aos boxes cumprimentando colegas de trabalho, e revelando nas facetas de seu rosto a impotência de todo piloto ao ver que seu carro o deixou na mão na pior hora – se é que exista alguma hora boa para quebrar.

Por fim, a última e pior desilusão da terra do samba. A vitória de Alonso sem que Schumacher sequer figure entre os demais sete que pontuam é uma decepção para todos por aqui. Os comerciantes, que estamparam “O Duelo Final” em outdoors, com o rosto dos dois protagonistas na luta pelo título, certamente temem pelo pior. A torcida, que muito lutou para conseguir um ingresso, teme enfrentar o caótico trânsito paulistano para ver uma prova monótona. Até mesmo a Rede Globo já deve estar menos confiante em um excelente índice de audiência.

É certo que o título não está definido, mas a quebra no motor do alemão faltando 17 voltas foi uma verdadeira ducha de água fria. Pior; o impensado abandono caiu como água na caipirinha da torcida brasileira.

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