Às vezes corremos tanto que deixamos de registrar por aqui momentos importantes, e sonhos realizados.
Há algumas semanas realizei um. Fui a um show do Roberto Carlos, o Rei - afinal, se não dá pra ir no Rei original, vamos de Brasil mesmo (verde e amarelo, azul e branco também).
Ficamos (fui com a Pulga) no pior lugar, no mais barato e tão longe que, de onde estávamos, a pulga mesmo era o próprio Roberto - apenas um vago pontinho azul no palco.
Felizmente tínhamos os telões do Credicard Hall para nos ajudar, então, dava ao menos para ver o rosto dele, e até o cabelo, um pouco mais curto na franja do que o usual (mas sempre com os famosos mullets).
Tinha uma enorme curiosidade em saber como seria um show inteiro do Rei, não apenas o editado que vemos em CDs. Queria saber se ele estaria à vontade, se é do tipo que brinca com a platéia, ou faz como muitas bandas modernas, como o Skank, que se limitam a tocar as canções do set list e ir embora.
E foi exatamente do jeito que imaginava e queria. A banda abriu com uma longa introdução, que trazia pequenos trechos de canções (está na moda fazer isso?), até mesmo aquela "Homem de Aço", que adoro (esse não é o verdadeiro nome da música).
Abriu, claro, com "Emoções". Os aplausos eram tantos que por vezes ficava difícil de ouví-lo. Essa canção me lembra um pouco a clássica New York, New York, com o Sinatra. Embora não fale de uma cidade, é meio que um hino, não? Ah, claro, também ouvimos gritos de "gostoso", "delícia" e até piores - ou melhores, dependendo. A faixa etária? Muitas velhinhas, claro, mas também tinha gente jovem. Uma audiência bem mesclada, como deve ser.
Após "Emoções", como só podia ser: "Que prazer....Rever vocês!" Pra quê?! A platéia foi ao delírio com aquela frase tão manjada... Falem o que quiser, mas quando você está lá, mesmo a quilômetros de distância, o Rei é o Rei... Você se deixa contagiar pela atmosfera...
O repertório variou bastante, e deu pra notar o quanto o Acústico MTV, que ele fez em 2000, mudou o arranjo de várias canções. Após "Emoções", foi a vez de "Além do Horizonte", mas com um arranjo bem pior do que no disco desplugado. Uma decepção foi ver que a orquestra não incluía cordas (violinos), mas apenas um teclado meio karaoke. Vá lá. Os metais estavam bons, ao menos. O guitarrista também era show.
Algumas canções da Jovem Guarda também vieram, mas eu confesso que só conhecia as mais clássicas. Teve também o medley que eu já conhecia do disco ao vivo dele de 1990, em que ele vai, cronologicamente, saindo da Jovem Guarda até sua fase romântica dos anos 1970 (pra mim, a melhor), por meio de textos entre as canções. São todos decorados, claro, mas uma hora ele até perdeu o fio da meada quando um "gostoso!" saiu do meio da platéia (não foi a Pulga!). "Bicho, assim eu até esqueço o texto", confessou.
Teve aquele Cadillac que se inflou também, mas a música foi muito longa. Alguns ápices, na verdade: "Detalhes", com ele no violão, e a maravilhosa "Cavalgada", que estava fora do repertório e voltou, com uma performance especial da orquestra. O M.M.R (Momento Maria Rita) também esteve presente, com aquelas duas músicas que ele faz no piano - a pior é aquela que vai formando as iniciais do nome dela...
As minhas preferidas, no entanto, foram "Café da Manhã" e "Proposta", duas canções tão lindas que emocionam. Eu te proponho, na madrugada, você cansada...Te dar meu corpo, no meu abraço, fazer você dormir... Eu te proponho, não dizer nada. Seguirmos juntos, na mesma estrada... Que continua, depois do amor, ao amanhecer...
O encerramento, longo, foi com "Jesus Cristo". Longo mesmo, pois ele ficou dando rosas, e mais rosas, por pelo menos uns bons 10 minutos, enquanto a banda ia tocando o verso repetidamente. Saímos até antes dele acabar a canção, para evitar o trânsito.
Enfim, era algo que queria fazer há tempos. A idéia era ir com meu irmão, mas não foi possível. Afinal, um dia o cara vai morrer, e eu preciso falar para os meus netos que fui ao show do Roberto Carlos (mesmo que eles nem estejam interessado em saber disso).
Para quem quiser ouvir, gravei alguns vídeos. A gente se tromba um dia e eu mostro, estão todos nos celulares. A qualidade não ficou uma maravilha, nem o som, mas tudo bem. Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.