Entre as coisas mais lindas
que já recebi...
que já recebi...
Muita coisa mudou entre 2001 e hoje. O mundo era outro, tudo era bem diferente. E meu mundo também era outro. À época, ainda era um jovem adulto com visões bobas de jornalismo e sem saber direito o que fazer da vida.
Também era um alienado que pouco sabia do que se passava pelo mundo musical brasileiro. E uma pessoa muito especial me apresentou a Cássia Eller. Um pouco antes, na verdade. Foi em 1999 que fiquei sabendo quem era essa cantora. Mas foi em 2001 que ela me conquistou de vez.
Lembro quando vi o anúncio do "Acústico MTV Cássia Eller" pela primeira vez. Me chamou a atenção aquela versão mais rápida de Malandragem, com uma ritmada e animadora bateria de fundo.
Não demorou para que eu comprasse o CD, em um shopping - na verdade, comprei dois de uma vez, mas isso é outra história. E foi daqueles CDs apaixonantes, instigantes, completos e concretos, cheios de imperfeições maravilhosas. Cássia Eller sempre foi melhor ao vivo. Estava, àquela altura, atingindo apenas o início do auge de sua carreira.
Cantora de voz única, talentosa, seus discos anteriores nunca foram grandes sucessos. E não à toa. Confusos, incoerentes. A voz de Cássia ainda precisava ser domada, e suas músicas, melhor escolhidas (quem já ouviu aquela lamentável parceria com Edson Cordeiro em que ambos destroem I Can't Get No (Satisfaction) e A Rainha da Noite sabe do que eu estou falando). A parceria com Nando Reis começou a mudar isso, com o já bem-sucedido Com você, meu Mundo ficaria Completo, de 1999 (não comprei esse disco, mas o ouvi muito).
O formato Acústico MTV, em 2001, ainda tinha pano pra manga. Praticamente toda banda e artista grande dos anos 1980, por exemplo, gravou um (pense um pouco e confirme isso). Era uma boa chance de reviver antigos sucessos, se apresentar a novas gerações (leia-se "sair do ostracismo") e ainda ganhar uma grana. Vários são bem feitos e com qualidade interessante. Mas, pessoalmente, nenhum é tão rico em diversidade e sonoridade como o de Cássia Eller. Longe daquele visual masculinizado e punk que mantinha na década anterior, Cássia abre o show com o clássico francês Je ne Regret de Rien, surpreendendo a platéia e mostrando um lado até então desconhecido pra maioria.
Os sucessos que vêm a seguir apenas mostram como era possível versatilizar com a cantora. Além das releituras dos sucessos de Cazuza (Malandragem, Todo Amor que Houver nessa Vida), ela mostra personalidade com músicas da Legião Urbana (1º de Julho e Por Enquanto), flerta com sua banda favorita ao atrever-se (e sair-se bem) no hino Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, passa pelos Mutantes (Top Top), manda um hip hop (De Esquina) e ainda dá espaço pra Chico Buarque (Partido Alto), "meu verdadeiro pai", como ela diz durante o álbum.
Trata-se de um disco em que há rock, soul, blues, jazz, baladas, regionalismo e globalização. Poucos artistas no mundo, ao meu ver, conseguem juntar isso em um mesmo CD e ainda obter um resultado interessante.
A perda de Cássia Eller foi cruel, foi prematura, idiota. Cássia não teve tempo de mostrar o que poderia gravar ao mundo. Quando morreu, muitos a compararam com Elis Regina, o que é até injusto. A mãe de Maria Rita, mesmo com sua morte também precoce, conseguiu ao menos deixar um vasto e rico material. Hoje, é fácil imaginar como seria uma releitura de Cássia de outros clássicos franceses; tentar ouví-la cantando outros sucessos dos Beatles. Ou simplesmente pensar em sua voz quando saem os novos trabalhos de Nando Reis, por exemplo.
Tive a oportunidade de ir a um show da cantora, poucos meses antes de sua morte, durante a turnê do Acústico. Um dos melhores que já fui. Fiquei apenas frustrado por não ver Todo Amor que Houver nessa Vida no set list. Sem problemas. No lugar, ela mandou muito bem uma versão palhaça de Dancinha da Garrafa (aquela mesmo, do Gerasamba ou banda que o valha), o que garantiu muitos risos da platéia. E, acreditem, mesmo no formato acústico, ela não deixou de cantar Smells like Teen Spirit, do Nirvana.
Sei que um post sobre um álbum tão antigo pouco sentido faz agora. Mas, como falei, muita coisa mudou de 2001 pra cá. E o mais importante para justificar este texto: na época, eu não tinha um blog. Sei que isso são apenas palavras jogadas, mas deixo aqui meu registro. Esse disco, a pessoa especial do início do texto, tudo isso está na origens que remontam este mesmo blog.
E, entre as coisas mais lindas que já recebi, está a admiração pela música de Cássia Eller.
Obrigado!
Também era um alienado que pouco sabia do que se passava pelo mundo musical brasileiro. E uma pessoa muito especial me apresentou a Cássia Eller. Um pouco antes, na verdade. Foi em 1999 que fiquei sabendo quem era essa cantora. Mas foi em 2001 que ela me conquistou de vez.
Lembro quando vi o anúncio do "Acústico MTV Cássia Eller" pela primeira vez. Me chamou a atenção aquela versão mais rápida de Malandragem, com uma ritmada e animadora bateria de fundo.
Não demorou para que eu comprasse o CD, em um shopping - na verdade, comprei dois de uma vez, mas isso é outra história. E foi daqueles CDs apaixonantes, instigantes, completos e concretos, cheios de imperfeições maravilhosas. Cássia Eller sempre foi melhor ao vivo. Estava, àquela altura, atingindo apenas o início do auge de sua carreira.
Cantora de voz única, talentosa, seus discos anteriores nunca foram grandes sucessos. E não à toa. Confusos, incoerentes. A voz de Cássia ainda precisava ser domada, e suas músicas, melhor escolhidas (quem já ouviu aquela lamentável parceria com Edson Cordeiro em que ambos destroem I Can't Get No (Satisfaction) e A Rainha da Noite sabe do que eu estou falando). A parceria com Nando Reis começou a mudar isso, com o já bem-sucedido Com você, meu Mundo ficaria Completo, de 1999 (não comprei esse disco, mas o ouvi muito).
O formato Acústico MTV, em 2001, ainda tinha pano pra manga. Praticamente toda banda e artista grande dos anos 1980, por exemplo, gravou um (pense um pouco e confirme isso). Era uma boa chance de reviver antigos sucessos, se apresentar a novas gerações (leia-se "sair do ostracismo") e ainda ganhar uma grana. Vários são bem feitos e com qualidade interessante. Mas, pessoalmente, nenhum é tão rico em diversidade e sonoridade como o de Cássia Eller. Longe daquele visual masculinizado e punk que mantinha na década anterior, Cássia abre o show com o clássico francês Je ne Regret de Rien, surpreendendo a platéia e mostrando um lado até então desconhecido pra maioria.
Os sucessos que vêm a seguir apenas mostram como era possível versatilizar com a cantora. Além das releituras dos sucessos de Cazuza (Malandragem, Todo Amor que Houver nessa Vida), ela mostra personalidade com músicas da Legião Urbana (1º de Julho e Por Enquanto), flerta com sua banda favorita ao atrever-se (e sair-se bem) no hino Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, passa pelos Mutantes (Top Top), manda um hip hop (De Esquina) e ainda dá espaço pra Chico Buarque (Partido Alto), "meu verdadeiro pai", como ela diz durante o álbum.
Trata-se de um disco em que há rock, soul, blues, jazz, baladas, regionalismo e globalização. Poucos artistas no mundo, ao meu ver, conseguem juntar isso em um mesmo CD e ainda obter um resultado interessante.
A perda de Cássia Eller foi cruel, foi prematura, idiota. Cássia não teve tempo de mostrar o que poderia gravar ao mundo. Quando morreu, muitos a compararam com Elis Regina, o que é até injusto. A mãe de Maria Rita, mesmo com sua morte também precoce, conseguiu ao menos deixar um vasto e rico material. Hoje, é fácil imaginar como seria uma releitura de Cássia de outros clássicos franceses; tentar ouví-la cantando outros sucessos dos Beatles. Ou simplesmente pensar em sua voz quando saem os novos trabalhos de Nando Reis, por exemplo.
Tive a oportunidade de ir a um show da cantora, poucos meses antes de sua morte, durante a turnê do Acústico. Um dos melhores que já fui. Fiquei apenas frustrado por não ver Todo Amor que Houver nessa Vida no set list. Sem problemas. No lugar, ela mandou muito bem uma versão palhaça de Dancinha da Garrafa (aquela mesmo, do Gerasamba ou banda que o valha), o que garantiu muitos risos da platéia. E, acreditem, mesmo no formato acústico, ela não deixou de cantar Smells like Teen Spirit, do Nirvana.
Sei que um post sobre um álbum tão antigo pouco sentido faz agora. Mas, como falei, muita coisa mudou de 2001 pra cá. E o mais importante para justificar este texto: na época, eu não tinha um blog. Sei que isso são apenas palavras jogadas, mas deixo aqui meu registro. Esse disco, a pessoa especial do início do texto, tudo isso está na origens que remontam este mesmo blog.
E, entre as coisas mais lindas que já recebi, está a admiração pela música de Cássia Eller.
Obrigado!
3 comentários:
Lu eu achei esse texto lindo, sensível, e ponderado. Sim, pq você aprendeu comigo a ser fã da Cássia mas seu texto passa longe do fanatismo. Ainda tenho o segundo cd comprado por vc... E fiuei com saudade de ouvir tbm...
29 beijos da "pessoa especial" mencionada no seu texto!!
L.
;-)
Curtia muito Cássia na faculdade, alguns 2/3 anos antes dela fazer tamanho sucesso com o acústico... realmente ela era hipnotizante, e sua personalidade, ui!
Seu relato foi confortante com suas impressões e nos fez imaginar através de detalhes.
Sim, muito ela ainda poderia ter deixado de legado se tivesse tido a oportunidade como Elis.
Aliás, ainda hoje escutei um especial só sobre as duas, LINDO!
Toda vez que ouço aquele disco dela penso nisso... Quanto ela poderia ter feito, e jamais fará.
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