O Carlos saiu, como eu falei, mas simplesmente não consegue se desconectar da empresa. Fica mandando emails para a Ju o dia inteiro. Hoje, mandou um texto sobre os cinemas do centro, que eu publicarei aqui com os devidos créditos:
Caros,
A vida nos reserva surpresas, bem o sei. Mas ontem foi demais! Do alto da minha mulambice, ontem à noite resolvi ressuscitar meu programa predileto: centro velho, sanduíche de pernil no Estadão e, supra-sumo até aqui, cinema no centro. O único que restou, aliás, o Marabá. Os demais viraram igrejas evangélicas ou cinemas pornô.
R$ 3,50, com carteira de estudante. Faça as contas, cara Buischi, do quanto isso dá em artigos de
lojas de 1,99 ou esfihas do Habib´s.
O filme era, que diabos, razoável, do Cronnenberg. O audio era inaudível, a imagem desfocada no
início, a cadeira meio ensebada e rasgada. No teto, um pouco de estuque caído, aquele cal fininho caindo sobre as poltronas. Tudo parte dessa indumentária mágica, até aí dentro do prognóstico.
Mas dois novos fatos me levaram ao inexorável: não dá mais para assistir cinema no centro. Não que eu tenha me rendido ao Kinoplex, longe disso, mas há limites ao tolerável. E as portas do banheiro semi-abertas, cortinas caindo ao lado da tela (aquilo era tela mesmo?), uma penumbra irritante que me me irritou. Fora o cheiro de urina que empesteava o ambiente.
Tudo bem, com uma dose de boa-fé você dribla esses percalços, mas o gran finale estava por vir. Na saída, vi algo correndo entre as cadeiras. A princípio achei que era meio impressão de ótica, toda aquela mística do centro.
Centrei os olhos uma vez mais e vi um camundongo passeando entre as indefectíveis poltronas.
Pulava o desgraçado, corria alegremente como que metaforizando que aquele era o seu lugar, eu já não pertencia àquele ambiente.
Subi a Augusta a pé, aquela vaguidão noturna, mas o maldito rato não me saia da cabeça.
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