Os 50 anos da Kombi
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Você já parou pra pensar em quantas Kombi novas você vê ao longo do ano? Nenhuma. Mas, acredite se quiser, a Kombi ainda é fabricada. Então onde estão os modelos com cheiro de carro novo, brilhando e com motores bem regulados? Este veículo em formato de pão de forma, que já simbolizou tanto para diversas gerações, sobreviveu ao tempo e ainda infesta nossas ruas todos os dias. Aparentemente, alguém na Volkswagen esqueceu de avisar a divisão de montagem da Kombi que eles podiam parar. Então, eles continuam. Simples assim.
A Kombi fez 50 anos. Há motivos para comemorar. É o primeiro carro produzido no Brasil. Note: o primeiro, mas ainda é produzido. Como resultado, ao contrários de seus contemporâneos originais, caso do Fusca e do Karmann Ghia, a Kombi não fez questão nenhuma de tornar-se um objeto de colecionador e decorar museus de carros e memórias dos mais antigos. Claro, trata-se de um carro que, desde seus primórdios teve como função básica o transporte de "muita", de uma vez só - seja esse "muita" relativo à pessoas, materiais, equipamentos, suprimentos e o que mais a imaginação do dono permitir.
O que me intriga mais, porém, é a questão das Kombi vistas por aí serem sempre velhas. Talvez seja por esse motivo que a expressão “Kombi velha” tornou-se quase um pleonasmo. Será que elas saem de fábrica aos pedaços, assim ficam mais baratas (uma Kombi nova hoje custa cerca de R$ 35 mil)? Afinal, é golpe de sorte, quase uma loteria, achar este modelo em bom estado trafegando por alguma via. E, claro, como estamos falando de um carro velho (e não “antigo”), ele também é lento. E sujo. Tem setas quebradas e é pilotado, comumente, pelos menos atentos e preparados motoristas que já foram honrados com uma habilitação – geralmente vencida ou comprada.
Deixei para escrever isso somente neste ano de "celebração". Mas já há alguns anos que eu desenvolvi a teoria de que, quase sempre, a razão do trânsito ruim é uma Kombi velha. Partindo deste princípio, decidi que jamais, enquanto estivesse com um carro em mãos, ficaria atrás de uma Kombi.
Dá azar.
E note: a lei de Murphy, tão famosa em nosso cotidiano viário, nem mesmo ela consegue vencer o poder de uma Kombi em frangalhos. Sendo assim, quando vir uma Kombi na faixa da esquerda, por exemplo, mesmo estando a faixa mais vazia e aparentemente mais rápida que a da direita, não se deixe enganar: a faixa da Kombi irá sucumbir. A sensação de vitória pode durar alguns segundos, mas é questão de tempo. A Kombi velha fará alguma conversão proibida e causará um buzinaço coletivo, ficará com a segunda marcha “engripada” por preciosos segundos – aqueles que farão a diferença entre o sucesso ou fracasso do seu compromisso posterior - , ou simplesmente resolverá pedir arrego, soltando o famoso monóxido de carbono atmosfera – e seu nariz – afora.
Para você, sobra mudar de faixa, vendo a Kombi carregadas de madeiras, com a pintura oxidada e adesivos constrangedores como “Nois na frita” parada, enquanto os motoristas dela saem para verificar o motor e tentar mais alguma “gambiarra”, que resolverá o problema - por mais 40 minutos, até a mesma coisa acontecer.
A Kombi que um dia já foi - Na minha família, reza uma lenda de que um dos meus tios, hoje um empresário bem-sucedido, atravessou as Américas numa Kombi. Ambientada nos loucos anos 70, essa aventura deve ter sido única. Afinal, naquela época, ouvir o som do motor de uma Kombi não era sinal de que havia algo errado no trânsito. Era até romântico ter uma Kombi colorida e grafitada com símbolos da época. Havia toda uma aura mística em torno deste carro cinqüentenário. Infelizmente, ele não parou no seu auge, como deveriam fazer tantos jogadores de futebol. O resultado? Toda essa seara foi tragada pelo papel arranca-toco e quebra-galho que o carro cumpre hoje.
Talvez a Volkswagen devesse aprender com Fidel Castro - até ele, que assumiu quase no mesmo ano do nascimento da Kombi, já pediu arrego. Sim, sabemos que sempre existirão novas “Kombis”, mascaradas por outros nomes e marcas distintas. Mas talvez fosse hora de colaborar com o aquecimento global e dar ao velho pão de forma o merecido descanso. O trânsito nosso de cada dia agradece.
Um comentário:
Pergunta: será que as novas ainda pegam fogo? sim, pq as velhas pegavam! Com certeza vc já viu uma Kombi no acostamento pegando fogo.
bjones
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