domingo, 6 de abril de 2008

Os 50 anos da Kombi

Apareceu uma na sua frente? Mude logo de faixa. Dá azar ficar atrás de Kombi.

Você já parou pra pensar em quantas Kombi novas você vê ao longo do ano? Nenhuma. Mas, acredite se quiser, a Kombi ainda é fabricada. Então onde estão os modelos com cheiro de carro novo, brilhando e com motores bem regulados? Este veículo em formato de pão de forma, que já simbolizou tanto para diversas gerações, sobreviveu ao tempo e ainda infesta nossas ruas todos os dias. Aparentemente, alguém na Volkswagen esqueceu de avisar a divisão de montagem da Kombi que eles podiam parar. Então, eles continuam. Simples assim.

A Kombi fez 50 anos. Há motivos para comemorar. É o primeiro carro produzido no Brasil. Note: o primeiro, mas ainda é produzido. Como resultado, ao contrários de seus contemporâneos originais, caso do Fusca e do Karmann Ghia, a Kombi não fez questão nenhuma de tornar-se um objeto de colecionador e decorar museus de carros e memórias dos mais antigos. Claro, trata-se de um carro que, desde seus primórdios teve como função básica o transporte de "muita", de uma vez só - seja esse "muita" relativo à pessoas, materiais, equipamentos, suprimentos e o que mais a imaginação do dono permitir.

O que me intriga mais, porém, é a questão das Kombi vistas por aí serem sempre velhas. Talvez seja por esse motivo que a expressão “Kombi velha” tornou-se quase um pleonasmo. Será que elas saem de fábrica aos pedaços, assim ficam mais baratas (uma Kombi nova hoje custa cerca de R$ 35 mil)? Afinal, é golpe de sorte, quase uma loteria, achar este modelo em bom estado trafegando por alguma via. E, claro, como estamos falando de um carro velho (e não “antigo”), ele também é lento. E sujo. Tem setas quebradas e é pilotado, comumente, pelos menos atentos e preparados motoristas que já foram honrados com uma habilitação – geralmente vencida ou comprada.

Deixei para escrever isso somente neste ano de "celebração". Mas já há alguns anos que eu desenvolvi a teoria de que, quase sempre, a razão do trânsito ruim é uma Kombi velha. Partindo deste princípio, decidi que jamais, enquanto estivesse com um carro em mãos, ficaria atrás de uma Kombi.
Dá azar.

E note: a lei de Murphy, tão famosa em nosso cotidiano viário, nem mesmo ela consegue vencer o poder de uma Kombi em frangalhos. Sendo assim, quando vir uma Kombi na faixa da esquerda, por exemplo, mesmo estando a faixa mais vazia e aparentemente mais rápida que a da direita, não se deixe enganar: a faixa da Kombi irá sucumbir. A sensação de vitória pode durar alguns segundos, mas é questão de tempo. A Kombi velha fará alguma conversão proibida e causará um buzinaço coletivo, ficará com a segunda marcha “engripada” por preciosos segundos – aqueles que farão a diferença entre o sucesso ou fracasso do seu compromisso posterior - , ou simplesmente resolverá pedir arrego, soltando o famoso monóxido de carbono atmosfera – e seu nariz – afora.

Para você, sobra mudar de faixa, vendo a Kombi carregadas de madeiras, com a pintura oxidada e adesivos constrangedores como “Nois na frita” parada, enquanto os motoristas dela saem para verificar o motor e tentar mais alguma “gambiarra”, que resolverá o problema - por mais 40 minutos, até a mesma coisa acontecer.

A Kombi que um dia já foi - Na minha família, reza uma lenda de que um dos meus tios, hoje um empresário bem-sucedido, atravessou as Américas numa Kombi. Ambientada nos loucos anos 70, essa aventura deve ter sido única. Afinal, naquela época, ouvir o som do motor de uma Kombi não era sinal de que havia algo errado no trânsito. Era até romântico ter uma Kombi colorida e grafitada com símbolos da época. Havia toda uma aura mística em torno deste carro cinqüentenário. Infelizmente, ele não parou no seu auge, como deveriam fazer tantos jogadores de futebol. O resultado? Toda essa seara foi tragada pelo papel arranca-toco e quebra-galho que o carro cumpre hoje.

Talvez a Volkswagen devesse aprender com Fidel Castro - até ele, que assumiu quase no mesmo ano do nascimento da Kombi, já pediu arrego. Sim, sabemos que sempre existirão novas “Kombis”, mascaradas por outros nomes e marcas distintas. Mas talvez fosse hora de colaborar com o aquecimento global e dar ao velho pão de forma o merecido descanso. O trânsito nosso de cada dia agradece.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pergunta: será que as novas ainda pegam fogo? sim, pq as velhas pegavam! Com certeza vc já viu uma Kombi no acostamento pegando fogo.

bjones