terça-feira, 15 de abril de 2008

A velha postura da imprensa brasileira

Que fique bem claro, o sentimento abaixo não tem relação com o terrível fato que originou o sentimento aqui descrito.

A imprensa brasileira, seja televisiva, online ou escrita, abusa da paciência de todos nós, receptores. Informar é importante, tocar no assunto mais de uma vez é necessário em alguns casos. Porém, informação demais sobre o mesmo tema é uma neurose, é enlouquecedor, é massante. Irritante, diria.

A razão disso, em especial, vem com o caso da menina Isabella. Mas poderia ser com qualquer outro. No acidente da TAM recentemente, nunca se falou tanto sobre manivelas de aviões. De repente, todos apareceram na TV, sites e afins, pronunciando gírias, expressões alusivas somente a quem está no meio da aviação.

Veja bem, é importante que o público possa saber qual foi a causa do acidente, quem foi o assassino, qual a sentença dada, alguns detalhes, entre outras informações. Não sou contra isso. Sou contra a overdose, o cansaço, a repetição de detalhes, a informação inútil. Sou contra o repórter ficar em frente ao local apenas para dizer que o movimento ali "está tranquilo neste fim de noite". Sou contra a superexposição das mesmas coisas, os aproveitadores que em nada contribuem.

Alguém já pensou o quão difícil é para familiares da menina (e não me refiro aos pais, mas a outros que a amavam) ligar a televisão, abrir o jornal, a revista, acessar a Internet e sempre dar de cara com a tortura de ver um caso se arrastando, com relatórios atualizados sobre quais os chinelos calçados na hora do crime? Pessoalmente, isso são informações úteis apenas para os envolvidos na resolução do caso - ou seja, a polícia.

O UOL, como bem notaram algumas pessoas, outro dia postou um "álbum de fotos" com os últimos momentos de Isabella antes de morrer, no supermercado. Ora, qual a informação nisso?! Qual a prestação de serviço, premissa básica do jornalismo?

Já o jornal "Folha de S. Paulo" publica matéria dizendo que agora até as crianças começam a comentar o suposto crime cometido. Ora, mas é impossível que elas não entrem no assunto, já que todo e qualquer meio de comunicação se sustenta no mesmo assunto por semanas a fio.

Produzimos neste começo de século mais informação do que nos últimos 40 anos. Infelizmente, porém, não há uma seleção do que é bom ou não. A grande questão é: será que queríamos um mundo assim, tão informativo?

4 comentários:

Eliza Lynch disse...

Sabe que eu nem tinha pensado no lado da mãe da menina exposta a esses mínimos detalhes que a mídia fica bombando.

É verdade, deve doer muito ficar vendo o tempo todo essas minuciasinhas. Não poder ligar a tv pra desligar um pouco a cabeça do drama que ela ta vivendo.

Mas porque os eu blog chama "Teremos coisas bonitas pra contar"?

Luís Joly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Concordo.
É a clássica exploração da miséria humana.
Quantas "Isabellas" não existem pelo Brasil afora, esfomeadas, estupradas,abandonadas.Elas só não estão na televisão.
O apetite da mídia pelo horror é insaciável.

Luís Joly disse...

E precisou ter o maior terremoto no país em mais de 80 anos para, finalmente, deixarem de falar sobre o caso da menina.