Quando criança, havia um encosto removível no banco traseiro do Santana dos meus pais. Adorava abaixá-lo e pôr meus braços ali. Sentia-me importante, mesmo com aquele tecido dando um pouco de aflição só de encostar.
O Santana era 1989. Quando fizemos uma curva bem fechada, abri a porta sem querer (adorava ficar mechendo no trinco) e quase fui arremessado pra fora do veículo. A curva ainda está lá, mas hoje, passando por ela a caminho do trabalho, quase nunca lembro daquele momento que, por alguns segundos, foi tão assustador pra mim.
A curva fica no caminho da casa da minha avó, já falecida. Casa imensa, família enorme. Família italiana, clássica. Nos almoços de domingos, era tanta gente que as mesas eram divididas: a dos adultos, a dos adolescentes e a das crianças. Cerca de 8 a 9 garotos e garotas, a mesa grande era alvo de todas as brincadeiras. A maior delas, jogar o capeletti nos copos de guaraná dos outros.
Nunca gostei dos pastéis da empregada, famosos. Quando comecei a gostar, já com meus 16 ou 17 anos, a empregada morreu e pouco guardei daquele sabor. Os demais, no entanto, ficaram: as cocadas, em formato de losango, estão sendo mordidas por mim agora mesmo. O já citado capeletti, e sua maciez recheada de molho de tomate que vejo no lugar deste teclado. O guaraná e a coca nas garrafinhas de 290 ml (que, hoje, todo mundo diz que é melhor dos que em lata) deixam os olhos vermelhos enquanto falo.
Por alguma razão, pouco me lembro de estar na mesa dos adolescentes. As crianças foram se tornando mais raras, e a mesa das crianças cresceu junto conosco. Jamais gostei da mesa dos adolescentes.
Perto do espaço das crianças, havia um microondas. Que tecnologia! Na tenra infância, aquele provavelmente devia ser um dos primeiros na região (e provavelmente funciona até hoje). Para mim, seu uso limitava-se a apenas uma função: pão francês (ou "pão de padeiro", como sempre chamamos em casa) esquentado com manteiga. A empregada colocava os pães dentro do forno. Trinta segundos depois, saíam fumegantes e amolecidos. A nós, crianças, não importava que, poucos milésimos após, ele já estava borrachudo e frio. O que importava era passar a manteira nele e devorá-lo gostosamente.
Na mesma bancada do microondas, havia um armário onde minha avó deixava o Estadinho (pra quem não sabe, a edição do "O Estado de S. Paulo" pra crianças). Todo domingo, quando eu entrava pela grande porta, já seguia à direita para pegar o jornal. Começava ali minha paixão pelo jornalismo? Não, ela já existia dos tempos de Tio Patinhas e Disney Especiais. Mas isso é outra história.
Por fim, quando entrava em grandes lojas de departamento, com minha mãe, adorava passar as mãos e os braços pelas roupas que estavam em araras circulares, espalhadas pelas lojas. A sensação na pele das roupas, uma depois da outra, raspando pelo braço, era ótima. Alguns setores, como os de camiseta de algodão, eram melhores. Os de pesados blazers, irritavam tanto quanto aquele fajuto arminho do encosto do banco traseiro do Santana 89.
Ainda assim, eu não podia imperdir-me de abaixá-lo e repousar ali. Saudades da infância.
O Santana era 1989. Quando fizemos uma curva bem fechada, abri a porta sem querer (adorava ficar mechendo no trinco) e quase fui arremessado pra fora do veículo. A curva ainda está lá, mas hoje, passando por ela a caminho do trabalho, quase nunca lembro daquele momento que, por alguns segundos, foi tão assustador pra mim.
A curva fica no caminho da casa da minha avó, já falecida. Casa imensa, família enorme. Família italiana, clássica. Nos almoços de domingos, era tanta gente que as mesas eram divididas: a dos adultos, a dos adolescentes e a das crianças. Cerca de 8 a 9 garotos e garotas, a mesa grande era alvo de todas as brincadeiras. A maior delas, jogar o capeletti nos copos de guaraná dos outros.
Nunca gostei dos pastéis da empregada, famosos. Quando comecei a gostar, já com meus 16 ou 17 anos, a empregada morreu e pouco guardei daquele sabor. Os demais, no entanto, ficaram: as cocadas, em formato de losango, estão sendo mordidas por mim agora mesmo. O já citado capeletti, e sua maciez recheada de molho de tomate que vejo no lugar deste teclado. O guaraná e a coca nas garrafinhas de 290 ml (que, hoje, todo mundo diz que é melhor dos que em lata) deixam os olhos vermelhos enquanto falo.
Por alguma razão, pouco me lembro de estar na mesa dos adolescentes. As crianças foram se tornando mais raras, e a mesa das crianças cresceu junto conosco. Jamais gostei da mesa dos adolescentes.
Perto do espaço das crianças, havia um microondas. Que tecnologia! Na tenra infância, aquele provavelmente devia ser um dos primeiros na região (e provavelmente funciona até hoje). Para mim, seu uso limitava-se a apenas uma função: pão francês (ou "pão de padeiro", como sempre chamamos em casa) esquentado com manteiga. A empregada colocava os pães dentro do forno. Trinta segundos depois, saíam fumegantes e amolecidos. A nós, crianças, não importava que, poucos milésimos após, ele já estava borrachudo e frio. O que importava era passar a manteira nele e devorá-lo gostosamente.
Na mesma bancada do microondas, havia um armário onde minha avó deixava o Estadinho (pra quem não sabe, a edição do "O Estado de S. Paulo" pra crianças). Todo domingo, quando eu entrava pela grande porta, já seguia à direita para pegar o jornal. Começava ali minha paixão pelo jornalismo? Não, ela já existia dos tempos de Tio Patinhas e Disney Especiais. Mas isso é outra história.
Por fim, quando entrava em grandes lojas de departamento, com minha mãe, adorava passar as mãos e os braços pelas roupas que estavam em araras circulares, espalhadas pelas lojas. A sensação na pele das roupas, uma depois da outra, raspando pelo braço, era ótima. Alguns setores, como os de camiseta de algodão, eram melhores. Os de pesados blazers, irritavam tanto quanto aquele fajuto arminho do encosto do banco traseiro do Santana 89.
Ainda assim, eu não podia imperdir-me de abaixá-lo e repousar ali. Saudades da infância.
4 comentários:
Que surpresa!!!!!
Nunca soube que voce não gostava dos famosos risoles da Leonor.
No resto, a lembrança é perfeita.
Os docinhos de coco.......só quem comeu que sabe.
Que lindo Jack, pelo visto sua infância foi muito prazerosa, que bom. É engraçado qndo nos pegamos a lembrar da nossa infância, td parecia tão diferente de hj, o mundo, as pessoas, os amigos...Uma vez no shopping Iguatemi eu estava com minha família, acho que na C&A, passando o braço nas roupas e acabou a energia, por um milésimo de segundo pensei que nunca mais iria ver a minha mãe novamente, pois não estava de mãos dadas a ela. Esse milésimo de segundos para mim pareceu uma eternidade...achei que ela estivesse do outro lado do mundo. Mas hj acredito que ela estava apenas a dois passo de mim, e tenho certeza que ela jamais me perderia...Bjs...
Arminho?
Muito bom...
Labiú
Adoro você cada vez mais!!!
Os assuntos que escolhe e a forma como escreve sobre eles é sensacional.
Mas sensacional mesmo é sua foto. Amei!
Ah, e vindo da família que você vem, meu bem... não tinha como ser diferente.
bj
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