segunda-feira, 2 de março de 2009

Trecho de um livro que não existe


Naquele momento, ele sabia que estava se despedindo. Sim, a viagem tinha volta, mas a amizade não. Eles já não eram mais as mesmas pessoas. O tempo, sempre ele, havia cobrado caro. O preço a pagar era o distanciamento de ambos.

Um chope ainda não machucava ninguém. Foram então. Triste notar, sem que nenhum dos dois precisasse falar, que as barbas em seus rostos escondiam um doce constrangimento. O silêncio de repente passou a ser um constante incômodo. O presente, um forte inimigo. O passado, o acalentante elo que os prendia.

Você ainda está com aquela moça, perguntou um deles. O outro explicou, de forma rápida, que há muitos meses ele já havia terminado o breve relacionamento. Nossa, ele não sabe mais nada do que está acontecendo comigo, pensou enquanto respondia. A solução eterna era apelar para velhas e batidas piadas. Que um dia haviam sido motivo para falta de ar de tanto rir. Anos depois, serviam como uma triste muleta para outra falta: em vez de ar, faltava assunto.

Poucos copos e o encontro acabava. Não sabiam quando se veriam de novo. Nem se. Pálido, o rosto de um exibia um sorriso nervoso, um olhar distante que um dia já tinha sido mútuo. Porém, os tempos de viagem mudaram.

Um frio cumprimento selou o chope. Gelado como a bebida, o rápido tapinha nas costas intercalou com outro na região do abdômen. Não choraram. Não havia motivo para isso. Estava tudo bem.

Somente os dois sabiam que não era verdade.

2 comentários:

Caru disse...

Já falei que adoro seus textos, né? Esse está perfeito.

Panqueique disse...

Nossa Luís, amei. Vi a cena, os vi sem graça, senti por eles.