domingo, 10 de maio de 2009

Barrichello consegue dormir à noite?*
O brasileiro fez tudo certo e não levou. Mais uma vez.


Confesso a vocês que queria abordar outro assunto na coluna* de hoje. Queria falar de Felipe Massa e como ele lutou, mais uma vez, com os problemas internos da Ferrari e fez uma ótima corrida. Falar de como a corrida na Espanha foi altamente profissional em comparação às anteriores no campeonato. E como a primeira corrida da temporada europeia tradicional mostra que a Brawn dificilmente será superada no ano todo.

Mas, me desculpem a insistência, é impossível deixar para trás o assunto Barrichello.

“Hoje não é dia para ficar triste. É dia de ficar alegre. Tenho de ficar satisfeito com o que eu fiz na corrida”. Palavras do brasileiro da Brawn. Claro, é muito mais confortável para este colunista abordar o assunto de longe, sem saber do que se passa dentro do motorhome da equipe inglesa. Mas, ainda assim, eu me pergunto o quão difícil foi para Rubens Barrichello pegar no sono na noite após a corrida.

Claro que ele deve ficar satisfeito com o que fez. Certamente Rubinho não entra em uma corrida para não vencer. Mas o fato é que não vence. E tem de lidar com adversidades incríveis. Sim, é de se imaginar como o brasileiro lida emocionalmente com tudo isso quando deita a cabeça em seu travesseiro. Barrichello deixou claro que Jenson Button copiou sua configuração para a Espanha. Portanto, o rival direto e líder do campeonato não só “clonou” seu carro para que ficasse igual ao do brasileiro. Ele mudou a estratégia, fez o mais fácil e ganhou a corrida sob as barbas de Rubens, que foi para uma estranha estratégia de três paradas.

Diz a Brawn que três pits sempre foi o plano A. Um plano que, entre os outros os pilotos no grid, apenas foi usado por Kazuki Nakajima, da Williams. Sim, só ele e Barrichello pararam três vezes. Para o japonês, talvez a estratégia fizesse algum sentido, na briga por posições intermediárias. Mas no caso de Rubinho, é impossível não questionar por qual razão não foram com o mais simples.

Uma corrida com três paradas planejadas é das mais arriscadas que existe. Envolve movimentação a mais no box, lugar onde sempre pode correr algo errado. Envolve uma agressividade e arrojo constante – o piloto tem que correr em ritmo de classificação o tempo todo. Envolve uma pista sem adversários, limpa o tempo todo, o que nem sempre acontece. Envolve um ritmo frenético e muito sangue frio, características que não são as mais marcantes de Rubens Barrichello. Portanto, para um líder em Barcelona, é muito mais previsível que uma estratégia com três pits seja o plano B, e não o A.

É fácil desenvolver teorias conspiratórias contra o brasileiro de longe. Mas, hipóteses à parte, Barrichello consegue subverter lógicas quase inabaláveis. Na Espanha, é muito raro o piloto que faz a primeira curva na liderança não ganhar a prova. Rubinho foi o mais rápido na pista catalã. E mesmo assim não levou. No pódio, exibia um sorriso e jogava o champagne no companheiro de equipe. Será que só eu fiquei com um sentimento de “como é possível que ele ainda esteja feliz assim”?

Nas entrevistas, Rubinho evitou a polêmica. Preferiu colocar panos quentes mais uma vez. Disse que vai exigir explicações dos engenheiros da equipe. Explicações que jamais serão reveladas.

Ou, quem sabe, serão um novo capítulo do famoso livro escrito pelo piloto que ele sempre fala.

RETA OPOSTA

Amarga lembrança
Há sete anos, também no Dia das Mães, Rubens Barrichello entregava a vitória para Michael Schumacher no infame GP da Áustria de 2002. O episódio pode ser relembrado. O tempo passou, e pelo jeito só foi o carro que mudou de vermelho pra branco.

Didi, Dedé, Mussum e Zacarias

Será que são esses os engenheiros da Ferrari? No treino, Kimi fica no Q1 por falta de planejamento. Na corrida, Felipe Massa tem de abrir mão de um bom resultado para não ficar sem gasolina. Existem 1001 maneiras de cometer erros. A Ferrari segue as inventando.

Mea culpa
Fui um dos que mais defendeu o sistema de título por vitórias. Cala-te boca. Com quatro vitórias de um mesmo piloto em cinco corridas, a temporada 2009 da Fórmula 1 poderia ser das mais previsíveis da história.

Mais dos homens de terno e gravata
Acabou o reabastecimento em 2010. Ótima decisão. Não veremos mais estratégias de passar no box, nem pilotos mais leves que fazem pole mesmo sem o mesmo talento de outros. A F-1 segue cada vez mais retrô.

* O texto acima é a coluna que escrevo regularmente para sites que cobrem F-1. Vou republicá-los aqui a partir de hoje. Para ver as colunas anteriores, clique aqui.

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