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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Para ajudar Schumacher, vale tudo


Estava devendo uma coluna sobre Michael Schumacher este ano. Afinal, confesso que fui um dos empolgados quando veio a notícia oficial de que o alemão estaria de volta às pistas da F-1 em 2010. Nostálgico que sou, é o máximo para mim ver um piloto que estava nos grids de 1991 e regressa em 2010. Uma volta de um campeão digna dos cinemas, das eternas lutas de Rocky Balboa.

Mas se a realidade imita a arte, nem sempre o contrário acontece. E o que vimos nas primeiras quatro corridas do ano foi uma realidade bem diferente do que estávamos acostumados, em relação à Schumacher: dificuldade para domar o carro, constantes classificações e chegadas atrás do companheiro e, o pior, ultrapassagens de todos, por todos os lados.

Depois da etapa chinesa, a coisa começou a ficar pior. Foi justamente nessa corrida que ele levou o maior número de ultrapassagens. No intervalo de três semanas sem GP, o agente do piloto, Willi Weber, afirmou que estava mais fácil achar uma virgem de 50 anos do que conseguir um patrocinador para Schumacher. Do outro lado, o alemão procurava se esquivar das críticas do público e cobranças da imprensa. Vinha afirmando que estava na F-1 para se divertir, e estava conseguindo fazer isso.

De fato, o heptacampeão não tem mais o que provar. Ele já superou todos os recordes significantes da categoria. Claro, ele sempre terá de conviver com as costumeiras análises que dizem que o piloto não teve rivais a altura depois da morte de Senna. Mas isso é muito subjetivo.
O que não se discute são resultados. E os de Schumacher, neste começo de ano, foram péssimos.

Coincidentemente, após o GP em Xangai a Mercedes anunciou que faria diversas mudanças no carro – que incluíam não só os famosos dutos para saída de ar – a invenção da vez -, mas detalhes como alterações no eixo do carro e aerodinâmica. Também foi nessa época que Michael admitiu que estava enfrentando problemas na condução do seu carro, e que não estava bem adaptado – enquanto, vale lembrar, o seu companheiro, o jovem Nico Rosberg, parecia totalmente pronto e já havia inclusive conquistado um pódio.

Chegamos ao fim do GP da Espanha, e o que vemos? Michael Schumacher chegou em quarto. Fez sua melhor corrida no ano. Segurou Jenson Button brilhantemente, foi arrojado e por pouco não teve um pódio. Rosberg? Um apagado 13º lugar, problemas em todo o fim de semana (largou atrás de Schumacher também) e uma declarada dificuldade para controlar o carro em sua nova versão.

Some dois mais dois para chegar a sua conclusão. Será que a Mercedes está disposta a modificar tanto o carro apenas para que Michael Schumacher possa dirigi-lo melhor, mesmo sabendo que não será o formato preferido pelo companheiro Rosberg – que vem conquistando bons resultados?

Some dois mais dois.

RETA OPOSTA

Frita Massa
Quatro vencedores em cinco corridas. Realmente, a F-1 está com um aparente equilíbrio, mesmo com uma vantagem considerável da Red Bull. Mas chamou a atenção o péssimo desempenho de Felipe Massa na Espanha – certamente o pior entre todos que postulam o título. Difícil aceitar que o brasileiro não conseguiu um bom acerto do carro em uma pista tão bem entendida por pilotos e equipes. Me parece algo errado com ele mesmo.

Cena sem brilho
Gostaria de entender até que ponto vale a pena para a carreira de Bruno Senna estar a bordo de um carro que anda quase na mesma velocidade dos carros da GP2. Aquela imagem do piloto indo reto na quarta curva do cirtcuito foi vexatória. Acho que era hora da família Senna refletir bem sobre isso.

Sonolenta Espanha
À parte da briga entre Button e Schumacher, o GP da Espanha foi medíocre. Sem novidades, claro. Desde 1991, quando entrou para o calendário, é assim. Quando será que vão perceber que essa pista é chata demais e só serve mesmo para testar?

domingo, 18 de abril de 2010

Eficiência ou espetáculo?

Parece clichê de início de temporada, mas não é: esse campeonato mostra-se um dos mais equilibrados da Fórmula 1 de todos os tempos. Massa, o líder na última prova, agora não está nem entre os cinco primeiros. Claro, como bem sabemos, muita água (sem trocadilhos) ainda vai rolar após o início da temporada na Europa “séria”, com a próxima etapa, na tradicional Barcelona. A síntese dessa primeira porção do calendário é feira por Fernando Alonso, após a China: “espero uma corrida normal de vez em quando”. Fato. Das quatro corridas que já rolaram este ano na Fórmula 1, todas tiveram fatores climáticos instáveis – alguns na corrida, outros apenas nos treinos, mas que com isso tornaram o grid de largada igualmente atípico.

O telespectador, claro, adora uma boa corrida com chuva – já brincam que os circuitos deveriam ter um sistema de irrigação no asfalto. Mas, para as equipes e pilotos, é um tormento – e isso vai muito além do óbvio fator extra de dificuldade devido às péssimas condições de visão e condução do carro. É ruim mesmo porque o carro e os pilotos não se desenvolvem. E todo o trabalho que é feito nos treinos, com pista seca e sol, de nada serve em verdadeiras loterias molhadas.

Mas a chuva potencializa duas características que se mostram predominantes este ano: o espetáculo e a eficiência. Espetáculo, que pode também ser chamado de Lewis Hamilton, como mencionei na última coluna. Não tenho os números aqui, mas não duvido que ele tenha sido o piloto que mais fez ultrapassagens até agora. De novo, para a audiência, nada melhor do que um ótimo piloto largando de trás, com um carro mais rápido que a maioria. Mas, para a McLaren, será que isso é realmente interessante? Não, certamente.

Do outro lado do grid (normalmente), Jenson Button, que chegou campeão e discreto no time para 2010, não preza pela agressividade. Prefere a discrição, sua característica mais forte. E, assim, sem provocar muitos sorrisos ou olhares espantados no público, já levou duas corridas no ano. Nas duas, fez a melhor estratégia de pneus e paradas, enquanto Hamilton trocava sopapos com o resto do circo, galgando suadas posições, uma a uma, para em seguida perdê-las de novo em uma rodada ou nova troca de calçados.

Qual dos dois leva? Impossível dizer. Quem foi melhor, Senna ou Prost? Torcedores fervorosos dirão Senna, claro. Era quem arriscava, ousava, errava, mas empolgava.

Mas, entre os dois, quem teve mais títulos na carreira?

RETA OPOSTA

Sempre atrás do alemão
Já faz tempo que estou devendo uma coluna só sobre o desempenho de Michael Schumacher na temporada. Mas estou postergando isso em prol de uma corrida melhor do campeão, que ainda não veio – e, honestamente, tenho medo de achar que pode não vir...

Fernando X Felipe
Finalmente apareceu uma faísca no duelo de Alonso, que vinha sempre aparecendo com Massa a sua frente nas corridas. Felizmente, Massa não reclamou da manobra. Já era hora do espanhol deixar claro que não vai ficar atrás do companheiro pra sempre.

Enfim, um horário de gente
Momento desabafo: finalmente, as corridas voltam para os tradicionais domingos de manhã, quando chegarem à Europa. Valeu a pena assistir a todas as provas até agora, mas os horários eram cada vez mais cruéis.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dá gosto ver o Lewis Hamilton correr

Hamilton na época do kart: o capacete já lembrava o de Ayrton Senna, seu eterno ídolo

Somos saudosistas por natureza. É do ser humano lembrar com orgulho dos tempos antigos, que os mais jovens não testemunharam. O “antigamente” é sempre melhor. Se seguirmos essa lógica e a aplicarmos ao universo da Fórmula 1, é fácil elogiar Lewis Hamilton, o piloto que evoca os grandes nomes do automobilismo - já falei sobre o estilo de pilotagem dele em outras colunas, mas nunca exclusivamente sobre isso.

Dá gosto ver o piloto da McLaren correndo. Hamilton é a antítese da obviedade, do previsível, na categoria. Uma combinação que parece unir Ayrton Senna, Gilles Villeneuve e Nigel Mansell em apenas uma pessoa. Hamilton talvez não seja o melhor piloto do grid. Para isso, é necessária uma combinação de diversos elementos, e isso talvez ele só consiga com o tempo – ou talvez não consiga nunca. Mas, fato é que ele é o mais rápido em momentos de adversidade.

O Grande Prêmio da Malásia, se não teve chuva no domingo, teve no sábado. E isso (somado a um erro de estratégia) ajudou no processo de colocar as duas Ferrari e McLaren no fim do grid. Naturalmente que os quatro pilotos fariam, de um jeito ou de outro, as ultrapassagens que precisavam para alcançar a zona de pontuação. Mas Hamilton vai além: ele arrisca mais que qualquer um. Enquanto muitos passaram apenas nos boxes, ele ousou, na pista, ultrapassar. O preço para isso é alto: entre genial e genioso, há uma linha tênue, e o jovem piloto alterna momentos maravilhosos com erros bobos. Mas garante a audiência da corrida e ganha uma legião de fãs em todo o mundo.

Lewis Hamilton ainda encaixa-se como uma luva nos planos de Jean Todt de fazer a F-1 voltar aos tempos de ouro, mas com a segurança de hoje. Mesmo que isso gere dúvidas. Na etapa malaia, mais uma vez o piloto da McLaren remeteu ao passado. Quando o valente Vitaly Petrov, da Renault, tentou recuperar a vaga roubada por Hamilton, viu o inglês “dançar” na pista, de um lado para o outro, evitando que o russo pegasse o vácuo para ultrapassá-lo. Esperada, diversas críticas por parte da Renault sobre a manobra, que lembra, em muito, o que Senna fazia com Alain Prost nas brigas de McLaren. Em uma delas, em Estoril, 1988, Prost reclamou após a corrida. Nada mudou, mesmo assim. Senna seguiu ousado até o fim da vida.

Pilotos como Lewis Hamilton sempre serão alvo de polêmicas, críticas, ofensas e dúvidas. Porém, isso não irá mudar a maneira como ele conduz seu carro. Sempre buscando a ultrapassagem, algo a mais e um segundo a menos. Talvez não sejam os maiores campeões da categoria, mas são sempre os mais admirados e lembrados nos especiais de TV e vídeos da internet.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Senna, 50

Já coloquei essa foto aqui antes. Pra mim, fantástica. O piloto, sem sua máquina. Desamparado, desligado do que mais necessita. E o rosto de Ayrton mostra bem isso. Clique na imagem, amplie-a, e veja com mais detalhes e tente interpretar esse momento.

Mesmo sumido do blog, faço questão de aparecer aqui apenas para deixar um registro sobre os 50 anos que Ayrton Senna faria.

Para mim, nada mudou. E continuo indo ao cemitério do Morumbi duas vezes ao ano, para prestar meus respeitos, desde 1995. A mídia apenas concentra as atenções quando os números são redondos.

Senna foi meu primeiro grande herói. Contribuiu muito na formação de minha personalidade. O tempo passou, claro, e hoje já não existe mais aquela idolatria. Já não recorto jornais, compro revistas e gravo especiais. Existe uma admiração, uma saudade gostosa. Uma tristeza de saber que o mundo perdeu o duelo que teria com Schumacher.

De seu legado, ficou minha paixão eterna pela Fórmula 1, pela velocidade, pelos karts. Ficou minha fé. Minha vontade de deixar algo pro mundo. E a certeza de que mesmo os heróis não duram pra sempre.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O amor e ódio por Barrichello

O cara não dá uma dentro no Brasil - mas a gente adora ele assim mesmo...

Talvez não exista na história do esporte brasileiro – e talvez não venha a existir – alguém que desperte sentimentos tão contrastantes em nossa torcida. O brasileiro ama o Rubinho. Porém, mais do que amá-lo, gosta mesmo é de falar mal dele. Falar mal do Barrichello é um esporte nacional. Afinal, são 17 anos com uma constante frustração, que começou a ganhar corpo após a morte de Ayrton Senna. Todo ano acontece a mesma coisa. Mas, todo ano, lá está a torcida, de novo esperançosa, de novo na expectativa. Firme e forte.

Neste domingo, em Interlagos, nosso Rubinho seguiu à risca o cardápio dos últimos anos. Nos animou no sábado para derrubar domingo. E, claro, após a prova, deu sua declaração bizarra do dia. Diz que saiu da pista com o “dever cumprido”. Eu fico me imaginando qual era esse dever: largar da pole e conseguir terminar a prova atrás do rival que saiu de 14º, além de perder a chance de ser campeão em solo nacional? Se era esse, ele não só cumpriu o dever como ganhou palma de ouro ao perder o segundo lugar no campeonato para Sebastian Vettel.

No meio do ano, escrevi uma coluna que falava da estrela de um piloto. Estrela? Sim, aquele “algo mais” que somente poucas pessoas têm. Aquilo que os diferencia da reles maioria – e isso vale para todos os setores da vida. Existe gente muito competente. Outros são oportunistas, ou têm sorte. Mas somente alguns são predestinados a brilhar.

Barrichello prova seu talento a cada corrida. A cada ano. Neste, em especial, mostrou uma maturidade ainda maior, mesclada com uma experiência que só a idade traz. “É um veterano com a vontade de um jovem de vinte e poucos anos”, me disse Nick Fry, o chefe de Rubens. De fato, o piloto da Brawn é elogiado às tampas por onde se passa no grid. Os mais jovens o invejam por ainda estar tão competitivo; os mais velhos não conseguem acompanhar o ritmo. O próprio Michael Schumacher declarou, após a corrida, que não deveria ter parado. Será que viu Barrichello disputando título e se arrependeu?

Tudo isso, no entanto, não adiantou para fazer com que Rubens Barrichello seja campeão. Ou, de forma mais humilde, para que apenas vença uma única vez a corrida de Interlagos. Vou ao GP do Brasil regularmente desde 1997. Na ocasião, Rubens estreava na Stewart e ainda era jovem. As críticas pós-corrida, no entanto, eram as mesmas de hoje. Em 1999, lembro-me quando ele ultrapassou Eddie Irvine, na Ferrari, na nossa frente. Comemoramos como se fosse gol.

A verdade é que amamos Rubinho. Amamos o que ele fez no sábado. E como conseguiu a pole nos segundos finais. Amamos sua caricata simpatia, suas bizarras declarações, sua sambadinha e até uma aparente teimosia em não aceitar a aposentadoria.

Mas também odiamos o Rubinho. Odiamos como ele freqüentemente chega atrás do companheiro de equipe. E como consegue encontrar erros que só ocorrem com ele. Odiamos suas bizarras declarações. Temos vergonha da sambadinha e imaginamos quando ele aceitará a aposentadoria e dará lugar a alguém mais jovem – incluindo o Bruno Senna.

Mas deixe estar. Em 2010, Barrichello estará conosco, novamente em Interlagos. Novamente vamos amá-lo no sábado. Odiá-lo no domingo. E criticá-lo na segunda.

Conversando com Bruno Senna

Emerson Fittipaldi e Bruno Senna no paddock de Interlagos

Bruno Senna não vê problemas em ser companheiro de equipe de Nelsinho Piquet

Na manhã da corrida, em Interlagos, Bruno Senna conversou rapidamente comigo. No papo, falou sobre a possibilidade de ser companheiro de equipe de Nelsinho Piquet, na estreante Manor, uma das equipes que ingressam à F-1 em 2010. "Não o conheço tão bem, mas não teria problema nenhum com isso", afirmou. Sobre as negociações que conduz, Senna diz que fala com algumas equipes e espera anunciar algo em breve. E, apesar de não ter problemas com Piquet, ele acha que o piloto demitido da Renault dificilmente terá uma nova oportunidade na categoria máxima do automobilismo. "Eu acho difícil. As equipes ainda têm muito receio em associar seus nomes aos dele (Nelsinho). Sei que ele está tentando algo, mas muita gente ainda não está confortável para contar com ele", finalizou.

Bruno Senna negocia com algumas equipes na Fórmula 1. Além da Manor, o brasileiro sobrinho de Ayrton Senna conversa com Campos e Force India.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O círculo vicioso no caso Piquet

Ainda vou falar mais sobre o assunto, mas por enquanto queria só mostrar o círculo vicioso criado pelo escândalo Piquet X Renault.

Um diz ao outro que nada disso é verdade. O outro nega, o primeiro acusa. Não é possível concluir nada, a não ser que o resultado disso será péssimo para todos:

1. Para a F-1, que simplesmente tem um magnetismo com escândalos nos últimos tempos e perde o tom de seriedade entre novos e atuais fãs;
2. Para a família Piquet, que fica imunda em um mar de lama. Para o pai, Nelson, uma mancha no currículo e um envolvimento exagerado na carreira do filho. Para Nelsinho, um possível fim em sua curta carreira na F-1 e a imagem de se agarrar na "saia" do pai;
3. Para a Renault, que já gasta milhões todos os anos com a F-1, categoria que ela cogitava abandonar. Uma crise tão grande que ultrapassa a seara do esporte e arranha sua imagem institucional. O que nos leva de volta a...
1. F-1, por outro motivo: uma eventual saída da Renault enfraquece a categoria. Equipes como Williams e Force India pensavam em usar os motores franceses ano que vem. Agora, podem rever seus planos.

Enfim, verdade ou mentira, é ruim para todo mundo. E agora, terá de ser investigado.

domingo, 23 de agosto de 2009

Valência, terra de brasileiros*
Em dois anos, dois brasileiros levaram. Quem será ano que vem?



No meio da década de 1980, a Hungria era um país bem familiar dos brasileiros. Lá, entre 1986 e 1988, Nelson Piquet e Ayrton Senna ganharam as três primeiras edições do então recém chegado Grande Prêmio da Hungria. Vários anos depois, o mesmo pode estar se desenhando em Valência, local que busca alcançar o status de Mônaco na Fórmula 1, com organização impecável, acabamento superior, facilidade de acesso e potencial turístico enorme. Em 2008, ano de estreia do circuito, Felipe Massa levou.

E não é que agora chegou a vez dele? Rubens Barrichello, o rei das declarações polêmicas, o eterno açoitado por imprensa e torcida (incluindo este colunista que vos escreve), logo ele, deu a centésima vitória brasileira nas pistas da mais famosa categoria do automobilismo. Vitória que contou com a perfeita fórmula talento + sorte. Talento porque Barrichello foi rápido quando precisou. Superou seus adversários no melhor estilo F-1 moderna – com ultrapassagens durante o reabastecimento. E sorte já que, quando não conseguiu alcançar o líder Lewis Hamilton, contou com uma providencial falha na segunda parada do inglês. Barrichello é a prova viva de que, se a F-1 abraça pilotos cada vez mais novos, os veteranos ainda têm seu valor. Veteranos como...

...Schumacher.

Já assistiram o lamentável “Em Alta Velocidade”, com Sylvester Stallone? No filme, o brasileiro Memo Moreno sofre um acidente. Para substituí-lo, eles resolvem trazer de volta o veterano e antigo campeão da categoria, Joe Tanto (claro, o Stallone). No filme, o ator que dá vida a Rocky e Rambo faz bonito, passeando nas pistas e ajudando o companheiro a conquistar o título da temporada. A vida real, porém, pode ser muito mais cruel.

O heptacampeão Michael Schumacher provavelmente não lembrou desse filme (quem lembra?), mas sabe que fama não ganha corrida quando voltou atrás, há alguns dias, e desistiu de tomar o lugar de Felipe Massa. Alegou dores no pescoço. Verdade ou não, tenho certeza que o alemão corria o risco de manchar o currículo em uma pista difícil. No lugar de correr um risco desnecessário, jogou a bomba para o pobre Luca Badoer – que, coitado, foi tão mal que até doeu. Se o roteiro for cumprido, Schumacher pode ter adiado seu marqueteiro retorno para pistas mais familiares, como Spa, onde é recordista de vitórias, ou Monza, onde é rei. Monza que, dizem, aguarda a chegada de...

...Alonso.

Na pausa da Fórmula 1, os boatos cresceram. Muitos colocam Kimi Räikkönen fora da Ferrari, para ceder lugar ao espanhol. Claro, todos negam, mas quando começam a falar demais de um assunto, é sinal de que tem algo pra valer na jogada. Alonso e Massa na mesma equipe? Longe de mim ser patriota, mas se o brasileiro voltar guiando do mesmo jeito que parou, será um páreo duro pro espanhol. Enquanto isso, sobrou para o ex-companheiro, Nelsinho...

...Piquet.

Nelsinho já mostrou em categorias menores que tem talento. Não é de se jogar fora e merece novas oportunidades na Fórmula 1. No entanto, está na hora de sair da barra da calça do pai e andar por méritos próprios.

Encerro esta coluna de análises amontoadas com a ótima notícia de que a temporada 2010 termina com o reabastecimento, reativado em 1994. Na época, a decisão foi criada para equilibrar a temporada, que vinha de dois anos (1992 e 93) dominados por apenas uma equipe. No cenário atual, o reabastecimento não era mesmo necessário mais. Já foi tarde.


*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.

domingo, 26 de julho de 2009

Mal estar nostálgico
O acidente de Felipe Massa, claro, só podia lembrar 1994





X




Imagens feitas pelo helicóptero. Carro batido. Suspense. Medo. Falta de informações (em um mundo onde elas chegam em todo momento). Ver as cenas da retirada de Felipe Massa do carro foi de um ruim nostálgico. Lembraram, claro, aquelas malditas imagens de 1994 que teimam em voltar. Que teimam em machucar e, infelizmente, ainda são referência.

Como se não bastasse a sensação ruim, o acidente de Felipe Massa foi ainda pior por um motivo: tragédia tem o hábito de virar moda. Lembrei de um ocorrido quando um ônibus em São Paulo perdeu uma roda, que saiu desgovernada pelas ruas e causou a morte de cidadãos despreocupados. Na mesma semana, o mesmo improvável acontecimento tinha sido notícia em outro canto da cidade. Parece que o destino deixa para coisas parecidas ocorrerem em tempos próximos. No caso do assunto desta coluna, quem está ligado em automobilismo certamente lembrou de Henry Surtees, jovem piloto da F-2 que morreu há menos de duas semanas por um pneu desgarrado que bateu em sua cabeça. Claro, é desproporcional comparar um pneu a uma pequena mola, mas a conseqüência foi parecida: no momento do choque, ambos perderam a consciência e simplesmente foram reto até a barreira mais próxima.

No momento da batida de Massa, eu me lembrei do quanto a F-1 ainda é um esporte perigoso. É justamente esse perigo, resultado de uma velocidade e de uma precisão milimétrica, que nos fascina e ao mesmo tempo assusta. Em questão de uma curva, tudo pode acabar. Ficamos tristes com e mesmo os mais ferrenhos podem se perguntar se tudo isso vale a pena.

Talvez esses pensamentos confusos sejam resultado das imagens exibidas de Massa, completamente grogue, com um olho arregalado e o outro coberto de sangue, ainda com o capacete. A mola que colidiu com a cabeça de Massa chegou com a velocidade de algo atirado do alto de um prédio. A essa altura, especialistas especulam, fãs fajutos fingem interesse, e alguns aproveitam para tirar mais uma onda do Barrichello por ser justamente do carro dele a mola quase assassina.

Tudo isso à parte, sabemos que os pilotos não pararão de correr, e nem nós pararemos de assistir, aconteça o que tiver de acontecer com Felipe. Somos viciados em velocidade e já sabemos que o medo está no pacote quando começamos a nos viciar.

No mais, é rezar para que as conseqüências para o brasileiro sejam mínimas e que ele já esteja de volta, após essa providencial pausa, no GP de Valência.

Reta Oposta

Na mão do Nelsão
Nelsinho Piquet já não está com essa bola toda – nem no universo da F-1, nem entre a torcida brasileira. Talvez por isso devesse medir melhor as palavras. Após a Hungria, disse que vai “sair de férias e o pai vai resolver”.

Mais nostalgia
Por um momento, a F-1 voltou a 2007, com Alonso, Hamilton e Räikkönen dividindo as primeiras posições. Button segue perdendo sua vantagem, infelizmente, não para o Barrichello.

Só no cronômetro
O que foi aquela cena no final do treino de sábado?! Fernando Alonso checando com os colegas de pista quem fez o tempo mais rápido? Me lembrou as minhas corridas de kart na Granja Viana, em que todo mundo dá o máximo sem saber quem foi melhor...

*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.

terça-feira, 14 de julho de 2009

De volta à infância, em 1991*


O GP da Alemanha foi bom? Foi. Mas achei um tema mais interessante para a minha coluna desta vez. Queria falar da recente experiência que tive com um jogo de computador.

Sendo um apreciador de corridas e também de tecnologia desde criança, foi cedo que adquiri interesse por jogos de velocidade. No começo, eram aqueles games de PC clássicos, como o Indy 500. Mas, em 1993, minha vida mudou com o World Circuit, ou como era mais conhecido, GP1, criado por Geoff Crammond. Aquele simulador de corrida trazia a temporada de 1991, com os feras da época, e todas as pistas do calendário, para jogar a qualquer momento. Eu passava horas na tela do computador. Gráficos toscos, mas a jogabilidade compensava tudo.

Claro, o tempo passou e o GP1 foi superado. Não, eu não parei de jogar. Apenas fui evoluindo com os nomes – logo surgiu o GP2, GP3 até o último da série, GP4 (parece que Crammond desistiu de continuar a série). Joguei todos, fiz vários campeonatos e me estressei demais com rodadas e erros, até que as obrigações da vida adulta chegaram e me afastei da tela do computador – só para jogar. O GP4 manteve-se instalado, mas era raramente acessado.
Até que, um dia, navegando pelo YouTube, encontrei vídeos de um GP4 que não conhecia.

Os gráficos eram parecidos, mas os carros, não. Sim, era um GP4 alterado, com carros e pista antigos. Mais precisamente, de 1991. Vibrei quando vi aquilo, me encantei com a precisão dos detalhes, desde patrocinadores até ângulos das câmeras. Foi uma volta no tempo.

Não demorou para que eu fosse atrás de como transformar o meu GP4, parado e original (a temporada lançada nele era a enfadonha 2001), naquele túnel do tempo. Mas demorou para conseguir. Descobri que era necessário instalar muita coisa. Adaptar o jogo inteiro. Basicamente, fazer coisas de hackers. Mexer em arquivos que eu nunca soube que existiam.
Mas eu consegui.

Cerca de dois meses após ver o vídeo, o “GP4-1991” estava em minha própria máquina. Foi paixão antes mesmo da primeira volta. Ainda na abertura, já está tudo modificado. Imagens do campeonato de 1991 aparecem na tela, e quando o menu principal finalmente desponta, você está sedento para correr.

Mas tem mais. A música executada durante o menu, as fotos dos pilotos, tudo foi feito com requintes detalhistas ao máximo. É possível, inclusive, ouvir o lendário Murray Walker, espécie de Galvão Bueno da Inglaterra, narrando as corridas mais famosas daquele ano.

Correr, claro, é o melhor de tudo. Na minha “estreia”, escolhi Roberto Moreno, na Benetton. A pista foi Interlagos, claro. Foi emocionante ver o cenário. Patrocinadores da época misturam-se com os bólidos coloridos fieis aos originais. O som também encanta. Pulei a classificação e fui logo para a largada, saindo de último. Poucas voltas depois, rodei. Mas durante elas consegui lembrar como é bom ser criança. Aquele meu GP4 nada mais era do que o mesmo GP1, que eu jogava em 93, com gráficos melhores.

Como disse Ayrton Senna uma vez: “a diferença entre as crianças e o adultos são apenas os brinquedos”.

RETA OPOSTA

E da corrida?
Sim, o GP da Alemanha foi interessante. Rubinho ficou em segundo de novo. Agora, ele é o segundo piloto que mais demorou para vencer uma corrida na F-1.

E da política?
Acho que falo por todos quando digo que não quero mais saber de política na F-1. Estamos todos, claro, torcendo apenas para que Mosley dê o seu lugar.

E do Rubinho?
Ele disse que acha “um saco” isso tudo acontecendo. Falar o quê? Enquanto isso, Massa fez uma de suas melhores corridas este ano. O cara está maduro mesmo.

Ah, se você tem GP4, saiba mais sobre o projeto 1991 aqui.

*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Em Silverstone, um olhar sobre o passado

Talvez fosse o momento de Max Mosley ser menos “max”


Silverstone, como muitos sabem, é a pista onde a F-1 começou. Onde, em 13 de maio de 1950, pilotos e equipes resolveram oficializar e organizar suas vontades de correr e preparar carros. Sem estrutura, sem segurança, sem (muito) dinheiro, muita gente sujou a mão de graxa. Muita gente perdeu a vida enquanto a F-1 se desenvolvia para tornar-se a categoria de carros de corrida mais conhecida em todo o mundo.

Quase sessenta anos depois, esses valores fundamentais parecem ter sido esquecidos. A Fórmula 1 hoje tem ares profissionais, é bilionária, é lucrativa e envolve milhões de pessoas, empregos e desejos. Mobiliza fãs ao redor do planeta. Não é de se admirar, portanto, que alguns nomes envolvidos na organização da categoria comecem a perder a razão. Talvez seja o caso de Max Mosley.

O presidente da FIA está no cargo desde 1991. Ajudou muito, tornou a F-1 uma categoria mais globalizada. Sua missão: aumentar a segurança e levar ao máximo a eterna busca pela competitividade, que parecia ter sido perdida com o exponencial crescimento da tecnologia. A F-1 de hoje faz aqueles tempos de Senna, Prost e Mansell parecerem uma categoria amadora.
De 2008 pra cá, Mosley colocou na cabeça que também deveria lutar na redução de custos. Isso já vinha acontecendo, mas o que era uma saudável preocupação começou a se tornar uma obsessão com a crise financeira que teve início no fim do ano passado.

Basta ligar os pontos para ver onde estamos. Em um momento onde as corridas importam menos do que os comunicados da FIA; em uma realidade onde Emirados Árabes Unidos importam mais do que a Inglaterra; em um grid onde o que mais se discute é a legalidade de difusores.

Na busca por aumentar a popularidade da categoria, Mosley perdeu-se em algum lugar no meio do caminho. Hoje, o que se vê entre o público leigo é conhecimento sobre F-1. Mas confuso, nebuloso. A indecisão repele novos admiradores, afasta patrocinadores e não fecha negócios. Com a decisão da FOTA (associação das equipes de F-1) de criar uma categoria independente no ano que vem, a missão foi realizada: todo mundo fala sobre F-1, em qualquer bar, em todas as esquinas o assunto é esse.

Ironicamente, o anúncio do racha acontece no palco onde tudo começou. Será que não vale alguém parar de olhar para o próprio umbigo e ver que os dois lados têm que ceder?
Eu não acredito em racha. Tudo seguirá como antes. Mas eu acredito que essa chatíssima disputa política vai, sim, fazer com que cabeças rolem.

Eu já escolhi a minha. E você?

RETA OPOSTA

Barba, cabelo e bigode?

Barrichello saiu da Turquia dizendo que queria fazer o “hat trick” (pole, melhor volta e vitória, por aqui chamados de “barba, cabelo e bigode”) em Silverstone. A pouca barba que vimos foi a que ele deixou. E o cabelo, menos ainda...

Massa fino

Excelente prova de Felipe Massa, ganhando várias posições e cada vez mais mostrando que é o piloto número 1 da Ferrari, mesmo sem o título do ano passado.

Só mais uma...

Cléber Machado é uma pândega narrando F-1. Ele se diverte, comete erros hilários e cria suas próprias teorias. Na Inglaterra, a melhor foi dizer que existe uma “visão barricheliana” sobre as coisas. Como será essa visão?!

*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.

domingo, 7 de junho de 2009

O poder de influência de cada um*

Mas Mosley devia ouvir mais pilotos e equipes - as estrelas de verdade

Jenson Button era apenas mais um nome na Fórmula 1 até 2008. Tinha só uma vitória na F-1 e poucas pessoas (por mais frio que isso possa soar), mesmo entre os especialistas, lembravam da sua existência na categoria. Hoje, o piloto inglês cada vez mais desponta como o campeão mundial do ano, já fazendo história. Venceu seis das sete primeiras corridas e só não leva o título se algo muito, muito improvável acontecer.

O caminho que vai tomando o campeonato é uma ducha de água fria na FIA, que queria usar o número de vitórias como principal critério para definir a disputa. A regra não valeu em cima da hora, muito devido aos pilotos e equipes, que foram totalmente contra. Contrariados ou não, os executivos hoje certamente agradecem a esse grupo, ou o campeonato estaria ainda mais previsível do que já está. E a pergunta que fica é: será que os comissários e executivos que controlam a F-1 não deviam ouvir esses “especialistas” novamente?

Max Mosley assumiu a Fórmula 1 em outra época. Era 1991, e seu antecessor, dos mais impopulares em terras brasileiras – creio que muitos lembram do nome Jean Marie Balestre. Sim, esse nome que pra uma geração tornou-se sinônimo de vilão, de inimigo. Balestre tinha muitos e numerosos defeitos, mas ele certamente sabia que não deveria aparecer mais do que a categoria.

Não parece ser o caso de Mosley, que insiste em brigar até o fim com as equipes. Agora, os pilotos se solidarizaram aos seus times. De um lado, FIA, Williams e Force India. De outro, todo o resto. E parecem testar a paciência de todos para ver se realmente é possível haver um racha na F-1. E isso não será bom pra ninguém, como já se viu com a Indy, IRL, Fórmula Mundial, Champ Car – ou como queiram chamar.

Talvez seja hora da FIA perceber que ela sozinha não brilha. E que existem outras formas de controlar os custos da F-1 sem contrariar todo mundo. O campeonato deste ano já está surreal e, muito em breve, terá o campeão mais precoce de ume temporada. Imaginem como será com Lola, USF1 e Force India como protagonistas.

RETA OPOSTA

A insana briga pela audiência...

...leva a emissora que transmite a F-1 no Brasil a dar uma ridícula aura de “mestre turco” a Felipe Massa. O piloto jamais prometeu nada, fez o máximo que conseguiria com a limitada Ferrari. Mas em vinhetas e chamadas, a TV ressalta que Massa é um completo especialista no circuito. Pode até ser, mas só isso não ganha corrida. Precisa de carro, como Jenson Button está provando perfeitamente este ano.

Está começando a ficar chato

Jenson Button vencendo todas até lembra outro inglês, em uma das temporadas mais chatas dos anos 1990: Nigel Mansell, em 1992. Aliás, o companheiro dele na época era o recordista no número de corridas na F-1 (Riccardo Patrese). Coincidência?

Cadê o Rubinho?

Não sei de quem foi a culpa na largada ruim de Barrichello, mas ficou claro que as tentativas de ultrapassagens do brasileiro durante a corrida que o levaram para o fim do grid (em Kövalainen e Sutil) foram claramente decisões precipitadas do piloto. Faltou maturidade aí (por incrível que pareça).

Superinteressante

A edição deste mês da revista da Abril traz um “e se Senna não tivesse morrido?”. Convido a quem quiser ler a reportagem e comentar comigo o que acham.

*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

As decisões dos homens de
terno e gravata*
Quando a política supera o esporte, algo está errado

Bernie Ecclestone, o chefão da Fórmula 1: ele quer mudar tudo

Normalmente, escrever sobre o Grande Prêmio de Mônaco não costuma ser algo muito rico, já que a corrida é tradicionalmente a mais charmosa, mas também mais previsível do ano. Falar de Barrichello pela terceira coluna seguida também não dá. Sobra, então, voltar o nariz para a sujeira e confusão vinda da política por trás da Fórmula 1.

A ambígua F-1 vive momentos distintos. Na pista, muito equilíbrio, surpresas e indefinição sobre os rumos do campeonato. Jenson Button segue rumo ao título, mas a Ferrari mostra uma evolução surpreendente e está perto de ser a segunda força. Outros times, como RBR e Toyota, mesclam desempenhos interessantes com frustrantes. As ultrapassagens são constantes e tudo parece estar indo bem. Por que mexer mais?

A principal causa para esse bom momento vivido pela categoria vem dos famosos homens de terno e gravata. São os empresários e comissários que, a cada ano, mudam e mexem nas regras para impedir que a tecnologia supere a esportividade. Nem sempre dá certo, já que os engenheiros acham maneiras de driblar as mudanças, sejam elas totalmente novas ou retrôs. O problema é quando a política e a cartolagem é tamanha que começa a esconder o esporte.

Não é novidade a FIA querer banir sistemas, impor limites e cortar gastos. Porém, o que está acontecendo de uns anos pra cá beira o absurdo: a categoria não passa dois anos seguidos sem alterações profundas no regulamento. E, para isso, basta voltar alguns anos na memória: quando eu assistia a Fórmula 1 do início dos anos 1990 e fim dos 1980, as mudanças eram poucas e, quando surgiam, mexiam bastante com o grid. Foi o caso, por exemplo, do fim da era turbo, em 1989. Ou da suspensão eletrônica, em 1994. São exemplos de regulamentos alterados que marcaram época.

Hoje, porém, a FIA não consegue sentar e apenas apreciar a corrida. Os pneus passaram a ser slicks novamente; não teremos mais reabastecimento no ano que vem. Os motores passam de V-10 para V-8; os treinos de classificação já tiveram todos os formatos possíveis. O limite de RPMs baixa a cada ano. O sistema de pontuação será por vitórias; não, não será mais. Fica para 2010. Não, não fica mais.

Tanta mudança em tão pouco tempo chega a transformar a Fórmula 1 em alvo de deboche. Afinal, qual credibilidade tem uma instituição que, a cada ano (ou a cada semestre, até), muda ferozmente os regulamentos e princípios que defende? Nessa história, sobram ameaças. Ferrari lidera o movimento e diz que não estará na categoria ano que vem se a FIA não reconsiderar a mudança envolvendo o teto orçamentário. Eu duvido. Assim como Mônaco, a Ferrari pode não ser a mais rápida sempre, mas o seu charme é indispensável.

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Maturidade de Massa
Já falei aqui de como Felipe Massa mudou na temporada passada, assumindo um papel de piloto de Ferrari e arcando com as responsabilidades que isso envolve. Mônaco foi mais um caso assim; Massa chegou atrás do companheiro, mas fez a melhor volta da prova e certamente deixou os dirigentes italianos felizes.

Fala, Rubinho
“Button está guiando como campeão”, diz Rubens. Não, o brasileiro ainda não jogou a toalha – e nem deveria mesmo. Mas admite que o piloto inglês está mesmo em uma fase incrível.

*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.

domingo, 10 de maio de 2009

Barrichello consegue dormir à noite?*
O brasileiro fez tudo certo e não levou. Mais uma vez.


Confesso a vocês que queria abordar outro assunto na coluna* de hoje. Queria falar de Felipe Massa e como ele lutou, mais uma vez, com os problemas internos da Ferrari e fez uma ótima corrida. Falar de como a corrida na Espanha foi altamente profissional em comparação às anteriores no campeonato. E como a primeira corrida da temporada europeia tradicional mostra que a Brawn dificilmente será superada no ano todo.

Mas, me desculpem a insistência, é impossível deixar para trás o assunto Barrichello.

“Hoje não é dia para ficar triste. É dia de ficar alegre. Tenho de ficar satisfeito com o que eu fiz na corrida”. Palavras do brasileiro da Brawn. Claro, é muito mais confortável para este colunista abordar o assunto de longe, sem saber do que se passa dentro do motorhome da equipe inglesa. Mas, ainda assim, eu me pergunto o quão difícil foi para Rubens Barrichello pegar no sono na noite após a corrida.

Claro que ele deve ficar satisfeito com o que fez. Certamente Rubinho não entra em uma corrida para não vencer. Mas o fato é que não vence. E tem de lidar com adversidades incríveis. Sim, é de se imaginar como o brasileiro lida emocionalmente com tudo isso quando deita a cabeça em seu travesseiro. Barrichello deixou claro que Jenson Button copiou sua configuração para a Espanha. Portanto, o rival direto e líder do campeonato não só “clonou” seu carro para que ficasse igual ao do brasileiro. Ele mudou a estratégia, fez o mais fácil e ganhou a corrida sob as barbas de Rubens, que foi para uma estranha estratégia de três paradas.

Diz a Brawn que três pits sempre foi o plano A. Um plano que, entre os outros os pilotos no grid, apenas foi usado por Kazuki Nakajima, da Williams. Sim, só ele e Barrichello pararam três vezes. Para o japonês, talvez a estratégia fizesse algum sentido, na briga por posições intermediárias. Mas no caso de Rubinho, é impossível não questionar por qual razão não foram com o mais simples.

Uma corrida com três paradas planejadas é das mais arriscadas que existe. Envolve movimentação a mais no box, lugar onde sempre pode correr algo errado. Envolve uma agressividade e arrojo constante – o piloto tem que correr em ritmo de classificação o tempo todo. Envolve uma pista sem adversários, limpa o tempo todo, o que nem sempre acontece. Envolve um ritmo frenético e muito sangue frio, características que não são as mais marcantes de Rubens Barrichello. Portanto, para um líder em Barcelona, é muito mais previsível que uma estratégia com três pits seja o plano B, e não o A.

É fácil desenvolver teorias conspiratórias contra o brasileiro de longe. Mas, hipóteses à parte, Barrichello consegue subverter lógicas quase inabaláveis. Na Espanha, é muito raro o piloto que faz a primeira curva na liderança não ganhar a prova. Rubinho foi o mais rápido na pista catalã. E mesmo assim não levou. No pódio, exibia um sorriso e jogava o champagne no companheiro de equipe. Será que só eu fiquei com um sentimento de “como é possível que ele ainda esteja feliz assim”?

Nas entrevistas, Rubinho evitou a polêmica. Preferiu colocar panos quentes mais uma vez. Disse que vai exigir explicações dos engenheiros da equipe. Explicações que jamais serão reveladas.

Ou, quem sabe, serão um novo capítulo do famoso livro escrito pelo piloto que ele sempre fala.

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Amarga lembrança
Há sete anos, também no Dia das Mães, Rubens Barrichello entregava a vitória para Michael Schumacher no infame GP da Áustria de 2002. O episódio pode ser relembrado. O tempo passou, e pelo jeito só foi o carro que mudou de vermelho pra branco.

Didi, Dedé, Mussum e Zacarias

Será que são esses os engenheiros da Ferrari? No treino, Kimi fica no Q1 por falta de planejamento. Na corrida, Felipe Massa tem de abrir mão de um bom resultado para não ficar sem gasolina. Existem 1001 maneiras de cometer erros. A Ferrari segue as inventando.

Mea culpa
Fui um dos que mais defendeu o sistema de título por vitórias. Cala-te boca. Com quatro vitórias de um mesmo piloto em cinco corridas, a temporada 2009 da Fórmula 1 poderia ser das mais previsíveis da história.

Mais dos homens de terno e gravata
Acabou o reabastecimento em 2010. Ótima decisão. Não veremos mais estratégias de passar no box, nem pilotos mais leves que fazem pole mesmo sem o mesmo talento de outros. A F-1 segue cada vez mais retrô.

* O texto acima é a coluna que escrevo regularmente para sites que cobrem F-1. Vou republicá-los aqui a partir de hoje. Para ver as colunas anteriores, clique aqui.

terça-feira, 31 de março de 2009

Nova coluna sobre F-1

Tem coluna nova minha sobre a polêmica abertura da temporada de F-1 lá no UOL Interpress Motor. Para acessar, cliquem aqui.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Escrever sobre F-1 está difícil atualmente...

Olha, vou levar um tempo para escrever sobre F-1 de novo aqui. Quando escrevi sobre a ida de Bruno Senna à categoria, tudo mudou e a equipe fechou. Quando escrevi sobre o fim da Honda e a saída de Barrichello, novas mudanças e surge a Brown GP com Rubinho no cockpit.

Agora, posto algo sobre a polêmica mudança no sistema de pontos da categoria e, pronto, tudo vai por água abaixo e o velho e tradicional sistema volta a valer (não ficou sabendo?).

Desse jeito, anda difícil palpitar, viu. Basta dizer que meu blog não é referência recente pro assunto: a era Senna continua, Piquet e Senna não correrão juntos e o sistema de pontos não mudou.

terça-feira, 17 de março de 2009

Mudança radical. E necessária

Agora o campeão da Fórmula 1 é definido pelo número de vitórias, e não mais pelos pontos, conforme está saindo pela Internet toda. Simples assim: ao final da temporada, quem tiver vencido mais leva. Se o número de vitórias for igual, aí sim valem os pontos como critério de desempate.

Todo mundo agora comenta que, se o critério tivesse sido usado no ano passado, o campeão teria sido Massa. Bem, essas coisas de "se" não devem ser levadas a sério. O regulamento de 1988, por exemplo, era bem controverso, e Senna foi campeão mesmo com menos pontos que Prost.

Enfim, gostei bastante da decisão. As últimas temporadas foram boas, mas a mudança no número de pontos há alguns anos não tinha caído bem. Antigamente, o vencedor levava 10 pontos e o segundo, 6. Mudaram, e até o ano passado, o primeiro faturava 10 e o segundo, 8. Ou seja, era muito confortável para o segundo colocado ficar ali em vez de correr o risco de ultrapassar e, quem sabe, perder tudo (foi o caso de Kimi Räikkönen, campeão em 2007 com menos vitórias e vários pódios).

A temporada começa dia 29, na Austrália, provavelmente uma das mais esperadas dos últimos tempos devido a esse (e outros) anúncios, além, é claro, do atual equilíbrio da categoria. E, enquanto ela não chega, deixo aqui, para quem não viu, uma das melhores brigas da F-1 recente. Felipe Massa X Robert Kubica na última volta do GP do Japão de 2007, durante chuva torrencial. Vale a pena!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


Ainda sobre o Carnaval

Só pra encerrar o assunto, não dá pra deixar de postar a vitória da minha escola (agora dividida com a agremiação de Bragança Paulista), a Salgueiro!

E o assunto tem link com um post recente do blog: o fim da era Senna, que ganha mais um marco. Me encantei pela Salgueiro em 1993, quando eles criaram o samba-enredo que trazia o "explode coração, na maior felicidade...", sem dúvida um dos mais famosos de todos os carnavais.

Mas, para mim, aquele ano ficou marcado também por uma presença ilustre na missão de dar o título à escola vermelha e branca: Ayrton Senna desfilou, pela única vez, com a Salgueiro justamente naquele ano da vitória. Pode-se dizer que foi o seu último título.

Procurei no Gooooooooogle uma foto do piloto na avenida. Lembro bem da imagem dele, se não me engano ao lado de Adriane Galisteu, desfilando. Não achei as imagens, então o post vai com a boa e velha Salgueiro mesmo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O fim da era Senna – ou um novo começo?

Há muitos anos eu pensei em um texto.

O tema central seria "o fim da era Senna". Eu falaria sobre o momento em que não houvesse mais ninguém nas pistas da F-1 que correu ao lado de Senna. E a coisa foi indo bem. Ao longo dos anos 90 e início do novo século, fui observando os pilotos se aposentarem...Mika Hakkinen, Damon Hill, Gerhard Berger, Michael Schumacher, Jean Alesi...Um a um, eles chegavam ao inevitável dia de pendurar as sapatilhas.

Faltava Rubens Barrichello. O brasileiro, que ingressou na categoria em 1993 - portanto um ano antes da morte de Senna -, permanecia nas pistas. Em 2008, conforme sua saída ia se desenhando, este meu texto imaginário começou a ganhar formato, ainda imaginário. Uma introdução, um desfecho, tudo já se encaminhava para lembrar o saudoso momento, em um desfecho cheio de nostalgia e memórias ultrapassadas.

Eis que o destino, então, prega a maior das peças. De forma quase teatral, a era Senna chega ao fim...sem chegar.

É incrível a ligação da família Senna com Rubens Barrichello.

O ex-piloto da Honda foi guiado pela sombra do sobrenome famoso. Foi um pupilo e protegido do tri-campeão Ayrton, sofreu com sua morte, e assumiu um papel de herói sem querer, querendo. Um papel que não conseguiu desempenhar à altura e acabou por prejudicar uma promissora carreira.

O martírio de Barrichello só começou a diminuir quando foi ofuscado por Felipe Massa, que de forma igualmente cruel, assumiu justamente o cockpit que era de Rubens e mostrou um novo espírito de guiar e falar. Sem comparações com ídolos passados, sem referências ou bajulação, Massa mostrou personalidade e hoje tem seu espaço muito maior do que Barrichello tinha – na Ferrari ou na torcida brasileira.

Em 2009, o grid que irá alinhar para o Grande Prêmio da Austrália não terá mais nenhum piloto que correu ao lado de Ayrton. Não mesmo? Pense bem. Bruno Senna foi, talvez, quem mais conheceu Ayrton, nos momentos em que corriam de kart ou tiravam rachas em jet-skis nas águas de Angra dos Reis.

Pois é. E com isso, a temática do meu texto foi pelo ralo. Ele mudou. E a era Senna não acabou. Ironicamente, a maior vítima dela, Barrichello, apenas ajudou a dar continuidade ao sobrenome mais famoso da categoria.

E agora, resta a Bruno mostrar a que veio.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Os pneus slick voltaram
(mas o resto, quanta diferença)



1997, último ano de uso dos pneus slick no F310B, Ferrari de 1997...

...e o recém-anunciado F60, com suas desproporcionais asas traseiras e dianteiras. Bizarro?