terça-feira, 1 de maio de 2007

Fiéis Seguidores
13 anos depois, túmulo de Senna reúne os mesmos fãs

Há 13 anos, eles estão lá, faça chuva ou faça sol. Sempre, à beira de um não tão frondoso Ipê, descansam suas vistas, refletem e mantém acesa a chama do ídolo Ayrton Senna, morto em 1º de maio de 1994. E não são poucos. No Cemitério do Morumby, amantes de automobilismo, curiosos e turistas de passagem pela cidade se juntam aos que, religiosamente, estão lá todo começo do quinto mês.

“Ayrton Senna é sinônimo de esperança, sonho e vitória”, resume o entregador de panfletos Antônio Paulo Baptista, 45, ou simplesmente Senninha, como é conhecido na cidade onde vive, Capão da Canoa (RS). O gaúcho enfrenta 18 horas de viagem todo ano, e fica durante boa parte do dia ao lado do túmulo de Senna. O fã é figurinha reconhecida por muitos no local, apesar da mudança este ano – veio com um macacão amarelo, em vez do tradicional vermelho dos anos anteriores. “Queria fazer uma homenagem ao Pan”, diz Baptista, que não entrega panfletos somente em Capão da Canoa, mas também para os visitantes do Cemitério. Nos papéis, mensagens religiosas e de esperança. Na entrevista, Senninha reforça a mensagem aos governantes: “desativem a FEBEM, uma escola do crime”, enquanto revela dezenas de imagens em seu álbum ao lado de famosos globais.

A imagem do piloto Ayrton Senna ainda é forte para a maioria de nós, mas é inegável que aos poucos perde um pouco sua força. Nesse sentido, algum trabalho foi feito em 2004, quando se completaram 10 anos de sua morte, mas após isso, pouca coisa. Prova disso acontece quando chega uma mãe ao túmulo com duas crianças, de, no máximo, 6 anos: “Mãe, quem é esse aqui?” pergunta um dos meninos, apontando para um grande cartaz com recortes, cartas e fotos de Senna. Afinal, uma criança hoje com 13 anos somente sabe de Senna por imagens no You Tube ou comunidades no Orkut. Inexorável, o tempo.


Cartaz direto do Japão, em frente ao túmulo de Ayrton

Felizmente, Senna não era um herói exclusivo do Brasil, mas mundial. Isso explica, mesmo 13 anos após sua morte, cartazes vindos do Japão, ou a presença de Mechthild Hemmer, uma alemã de Colonia – terra do rival Michael Schumacher. A fã veio ao Brasil especialmente para o dia 1º de maio. “Deixei marido e filhos, que tiveram que aceitar minha decisão”, afirma. Nos anos anteriores, Mechthild não veio a São Paulo, mas a Ímola, na Itáliam no circuito que levou a vida de Ayrton. Lá, como muitos, deixa flores e homenagens em frente ao monumento de Ayrton, um enorme busto erguido no ponto onde ocorreu a batida. “Muitas crianças vão lá, é impressionante”, diz a torcedora, que aprecia o grande carisma de Ayrton. “Hoje, vejo um pouco desse carisma em Lewis Hamilton”, confessa. Ela, como muitos, não deixou de reparar nas cores do capacete do inglês, revelação da McLaren, que tem partes muito similares ao do tri-campeão brasileiro. Sobre Schumacher? “É um bom piloto, mas não gosto dele”, resume.

Por aqui, claro, o profissionalismo não é o mesmo. Não há bustos no cemitério. E a única homenagem mais forte na cidade, a controversa estátua em frente ao túnel que carrega seu nome, é constantemente alvo de vandalismo. Até alguns anos, havia pelo menos a Banca do Montanha. Lá, em frente à entrada do cemitério, um pequeno estabelecimento vendia fitas K-7 com o “tema da vitória” e camisetas temáticas, entre outros badulaques. Mas já fechou há muitos anos. No dia 01/05, somente alguns rapazes tentavam vender réplicas do capacete do piloto. Alguns chegavam a oferecer a peça para visitantes ao lado do túmulo – o preço, singelos R$ 300,00.

Baptista, o Senninha, é um dos que não cai na tentação de venda dos jovens. Ele mostra, com orgulho, um certificado de que possui um capacete pintado por Sid Mosca, o artista que criou e fazia as pinturas do acessório de Senna. “Há apenas 1.000 desses”, exalta.

Já Carlos Augusto, técnico em instrumentos musicais, não tem um capacete para ostentar. Ele possui um Corcel II, do mesmo ano ao que era usado por Ayrton. “Na adolescência, aos 17, 18 anos, ele adorava pegar o Corcel do tio e correr com o carro”, explica. Carlos tem “gasolina no sangue”, como diz. Seu pai, Augusto Orlando Virardi, faleceu em 1983 após ver Nelson Piquet bi-campeão, pela TV. O fã de 41 anos presta uma homenagem ao pai indo todo ano aos GPs de Fórmula 1 em Interlagos, como fiscal de pista. Ano passado, esteve lá, e lembrou dos tempos de Ayrton ao ver Massa vencer. “Foi um amigo meu quem entregou a bandeira a Massa” conta orgulhoso, sem esconder a emoção ao fazer a inevitável comparação com Senna.

Talvez não haja mais a Banca do Montanha. Também não são muitas flores no túmulo como era de se esperar. Mas a imagem de Ayrton permanece. Longe das pistas, discreta e serena, mas repleta de fiéis, cada um com sua história e ligação particular com o ídolo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Achei forte e singelo.
Demonstra carinho e respeito pelo grande ídolo.

Anônimo disse...

Mechthild e` direito
Lewis Hamilton e`fantastico