Período de viagens. Estive em Manaus durante a semana para um evento corporativo. Além do desgaste vindo do cliente, do próprio evento, da imprensa e afins, alguns detalhes simples conseguem transformar horas que já seriam ruins em péssimas.
Foi o caso do vôo da ida. Uma combinação de fatores no mesmo trajeto me alimentou para o que descrevo a seguir. Manaus não é um vôo longo, quando comparado a ir pra Europa ou Estados Unidos. Mas, quando a tripulação não colabora, olha o que pode acontecer:
Foi o caso do vôo da ida. Uma combinação de fatores no mesmo trajeto me alimentou para o que descrevo a seguir. Manaus não é um vôo longo, quando comparado a ir pra Europa ou Estados Unidos. Mas, quando a tripulação não colabora, olha o que pode acontecer:
- A briga pelo braço da poltrona: Os que sentam na janela ou no corredor garantem ao menos um braço da poltrona pra chamaer de seu e descansar seus antebraços. Quem está no meio tem briga dupla. Mas ninguém escapa: ao menos um braço de poltrona terá de ser disputado. E aqui dá-se início a algo como uma briga social, um embate entre cavalheiros, uma batalha civilizada. Afinal, como ninguém mais é criança para sair na pancada por um simples encosto, (mas que você quer tê-lo só para si, isso quer) que comecem os jogos! Normalmente o adversário sempre sai na sua frente. Quando você se lembra, lá está o braço do esconhecido disposto ao seu lado ocupando o que era pra ser o seu espaço. Mas, deixe estar: quando ele resolve se esticar, bocejar, coçar o nariz, repousamos rapidamente nosso cotovelo ali, como que demarcando-o como nosso território Mas, a guerra não é ganha. Pois ele ficará de olho. E se você, nem que seja por uma fração de segundo, abrir a guarda, ele tomará de volta o espaço. E assim, nesse clima bélico-pacífico, seguirá seu trajeto aéreo.
- Mastigar de boca fechada ajuda: a TAM tem o cordial hábito de distribuir balas de leite (toffel?) antes do vôo. Saudável, não? Não, se na poltrona de trás estiver um sujeito que simplesmente não tem a habilidade de mastigar (ou chupar, mascar, o que seja) a bala com a boca fechada. Então, se você levou um fone de ouvido, essa é a hora para usá-lo. Caso contrário, conviva com essa dor.
- Arrotos, pigarros e outras intempéries fisiológicas: havia um grupo de japoneses (sim, do Japão mesmo) indo comigo. Um deles ficou ao meu lado (o mesmo que duelou pelo braço da poltrona). E não é que o sujeito inventou um novo modo de assoar (nunca soube se é "assoar" mesmo) o nariz? Pois é, ele o fazia pra dentro. Como? Fungava, jogava pra boca, misturava tudo e engolia de novo. Nojento? Não, meu caro. Nojento é quando isso acontece o tempo todo, do seu lado e em um idioma desconhecido pelo seu ser humano.
- A bateria imaginária: o sujeito que estava na janela levou o seu iPod, ou coisa que o valha, para ouvir suas músicas preferidas. O palco: Wembley, no ano de 1974. Você é John Bonhan, baterista do Led Zepellin. Está no trecho final de "Stairway to Heaven", onde a bateria é fundamental. Suor e alma da música estão em suas baquetas, e você dá tudo que pode! Qualquer batuque é pouco, toque como nunca! Eis que, de repente, o rapaz na poltrona da frente interrompe sua utopia musical e diz: "cara, tá incomodando legal". Pois é. Quando estiver ouvindo suas músicas no fone de ouvido, não as batuque na poltrona, na perna ou onde mais quiser. Talvez seja um pouco óbvio de lembrar isso, mas os demais presentes no avião não estão ouvindo a mesma música que você, e podem ficar um pouco irritados com seu ritmo (ou a falta dele).
- A pessoa do lado tentando fazer amizade: frente a tantas barreiras em um mesmo vôo, algumas pessoas tentam socializar para minimizar os problemas. Uma senhora, na coluna ao lado, fez isso comigo. Fazia questão de puxar conversa cada vez que algo que a incomodava acontecia. E eu estava lá com meu fone de ouvido, tentando dormir um pouco. Assim, ao menor sinal de que eu fosse acordar, ela olhava pra mim, procurando papo. Nem as minhas respostas típicas de quem quer abreviar o diálogo ("é", "a-hã", "verdade...") não davam o recado pra pobre moça. Não tenho nada contra a simpatia gratuita. Mas algumas pessoas precisam entender que nem todo mundo quer conversar a toda e qualquer hora...
- Idas ao banheiro: tem coisa mais chata do que um japonês que adora ir ao banheiro o tempo todo? Ainda não tenho certeza pra isso, mas que irritou, irritou. Afinal, para que ele possa chegar ao sanitário, tem que sair de sua poltrona. E, para isso, eu preciso sair do meu lugar, deixá-lo passar, e repetir a operação quando ele regressar. Imagine isso várias vezes. Incômodo, não? Acho que ele também achou, pois depois de 40 minutos de vôo ( e três idas ao banheiro), mudou de lugar.
- Ah, as filas: qual a razão da pressa? Assim como nos cinemas, os lugares são marcados no avião! "Boa noite. Em nome da TAM, eu dou as boas-vindas ao vôo..." essas poucas palavras, ainda no saguão da embarque, bastam para que uma voluptuosa fila se forme na entrada. O mesmo ocorre na saída, ainda no avião. Mal ele parou, as pessoas já se levantam de forma apressada, atrás de suas malas, para ficar de pé, paradas, por tempos que chegam até a 10, 15 minutos. Aí, naquele silêncio só interrompido pelos som de celulares ligando, elas olham, irritadas umas para as outras, impacientes por estarem ali, de pé, esperando. Alguém ouve o "por favor, pemaneçam sentados até que o aviso de cinto de segurança se apague"? Alguns ultrapassam todos os limites. Os que estão na janela também se levantam. Mas, como não conseguem chegar até o corredor (já tomado pelos primeiros apressados), ficam curvados, em posições ridículas, esperando que a porta do avião finalmente abra. Santa paciência...