Play it, James
Fica difícil descrever o turbilhão de emoções em torno do show de James Burton ontem. Mesmo assim tentarei, certo de que minhas palavras jamais chegarão sequer perto do que passei.
Nasci após a morte de Elvis. Sendo assim, já tornou-se impossível ir a um show dele. Tive que me contentar com shows gravados ao vivo e itens similares. Em muitos desses shows, era comum a expressão de Elvis Play it, James, (toque, James) quando o seu guitarrista principal estava pra fazer um solo.
Na noite de ontem tive a oportunidade de ver como eram esse solos de perto. Muito perto. O show de James foi destaque, primeiramente, pela localização. Meu irmão conseguiu a melhor mesa do local. A mesa que todos invejavam, a mesa que barões do café e reis do gado gostariam de estar - mas não estavam. Claro que, para nos acompanhar nessa missão, estava um bom litro de Jim Beam.
Nossa posição era simplesmente a mais próxima do guitarrista. Isso tornou fácil a missão de conseguir dezenas de fotos e vídeos, e em alguns momentos até conversar com ele ou ouvir os demais membros da banda se esforçando para seguir os compassos do astro. Fato era: ali estava o homem que, por tantos anos, correu os Estados Unidos ao lado de Elvis e dos demais membros da banda. Bem mais velho, claro, mas still rocking! Levei algumas músicas para me dar conta do quanto aquilo representou pra mim e do privilégio que era ouvir, de tão perto, o homem que acompanhou o Rei do Rock.
Segundo motivo? As músicas. Confesso que imaginava sair de lá um pouco desapontado. Esperava que Burton tocasse apenas os clássicos mais manjados de Presley, como Hound Dog e Blue Suede Shoes. No entanto, vimos algo mesclado entre poucos clássicos e alguns lados B. Vimos um James Burton extremamente humilde, muito tranquilo no palco, claramente se divertindo, fazendo um som espetacular em meio àquele universo de costeletas dos fãs de Elvis.
Algumas das músicas tocadas na noite foram:
- Got a lot livin' to Do
- Blueberry Hill / I Can't Stop Loving You
- Little Sister
- Don't Be Cruel
- Baby, what you want me to do?
- Whole lotta Shakin' Goin' On
- Polk Salad Annie (excerpt)
- Johnny B. Goode
- Suzie Q
- Pretty Woman (excerpt)
- There Goes my Baby
- Walk a Mile in my Shoes
- The Wonder of You
Destaque também para a banda, que acompanhou Burton com maestria e tocou muito.
O terceiro fato especial da noite veio pela emoção de um ocorrido em particular. Não gosto de revelar aqui lances muito pessoais, mas não posso deixar de registrar isto. Meu irmão, desde o começo do show, pedia por uma palheta de James Burton. "James, could you give me a pick?", dizia. "Maybe later" (talvez mais tarde), respondeu o guitarrista.
A essa altura - alcóolica inclusive -, somente o fato de James Burton ter trocado uma frase com ele já era suficiente, mas o caso foi além. Duas ou três músicas depois, meu irmão insistiu: "James, don't forget my pick!" (James, não esqueça minha palheta!). E não é que o o músico nascido em Louisianna sacou da palheta que estava usando e a jogou para meu irmão?
Tal fato já teria sido único, não fosse o adendo do meu irmão ter me dado a palheta segundos depois. Palheta que, agora, está aqui na minha frente e certamente será enquadrada em um futuro breve. Obrigado, irmão!
No improviso | Como se isso já não fosse suficiente, J.B. (como o próprio Elvis o chamava) ainda nos foi mais atencioso. Entre um intervalo de uma música e outra, pedi a ele (sim, era possível falar com o sujeito) que tocasse Polk Salad Annie, o clássico de Elvis roubado de Tony Joe White e já citado aqui. Burton queria tocar, mas a banda que o acompanhava não sabia. Ainda assim, insisti, em inglês, pedindo que ele apenas tocasse a introdução tão famosa da música.
E não é que ele tocou?! A platéia veio abaixo quando ele começou o riff central de Polk Salad. Não só a platéia, diga-se, mas também a banda, que claramente não sabia tocar aquela música e não conseguiu acompanhar o guitarrista. Acompanhado de um pequeno grupo de fãs, cantamos a música no gogó, ao som da Fender de James Burton. A música não durou mais que 20 segundos, claro, mas foi o suficiente para nos deixar sem voz, causar aplausos estrondosos e entrar para o YouTube, como podem ver abaixo (o vídeo acaba subitamente já que a bateria do celular morreu na hora).
No fim, James jogou a segunda palheta que estava usando. E quem a pegou? Meu irmão!... Agora, para evitar polêmicas, cada um tem sua própria palheta.
No fim, James jogou a segunda palheta que estava usando. E quem a pegou? Meu irmão!... Agora, para evitar polêmicas, cada um tem sua própria palheta.
Se não será jamais possível ir a um show de Presley, esse foi o mais próximo que consegui. E valeu cada acorde, cada centavo e foto tirada. Play it, James...always!
8 comentários:
Caraca, Lulito!!!
Consigo imaginar você contando essa história, com os olhos brilhando feito criança quando ganha o brinquedo que pediu ao Papai Noel!
Queria estar lá também... Principalmente pelo acompanhante que ficou sobre a mesa! hehehe
bj
Emocionante seu relato!
Sensacional, Joly.
Ok, agora que já enxuguei os olhos, posso destrancar a porta da sala aqui no trabalho pra ir lavar o rosto. Mas como não me imaginar no seu lugar e no do seu irmão? Como?!??!? Ah, se JB tivesse vindo no inicio de novembro ou daqui a duas semanas, também teria coisas bonitas para contar. O fato é que você viu uma lenda viva e saiu de lá de alma lavada. E ainda tem gente que a vida é uma merda só!! Como pode, Senhor, como pode?!?!?!?
Ah, e sobre o vídeo com a intro de Polk Salad, só tenho uma coisa a dizer: P Q P!!!!
Fodástico Luis!!!
Cara, que louco, que guitar animal a do JB e ele toca demais.
Imagino a emoção na hora.
Depois quero ver essa palheta aí ehe.
Abraço
Ver o James Burton tocando de tão perto foi, de fato, impressionante. É difícil lembrar que aquela mesma pessoa que está no TTWII ao lado de Elvis estava ali, tão perto, do meu lado...
Devem ter ficado sem folego... uma das lembrancas que ficam para sempre.
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