quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Diários de Cocotaxi - dois brasileiros em Cuba -Parte I

Não tente entender, apenas clique, amplie e aprecie: esta certamente foi a
foto mais bela tirada na viagem


Varadero: o capitalismo dentro do socialismo

Confesso que venho tentando, desde os momentos em que ainda estava em Havana, escolher uma palavra, ou ao menos uma frase curta, que definisse um pouco o que foi a viagem. Junto do amigo que foi comigo, criamos algumas teorias ao longo de nossa rápida jornada por Cuba. E as melhores definições que encontramos foram "surreal", "contrastante", ou ainda "uma aula de sociologia na prática". Porém, nenhuma conseguirá retratar de forma fiel (ou seria fidel?) o que sentimos por lá.

Cuba é o país dos contrastes. O país que mistura sensações opostas e discrepantes em questão de metros. Lugares onde a beleza é tão irrequieta, instigante e irritante quanto a miséria exposta. Um lugar parado no tempo, o mais próximo que alguém mais jovem pode chegar de viver nos anos 1950.

Capitalismo Selvagem | Após uma rápida passagem pelo já conhecido Panamá, nossa primeira parada foi em Varadero. Constantemente chamada de “a praia mais bonita do mundo”, Varadero fica na província de Matanzas, nome dado em razão da forma como os espanhóis chegaram ao local na época de sua descoberta - sim, os índios foram sendo mortos um a um. Isso é a primeira coisa que destaco em Cuba. Tudo, do período da colonização aos tempos atuais, gira em torno de guerra, sangue, conquistas bélicas e grandes batalhas. Os monumentos, as praças, o hino, a filosofia e, claro, a postura política do país.


Varadero, no entanto, esconde tudo isso muito bem, de uma forma quase americana. Essa região do país é simplesmente fechada para cubanos. Sim, um cubano não pode ir a Varadero (assim como não pode sair do país), a não ser que trabalhe ali. No local, dezenas de resorts recebem os abastados turistas de diversas partes do mundo. Durante meus cinco dias no Sol Palmeiras, conheci pessoas da Rússia, Argentina, Brasil, França, Alemanha, Canadá, Portugal, México e Espanha, entre outros. Só não havia, claro, originários dos Estados Unidos, que vale lembrar, são proibidos de ir à Cuba.

O embargo dos EUA à Cuba é o segundo ponto a ser destacado. Não há Coca-Cola, há Tu Cola. Não existe Mc Donald's, há hambúrgueres comuns. O bloqueio é constantemente citado pelos cubanos, seja por meio de conversas com os locais ou por gigantescos outdoors e faixas que culpam os Estados Unidos pelo terrorismo. Curiosamente, a bandeira da terra de Tio Sam está no aeroporto, junto com as demais. A situação vivida por Cuba atualmente nos faz pensar até que ponto a culpa é exclusivamente do embargo, ou deles mesmo por se isolarem? Certamente não consegui a resposta em tão pouco tempo de viagem.

Varadero é o maior dos contrastes, por se tratar quase uma Disney cubana. É um paraíso capitalista hipócrita no meio de uma terra em clara queda. Os resorts no local usam o sistema "all inclusive" (tudo incluso), o que leva você a tornar-se, como dizíamos, um "porco capitalista" em poucos dias. Afinal, é tudo de graça, o dia inteiro. Nosso trabalho era, basicamente, ir do quarto para a praia ou para a piscina ricamente decorada com pontes. Sempre, claro, parando nos diversos bares para pegar uma bebida - piña colada, cuba libre, fondo del mar e daikiri estavam entre os mais consumidos, além é claro, do tradicional mojito. Na entrada do hotel, um enorme cartaz remonta o início de 1990, quando "nuestro comandante" Fidel Castro inaugurou o hotel. Por meio de Varadero, fica claro o investimento do país em turismo, uma das principais fontes de renda após o término da Guerra Fria.

Não há muito que dizer de Varadero e dos dias no resort. Além da constante exposição ao sol, as atividades recreativas de sempre. Torneios de pingue-pongue, aulas de salsa, campeonato de dardo (que ganhei), aulas de drink e baladas noturnas davam a nós a difícil missão de passar o tempo no Caribe. O sol se encarregou de nos dar a cor dourada que é quase impossível de não conseguir.

A oferta de bebidas era tamanha que em dado momento a piña colada tornou-se um veneno. Procurávamos uma bebida ou um prato diferente para tomar (ou comer) junto com as diversas cartelas de Engov que iam se esgotando aos poucos. Basicamente, passávamos os dias ligeiramente - ou excessivamente - bêbados.

Los Puros | Entre um passeio e outro, os cubanos (funcionários) sempre tentavam nos vender algo. Fosse o famoso rum cubano (añejo blanco do Havana Club) ou los puros (como são chamados os charutos por lá), tudo era oportunidade para vendas. "En mis manos, és más barato", diziam insistentemente. Para um cubano, qualquer chance de renda extra vale muito a pena, o que nos leva ao terceiro assunto, a situação financeira.

Os turistas em Cuba não podem usar o dinheiro do país, o peso cubano. Para os de fora, são passados os pesos convertibles, dinheiro que vale quase tanto quanto o euro. Portanto, quem espera gastar pouco, como em cidades como Buenos Aires ou Montevidéu, irá se frustrar. Um peso convertido vale 450 pesos cubanos. O salário médio, em Cuba, é de 10 pesos. Cartões de crédito raramente são aceitos - quando isso acontece, não podem ser emitidos por bancos americanos. Números como esse explicam por que eles ficam tão felizes ao receber 1 ou 2 pesos de turistas - um médico em Cuba recebe, normalmente, 15 pesos.

A pobreza da população vai além da necessidade de dinheiro. O regime usado por Fidel Castro só dá algo quando extremamente necessário. Não há abastados em Cuba – ou no socialismo. Logo, os itens mais pedidos pela população são os de higiene. Isso mesmo. Munido dessa informação antes de embarcar, levei comigo dezenas de xampus de hotel, daqueles pequenos, recolhidos em viagens anteriores e jamais usados. Se eles gostaram? Basta dizer que voltei sem nenhum. "Hoy voy a bañarme", me disse um dos presenteados. Foi emocionante.

Com a missão de descansar e desconectar do mundo completa, dois bronzeados brasileiros foram à Havana para os últimos três dias antes do retorno a São Paulo. E foram os três dias mais intensos da viagem.

Mas isso fica para outro post. Aguardem por mais textos e fotos.


O kit de sobrevivência na praia: copo com bebida (já estava vazio), óculos escuros, chinelos e protetor solar. É, estava difícil, amigo.

7 comentários:

Unknown disse...

excelente a descrição até o momento. Só faltou o "on the rrrocks, my frriend"

Caru disse...

uaaaaaaaau!!! quero ler mais!
bj

Vitor disse...

Nossa,
imagino como deveria estar difícil hahahahaha

cuba deve ser fascinante, de fato.

Anônimo disse...

Voce eh um mago com as palavras. Me encanta.

Dr. Mala disse...

muitos erros (para não dizer mentiras) em seus textos... vivo em Cuba e tenho muitos (muuuuuuitos) amigos que vivem em Varadero... começando por aí...
suas contas em relação ás moedas cubanas foram equivocadas... o "peso convertible" vale 24 pesos e pode ser trocado por peso cubano e vice-versa, em qualquer praça da cidade, nas CADECAS (casas de cambio)...
cada um com sua opinião sobre a ilha... mas sem mentiras!!!

Luís Joly disse...

Valeu pelas dicas, Adriano.
Normalmente, eu até mudaria o texto. Mas, como são muitas coisas, de acordo com sua visão, vou deixar apenas seu comment aqui para quem quiser ler e entender melhor.

Obrigado,
Luís

Anônimo disse...

ola! pretendo passar o ano novo la em varadero. Tem muitas baladas, gente jovem e solteira ou so casal?