terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Diários de Cocotaxi - Dois brasileiros em Cuba - Parte III e final

Fachada do hotel tomado por Fidel Castro no início da revolução: estávamos hospedados em pura história

Havana Libre: o hotel da revolução

Em Havana, a aula cultural começou pelo próprio hotel. O Habana Libre é o prédio mais alto da cidade, com 27 andares. Na época em que foi contruído, em 1958, era o maior da América Latina. Não ficamos no último andar, obviamente (estávamos no 8º), mas a vista, postada no capítulo II dessa saga, vale muito a pena.

O Havana Libre nem sempre teve esse sugestivo nome. Até 1958, ano I de sua construção, ele era chamado de Havana Hilton. Teve um papel fundamental no período da Revolução Cubana, em 1959. No lobby do hotel, diversas fotos remontam a época de guerra, com imagens dos soldados no restaurante ou deitados no saguão principal.

O quarto 2223, em especial, possui uma mística maior. Ele é o quarto onde costumava ficar Che Guevara - sim, sempre ele - e seus companheiros de revolução. Fomos até o quarto em questão, mas confesso que não tinha nada demais, era apenas mais um corredor. Portanto, não tirei fotos do local.

Carros | De volta às ruas, outra marca registrada de Havana e Cuba salta aos olhos: a frota. Os carros de Havana são absolutamente únicos. São divididos em três gerações: os mais antigos, dos anos 1940 e 1950, foram comprados antes da revolução e passam de pais para filhos. A segunda são marcadas pelos carros soviéticos. A Lada era a principal montadora a suprir Cuba com carros durante os tempos da Guerra Fria, em especial entre 1970 e 1980. A terceira geração são de carros modernos.

É impressionante ver carros como um Chevrolet "rabo de peixe" de 1950 - ou menos - andando em (aparentes) boas condições por todos os lados. É uma estranha sensação de uma surreal e frustrante volta no tempo. Frustrante por a associação estar incompleta. Carros como aqueles são vistos em filmes como De Volta para o Futuro, mas em Havana somente os carros condizem. O restante, prédios e pessoas, estão sucateados e sofrem com a ação do tempo sem conservação alguma.

Como os carros não podem ser comprados, eles vão trocando de mãos. O Dodge 1950 que andamos (vide foto) era da avó do motorista. A manutenção é difícil, o que dá aos cubanos o título informal de "melhores mecânicos do mundo". A frota é toda dividida por cores de placas, que representam desde turistas e exército até governo e carros particulares. Os únicos que podem comprar carros novos são - de novo - esportistas, médicos ou artistas.

Salsa | Cuba é um país com vocação para a música. A salsa está presente o dia inteiro, em pequenos e velhos rádios ou em bailes noturnos. Para os turistas, claro, chegam sempre cantantes tocando os clássicos da música cubana. Destaque para "Comandante Che Guevara" (que pode ser ouvida aqui) e "Guantanamera", escrita em homenagem a uma moça de Guantânamo, base militar no litoral de Cuba.

Aproveitei para quebrar uma antiga escrita: nunca havia tocado violão fora do Brasil. Eis que, dado momento, na beira do mar, um dos artistas de rua veio tocar para ganhar uns trocados. Aproveitei para pedir o violão e fiz, ali na rua e na frente de dezenas de cubanos, uma bela versão de "Boate Azul", regravada recentemente nas vozes de Bruno e Marrone e escrita por Benedito Onofre - sim, claro que eu tocaria um Elvis, mas acho que em Cuba, poderia não soar bem. :-)

Muitos me perguntam se eu fui ao Buena Vista Social Club. Descobri - apenas lá - que não se trata de um local específico, mas de uma banda. Eles não tocam sempre no mesmo lugar, e não consegui assistí-los. Mas a influência de Compay Segundo, morto em 2003, é enorme. Compay é um dos maiores ídolos da música cubana e fotos dele estão presentes em diversos quadros, sempre acompanhado de um café e de um puro.

Saí de Cuba com o espírito rejuvenescido e cheio de idéias. Junto, porém, uma pequena frustração. Cuba é um país fantástico e gostaria muito de ficar por lá mais tempo. Fica fácil a impressão de que fazer um livro sobre Cuba seria algo muito estimulante e renderia boas e saborosas páginas.

Um dia, quem sabe, isso acontece.

P.S: ah, e o cocotaxi do título? Ei-lo aqui. Trata-se de outra atração pitoresca da ilha. Basicamente, o Cocotaxi é uma moto com dois lugares traseiros, sem cinto, sem segurança alguma, mas obrigatório pra quem está lá. Demos uma volta no Cocotaxi de noite. Ele certamente não passa de 50 km/h, lembrando em muito também um kart.

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