Há poucos posts, falei sobre quantas coisas mudaram entre 2001 e hoje. Entre elas, está a era Bush, que enfim chega ao fim. Absolutamente lamentável uma gestão que valorizou a guerra e criou um novo Vietnã.
Hoje um artigo fantástico está na "Folha de S. Paulo", escrito por Gideon Rachman, do "Financial Times", e traduzido por Paulo Migliacci. Leiam, vale a pena.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2001200902.htm (para assinantes UOL/Folha)
Ou aqui mesmo:
Um caso em que o homem é a mensagem
Hoje, ao pronunciar seu discurso de posse, Obama poderá manter as generalizações que inspiraram tanta gente. Mas, quando ele estiver no poder, isso vai mudar.
Governar é escolher. Como presidente, Obama por fim será julgado não pelo que é ou pelo que diz, mas sim pelo que faz
Hoje Barack Obama finalmente terá a chance de dizer alguma coisa memorável. Essa afirmação pode parecer ranzinza, já que estou falando de um homem elogiado como um dos grandes oradores de sua era. No entanto, Obama aperfeiçoou a arte de soar maravilhoso sem dizer grande coisa.
Eu estive no estádio em que Obama fez seu discurso de aceitação da candidatura presidencial, na Convenção Nacional do Partido Democrata, em agosto. Foi hipnótico, comovente. Mas, estranhamente, não lembro coisa alguma do que ele disse.
Essa amnésia é um sintoma bastante comum. Uma consulta rápida a colegas revela que a única frase do novo presidente que ficou alojada de forma indelével em nosso cérebro coletivo foi o "yes, we can". Alguns poucos mencionaram "mudança em que se pode acreditar".
Hoje, quando ele fizer seu discurso de posse em Washington, Obama sem dúvida fascinará sua audiência uma vez mais. Também terá a chance de enfim fazer um discurso cujas sentenças ressoem na história. Mas talvez seja mais sábio para ele deixar isso de lado. Pois, no caso de Barack Obama, o homem é a mensagem. Obama inspira não por conta de qualquer coisa que diga, mas simplesmente por ser quem é.
Michael Gerson, redator de discursos para o presidente George W. Bush, disse que, quando leu os discursos de posse de todos os presidentes, se tornou óbvio para ele que o tema central da história americana é a questão racial. Só por subir ao palanque como o primeiro presidente negro dos EUA, Obama está enviando uma mensagem de mudança.
Mas não é apenas a etnia de Obama que envia uma mensagem. Mesmo nos casos em que não diz nada de memorável, o domínio que tem sobre a linguagem e sua evidente inteligência oferecem um alívio depois da balbuciante falta de articulação de Bush.
Durante a campanha, Obama enviou outra mensagem por manter a calma durante o colapso em Wall Street, enquanto seu rival, John McCain, se debateu melodramaticamente com o tema. Obama se comportou de modo presidencial. O novo presidente tem consciência de que suas qualidades elusivas só reforçam seu poder político. No prólogo de "A Audácia da Esperança", ele escreveu que serve "como uma tela vazia na qual pessoas de inclinações políticas diferentes projetam suas opiniões".
Obama parece estar conseguindo realizar o mesmo truque no resto do mundo. Ele é ainda mais popular no exterior do que no seu país. Mas o restante do mundo tampouco tem em que se apoiar. As pessoas sabem que Obama parece um homem ponderado, que é negro, que se opôs à Guerra do Iraque e que acredita em diálogo. E sabem que ele não é Bush.
Esse ponto é crucial. A eleição presidencial revelou não apenas uma tensão entre dois Estados Unidos que Obama prometeu reconciliar -o liberal [progressista] e o conservador. Ela também revelou a divisão entre o excepcionalismo e o universalismo americanos.
O excepcionalismo americano gostaria de manter o país isolado do restante do mundo.
Caso o país seja governado por excepcionalistas, tenderá à introspecção, adotará controles de fronteira mais severos, aumentará as tarifas e venerará ainda mais as Forças Armadas.
Já o universalismo envolve um país que contempla o resto do mundo com atenção e prospera em função de suas conexões com ele. Com um pai queniano, uma infância passada em parte na Indonésia e um segundo nome (Hussein) que o vincula ao Oriente Médio e ao mundo islâmico, Obama parece personificar um país muito diferente daquele que Bush representa com seu estilo texano monocultural.
Portanto, no exterior como em seu país, o novo presidente dos EUA é uma "tela vazia" na qual as pessoas projetam suas visões. Hoje, ao pronunciar seu discurso de posse, Obama poderá manter as generalizações que inspiraram tanta gente.
Mas, quando ele estiver no poder, isso vai mudar. Governar é escolher. Como presidente, Obama por fim será julgado não pelo que é ou diz, mas sim pelo que faz.
Eu estive no estádio em que Obama fez seu discurso de aceitação da candidatura presidencial, na Convenção Nacional do Partido Democrata, em agosto. Foi hipnótico, comovente. Mas, estranhamente, não lembro coisa alguma do que ele disse.
Essa amnésia é um sintoma bastante comum. Uma consulta rápida a colegas revela que a única frase do novo presidente que ficou alojada de forma indelével em nosso cérebro coletivo foi o "yes, we can". Alguns poucos mencionaram "mudança em que se pode acreditar".
Hoje, quando ele fizer seu discurso de posse em Washington, Obama sem dúvida fascinará sua audiência uma vez mais. Também terá a chance de enfim fazer um discurso cujas sentenças ressoem na história. Mas talvez seja mais sábio para ele deixar isso de lado. Pois, no caso de Barack Obama, o homem é a mensagem. Obama inspira não por conta de qualquer coisa que diga, mas simplesmente por ser quem é.
Michael Gerson, redator de discursos para o presidente George W. Bush, disse que, quando leu os discursos de posse de todos os presidentes, se tornou óbvio para ele que o tema central da história americana é a questão racial. Só por subir ao palanque como o primeiro presidente negro dos EUA, Obama está enviando uma mensagem de mudança.
Mas não é apenas a etnia de Obama que envia uma mensagem. Mesmo nos casos em que não diz nada de memorável, o domínio que tem sobre a linguagem e sua evidente inteligência oferecem um alívio depois da balbuciante falta de articulação de Bush.
Durante a campanha, Obama enviou outra mensagem por manter a calma durante o colapso em Wall Street, enquanto seu rival, John McCain, se debateu melodramaticamente com o tema. Obama se comportou de modo presidencial. O novo presidente tem consciência de que suas qualidades elusivas só reforçam seu poder político. No prólogo de "A Audácia da Esperança", ele escreveu que serve "como uma tela vazia na qual pessoas de inclinações políticas diferentes projetam suas opiniões".
Obama parece estar conseguindo realizar o mesmo truque no resto do mundo. Ele é ainda mais popular no exterior do que no seu país. Mas o restante do mundo tampouco tem em que se apoiar. As pessoas sabem que Obama parece um homem ponderado, que é negro, que se opôs à Guerra do Iraque e que acredita em diálogo. E sabem que ele não é Bush.
Esse ponto é crucial. A eleição presidencial revelou não apenas uma tensão entre dois Estados Unidos que Obama prometeu reconciliar -o liberal [progressista] e o conservador. Ela também revelou a divisão entre o excepcionalismo e o universalismo americanos.
O excepcionalismo americano gostaria de manter o país isolado do restante do mundo.
Caso o país seja governado por excepcionalistas, tenderá à introspecção, adotará controles de fronteira mais severos, aumentará as tarifas e venerará ainda mais as Forças Armadas.
Já o universalismo envolve um país que contempla o resto do mundo com atenção e prospera em função de suas conexões com ele. Com um pai queniano, uma infância passada em parte na Indonésia e um segundo nome (Hussein) que o vincula ao Oriente Médio e ao mundo islâmico, Obama parece personificar um país muito diferente daquele que Bush representa com seu estilo texano monocultural.
Portanto, no exterior como em seu país, o novo presidente dos EUA é uma "tela vazia" na qual as pessoas projetam suas visões. Hoje, ao pronunciar seu discurso de posse, Obama poderá manter as generalizações que inspiraram tanta gente.
Mas, quando ele estiver no poder, isso vai mudar. Governar é escolher. Como presidente, Obama por fim será julgado não pelo que é ou diz, mas sim pelo que faz.
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