quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Venezuela, um país dividido


Parte II - Isla Margarita, um resort infernal e o paraíso das compras

Quando saímos de Los Roques, após 3 dias de intenso sol, mar, praia e bronzeados como nunca (leia-se "rosas dos pés à cabeça"), encaramos com muito otimismo o período em Isla Margarita. Sabíamos que, apesar dos transtornos iniciais, seria uma experiência bacana.

Transtornos? Sim, deixe-me contextualizar a coisa. Antes da viagem, tudo já estava certo e pago. Em Margarita, ficaríamos no Hesperia Isla Margarita. Cinco estrelas, praia quase exclusiva, além do regime "all inclusive", aquele maravilhoso sistema em que você pode comer e beber o que quiser o dia inteiro, tudo na faixa.

Pois bem. Uma ou duas semanas antes da viagem, fomos informados que haveria uma cumbre (cúpula, em espanhol) do Chávez, e que portanto ele estava tomando o resort Hesperia Isla Margarita inteiro para ele. Assim, simplesmente. Os hóspedes que já estavam reservados para ficar lá simplesmente ficaram sem hotel!

Nossa agência de viagens nos explicou o ocorrido, e nos deu como opção mudarmos para o resort Hesperia Playa el Agua, da mesma rede, um pouco mais afastada e quatro estrelas - portanto, 1 a menos do que pagamos. Antes de aceitar, pedimos uma compensação qualquer para eles. E, resumindo, o hotel nos prometeu uma "atenção especial".

Não falarei aqui como foi a experiência em Margarita. Apenas vou reproduzir abaixo o e-mail que mandei ao agente de viagens, após o retorno. Vejam e constatem como, quando quero, consigo ser bastante chato:

Caro Geronimo, bom dia.

Escrevo para lhe passar um pouco do que foram as férias na Venezuela ao lado do Lucas. Como sempre, o serviço de transfer entre os vários locais que estivemos foram impecáveis. Simpatia e bom atendimento nesse quesito. Los Roques nos surpreendeu positivamente com sua beleza, apesar das constantes quedas de luz no local - algo relativamente normal por lá. Caracas, em uma passagem rápida, também foi uma boa experiência, incluindo o hotel Pestana, certamente um dos mais belos que já fiquei. Tudo muito bom.

Isso, porém, não apaga o que passamos no resort Hesperia Playa El Agua, justamente o trecho mais longo da viagem - e o local que contávamos mais para nos divertir. Encontramos erros em diversos âmbitos: atendimento, comida, frequência, localização, agilidade, acomodações, etc. Ao longo do e-mail, irei detalhar melhor.

Essas falhas já seriam frustrantes tivéssemos, de fato, reservado aquele resort. Porém, ficava pior quando lembrávamos que havíamos pago por um resort 5 estrelas e estávamos em um 4. E irritava quando sabíamos que o resort prometeu-nos uma "atenção especial".

Pois sinto lhe informar que essa atenção especial foi, na verdade, uma falta de atenção especial. A seguir explico em tópicos.

- Comida: comida de péssima qualidade, em pouca quantidade. No dia em que chegamos, um dos três restaurantes estava fechado para reformas, sem que tivéssemos sido informados. Com um local a menos, a conta é fácil: os demais funcionando estavam sempre lotados, com filas imensas, péssimo atendimento. As opções de bebida em um deles era suco estilo "tang" de laranja ou morango, acredite. No café da manhã, ovos mexidos e outros itens típicos desta refeição acabavam em minutos; pratos e tigelas estavam lascados e rachados; não havia colher, em mais de uma ocasião; a música executada nos auto-falantes dos locais pulava, indicando o CD riscado - e mesmo assim não trocavam. Os pães eram servidos sem pegador: os hóspedes escolhiam com a mão - alguns deles pegavam e devolviam.

Fomos almoçar no primeiro dia um pouco mais tarde e encontramos filés de frango frios embalados com filme plástico. Hambúrgueres tostados demais, pães em falta...

- Lobby: de longe, muito longe, o pior que já estive. Sem ar condicionado, aberto, infernal de quente, com um terrível atendimento no balcão. Não sabiam de nossa famosa "atenção especial" quando fizemos o check-in; não respeitaram a fila quando fizemos o check out; o wi-fi não funcionou; não havia um bar no local. Onde ele funcionava, apenas uma faixa amarela de interdição, lembrando aquelas cenas policiais dos EUA. Sim, o bar principal também estava fechado.

- Bares: mais um exemplo do atendimento deplorável deste resort. As bebidas eram boas, mas a agilidade não existia. Mal humor, indisposição e constante falta de ingredientes. Em uma ocasião, fomos pedindo as bebidas, uma a uma, para checar qual havia. Tudo acabava: suco de laranja, tequila, côco. O bar da piscina central, que fechava todos os dia 1 de manhã (não havia um bar 24h), parava de atender 15 minutos antes. Quando cheguei 0h45 ao local para pedir bebidas, nos serviram cervejas, dizendo que iam fechar. Quando insisti dizendo que ainda não era hora de fechar, foram ríspidos e falaram que tudo já havia acabado (no balcão, todas as bebidas já estavam guardadas, claro). Um desleixo com o cliente que nunca vi em qualquer hotel.

- Quarto: o atendimento nele era lamentável. Faltavam toalhas todos os dias. Em um deles, tivemos que ligar mais de uma vez, pois horas haviam passado e nada chegou. A limpeza era mal feita e a acomodação tinha um claro cheiro de mofo.

- Atividades diárias: a música que tocava nas piscinas era a mesma, todos os dias. As atividades noturnas eram fracas: limitavam-se a shows de dança típicos, sem qualquer interação com o público. Durante o dia, apenas vôlei na água e um concurso de dança. Tudo acontecia sempre no mesmo local, um palco ao lado da piscina, dando ao hóspede uma sensação de rotina, justamente o que ele não quer em um resort.

- Mentira: a equipe de monitores organizou uma balada para os hóspedes: transfer ida e volta mais entrada para a Kamyl Beach. Nos convenceram, dizendo que seria a melhor da região e estaria cheia. Pagamos, certos de que valeria a pena. Chegando ao local, estava vazio, às moscas. Perguntamos a eles se a disco Frog's, que nos indicaram, estava melhor. Nos disseram que não, que estava vazia pois ficava em região militarizada. Fomos conferir mesmo assim, e surpresa: a balada estava cheia, lotada e agitada.

- Frequência: justamente o que não queríamos. Casais aos montes, crianças e idosos. Em cinco dias de resort, eram raras as ocasiões em que víamos grupos de amigos ou amigas jovens, que não fossem casais. Ou seja, a ideia de ir a um resort divertido, com agitação e pessoas para conhecer foi pelo ralo.

Pior, a frequência era notadamente simples: 95% de venezuelanos de classe média com suas família. Éramos os únicos brasileiros e pouquíssimos estrangeiros estavam conosco. Após o bar da piscina fechar, 1 da manhã (ou 15 minutos antes, como vi), o resort ficava em silêncio sepulcral. Não havia nenhuma turma de jovens disposto a curtir a noite.

Resumindo: sei que tínhamos a opção de postergar nossa viagem em razão da Cumbre que tomou nosso hotel. Sei também que este mesmo evento prejudicou um pouco a situação normal na ilha. Mesmo assim, confiantes nas nossas exigências e nas trocas de e-mail, fomos certos de que o resort 4 estrelas seria tão bom quanto o 5. Acreditamos nas palavras de todos os fornecedores envolvidos, especialmente você, a julgar pela ótima experiência que tivemos em Cuba, dezembro passado.

Não foi o que tivemos.

Já me disseram que resorts no regime "all inclusive" caracterizam-se pela quantidade, e não qualidade. Concordo que a proposta seja outra, mas não aceito falta do mínimo de qualidade. Pagamos um bom preço por isso - de fato, pagamos por algo que não tivemos de forma dupla: um resort 5 estrelas e essa misteriosa e desaparecida atenção especial que, reitero, não aconteceu em nenhum momento durante todos os cinco dias em que lá estivemos.

Sem mais, espero por um esclarecimento e alguma forma de compensar a experiência que passamos no esquecível resort citado.

Obrigado,
Luís Joly

Entenderam agora como foi a experiência em Isla Margarita? Alguns detalhes adicionais: por causa da maldita cumbre do Chávez, o fim de semana que estávamos lá teve a cidade toda militarizada e lei seca. Nas poucas baladas que fomos, tudo estava às moscas. Claro, no resort ainda podíamos beber, mas o que havia para fazer naquele lugar? Para compensar essa frustração, só mesmo uma coisa podia nos ajudar.

Compras
Nem tudo estava perdido em Isla Margarita. Soubemos, pouco antes de embarcar, que toda a cidade é tax-free, ou seja, isenta de impostos em suas lojas. E, no segundo dia do hotel, achamos o shopping Sambil, um palácio do consumo, com 250 lojas, inclusive as maiores grifes dos EUA e Europa.

E aqui vai uma dica importante para quem vai à Venezuela: a taxa de câmbio por lá é controlada pelo governo, em outras palavras, é a taxa oficial: 1 dólar que valem 2,1 bolívares fuertes. Porém, ninguém usa essa taxa. Os venezuelanos possuem um limite para compra dólares ou euros e, portanto, os compram no mercado paralelo. Nas ruas, nas lojas e afins, era possível trocar 1 dólar por até 6 bolívares fuertes. Em euros, é ainda mais vantajoso. Alguns locais chegam a trocar 100 euros por 900 bolívares (mais do que o salário mínimo deles, de 800 bolívares).

Com o dinheiro nas mãos, fomos às compras. E vale muito a pena, gente. Muito melhor que os famosos outlets de Nova Iorque (nunca fui) ou similares. Mas, claro, a vantagem só existe se você pagar em dinheiro. Caso opte pelo cartão de crédito, você irá pagar pela taxa de câmbio oficial. Ainda haverá vantagem, mas nao tão grande. Pra gente foi até melhor. Saberemos que o cartão de crédito não vai nos assustar no mês seguinte...

Alguns exemplos? Calças da Diesel por 100 reais. Bermudas da Tommy por 40 reais. Camisas da Moose por 30 reais...E por aí vai.

Como o período em Margarita não foi nada demais, não há um link para fotos. Apenas algumas, que incluí abaixo, além da montagem inicial. Nos vemos na terceira e última parte da série Venezuela, que irá abordar a capital, Caracas.

Em tempo: ainda não recebemos a compensação da agência de viagens. Quando a conseguirmos, eu atualizo o post.

A vista do nosso quarto: uma das piscinas do resort

O teto do shopping com as 250 lojas

5 comentários:

Feer Amaral disse...

Que viagem eim...
Bom, eu creio que vc não foi um chato, só exigiu seus direitos como consumidor. O brasileiro geralmente não se importa com certos detalhes..mas se for ver bem, temos dever de sermos bem tratados, tanto faz fora do país ou não.. Fui para Bonito aqui mesmo no MS, no ano passado, e o atendimento la não foi dos melhores e não tinha opções de divertimento durante a noite... Cidades turisticas e hotéis que vendem serviços relacionados à turismo tem obrigação de tratar seus visitantes com toda a atenção, ja que eles sobrevivem disso né..

Bjo, paz e força sempre...

Vitor disse...

Achei você um chato, de fato. Mas até que você tinha razão hahahaha porra, que mancada hein...mas pelo menos as muambas valeram a viagem! heheheheh

Anônimo disse...

Será que a agência de viagens vai responder?! Tô curioso!

Viviane tavares terra disse...

Olá! Estou pensando em conhecer a Ilha de Margarita, mas fiquei um pouco chocada com o teu relato. O maior problema é que eu estou organizando a minha viagem sem agência e fiquei com medo de acontecer EXATAMENTE o que aconteceu contigo (ficar sem hotel!).

Mas enfim, existiu algo bom da ilha que você tenha gostado? A night que voce conseguiu de fato curtir era boa? Além das compras, o que mais a ilha tem de interessante?? As pessoas sao simpaticas? Não vejo problema em não ter muito gringo, eu até prefiro, mas gosto de me sentir bem no lugar e saber que tenho o que fazer, mesmo não tendo nada. kkkk
:D

Estou te seguindo, espero que possamos compartilhar mais dicas de viagens!

Luís Joly disse...

Terra, o lugar é bacana sim. Mas ele vale mais pelas compras mesmo. A parte da balada deve ser boa, mas isso eu não tenho como te confirmar, infelizmente. Fomos em umas duas baladas, algumas estavam cheias. O pessoal gosta mto de dançar lá. Dançam os ritmos caribenhos a noite toda. O pessoal é simpático sim, mas se eu fosse te recomendar um local, seria Cuba, que é do lado e bem mais legal. Escrevi sobre ela no blog, dá uma olhada! Abração!