Venezuela, um país dividido

Parte final - Caracas, favelas e Chávez
Você sabia que o nome "Venezuela" vem de "pequena Veneza"? Então, isso não tem nada a ver com o resto do texto. Nossa parada final em terras venezuelana foi a capital federal, Caracas. E, de certa forma, o lugar que menos alimentávamos expectativas. Todos que já conheciam a cidade deixaram claro que ela não tinha muito a oferecer. Com base nas informações, reservamos apenas dois dias para a estadia.
Nossa expectativa, de certa forma, se confirmou. Caracas lembra muito a parte ruim do Rio de Janeiro. Muitas favelas, enormes, incríveis, espalhadas por serras longas e altas. A ida do aeroporto ao hotel também me associou à volta do litoral paulistano. Uma enorme rodovia, cercada por serras, e favelas espalhadas. Leva-se um tempo para chegar à porção boa da cidade. Deixo aqui um vídeo, que fiz no banco de trás do táxi, que mostra bem a quantidade e tamanho das favelas em Caracas.
O hotel que ficamos, o Pestana, é altamente recomendável. Hotel cinco estrelas, uma piscina na cobertura invejável e quarto de altíssima qualidade. Nas ruas, os postes têm os fios aterrados. Não há buracos no asfalto, nem motoboys. E a gente tem aquela sensação de "por que só na minha cidade...?" (momento desabafo). A frota de carros é relativamente boa, a maioria dos veículos vindo dos EUA mesmo. E os ônibus são uma piada. O metrô é muito bom, bem parecido com o de São Paulo. Mas espalhado de cartazes do Chávez. E é proibido tirar fotos...
Chávez
E, já que começamos nesse tema, vamos lá. Desde o primeiro post sobre a Venezuela, ainda não falei de Hugo Chávez. Foi proposital. Deixei tudo para o último texto. Embora só fale nele agora, conversamos sobre o tema com venezuelanos desde o primeiro dia de viagem. Primeiro, para sentir o que achavam do polêmico líder. Seriam apaixonados por ele? Seguidores fieis? Teriam alguma opinião formada? O detestariam, talvez?
Sim, o detestam. Prezamos por conversas com os locais por todos os países que vamos. E por lá não foi diferente. De taxistas aos hóspedes em Isla Margarita, todos são unânimes: Chávez está acabando com o país. Eis algumas das frases que ouvimos:
"Chávez é um imbecil que está no poder. Ele cria leis estúpidas apenas para mostrar que pode fazer o que quiser".
"Esse animal acabou com a minha carreira. Era um funcionário público há mais de vinte anos, e perdi tudo por causa dele. Minha esposa e eu temos de trabalhar como taxistas para nos sustentar."
"Chávez não é militar. Não é político. Não é ditador. É um idiota no poder".
"Esse animal acabou com a minha carreira. Era um funcionário público há mais de vinte anos, e perdi tudo por causa dele. Minha esposa e eu temos de trabalhar como taxistas para nos sustentar."
"Chávez não é militar. Não é político. Não é ditador. É um idiota no poder".
Tudo seguia mais ou menos nessa linha. No caso de Isla Margarita, tivemos a oportunidade de conversar bastante com os abastados venezuelanos que por lá estavam. Muitos pensam deixar o país. Não concordam com a política de Chávez em nenhuma maneira. Entre as críticas, mais curiosas, estava a mudança do fuso horário: a Venezuela tem uma diferença de 1 hora e meia em relação ao Brasil. Pois é. Apenas o Irã e um país asiático quebram o fuso em meia hora. A razão, dizem as pessoas que falaram conosco, era "garantir mais tempo na escola para as crianças".
As mudanças de Chávez
Chávez também mudou o nome do país, para República Bolivariana da Venezuela. Idolatra Simón Bolívar, o conquistador de países como Colômbia, Venezuela e Panamá. Chávez muda nome de praças e parques. Troca-os por nomes de heróis políticos. Chávez determinou que toda cidade venezuelana tenha ao menos uma praça de nome Simón Bolívar. E com um obrigatório busto do herói no meio dela.
Chávez trocou o dinheiro dos venezuelanos. E cortou três zeros. Agora, estão com o bolívar fuerte, sendo que 1 Bf. equivale a 1000 bolívares. Alguma semelhança com um passado muito recente nosso?
Pois é. A Venezuela em algumas coisas lembra o Brasil dos anos 1980. Incerteza econômica, muita inflação, taxas de especulação, mercado negro, overnight e outros nomes que já não fazem parte do nosso repertório econômico doméstico.
Nas ruas de Caracas, ainda é possível ver a influência histórica dos EUA. Redes de fast food americanas estão espalhadas por todos os cantos (muito mais do que aqui). Grifes de roupas norte-americanas aparecem em qualquer shopping. Termos em inglês são comuns.
Resta saber quanto tempo vai levar para que elas saiam dali.
Epílogo: termino a série Venezuela com a foto abaixo. O cenário? Uma favela, ao fundo. Mas, de noite, parece quase mágico. Foi a foto mais bonita que fiz em Caracas. Talvez não mostre a beleza real na tela de seus computadores. Mas aqui vai (clique na imagem para ampliar).
