Roberto Dias (1943-2007)
O jogo começou há pouco. São Paulo e Boca Juniors decidem uma vaga na Copa Sul-Americana. Mas o brilho da partida sumiu para mim.
Gostaria de ter uma imagem para colocar aqui no post, como costumo fazer. Mas não tenho. Jamais tirei uma foto ao lado de Roberto Dias.
Durante minha infância e adolescência, o herói tricolor dos tempos em que o Paulistão era o torneio mais importante do ano, foi figura constante. Quando eu frequentava a escola de futebol para sócios, era ele ao lado de Terto, quem nos ensinava a jogar.
Lembro-me de meu pai, à época diretor do clube, contando como foi a contratação de Dias. O ex-jogador aceitou o emprego, e usava sempre o mesmo agasalho vermelho, ainda com aquele logo antigo da Adidas, na passagem pelo fornecedor de materiais em 1989.
Dias nos ensinou a jogar. Claro, nem eu ou qualquer outro aluno da escolinha tornou-se um jogador profissional. Mas aprendemos muito com ele. Na época ele já tinha uma idade razoavelmente avançada, e usava mais da teoria, e deixava a prática para o Terto.
Foram momentos especiais.
Com o passar dos anos, pequenas histórias ganham tamanho, proporções e tornam-se aqueles "causos" que tantos repetiremos ao longo de nossa vida (especialmente na velhice). E um dos que mais irei contar envolve o saudoso Dias.
Quando estávamos fazendo aquecimento antes de um jogo em uma quadra de salão, começou uma brincadeira sobre cobrar pênaltis. Então, o Dias começou a nos ensinar como cobrar a falta. Desde o momento de acertar a bola, de olhar para o goleiro, de correr e chutar. Lembro do timbre da voz dele falando. O bigode grisalho, aos nossos infanto-juvenis olhos, parecia enorme e fora de moda.
Tínhamos nossos 13 ou 14 anos. Sem a menor idéia de quem era, de verdade, aquela pessoa. Roberto Dias, segundo me contam, foi o maior marcador que Pelé ja teve - isso nas palavras do próprio Rei do Futebol.
Ruins-de-bola como só nos, jamais aprendemos a bater pênaltis como ele. Mas fizemos um desafio naquele dia: em uma quadra de salão (ou seja, com um gol bem menor), Dias iria cobrar o pênalti, que nunca e jamais errava, com dois goleiros.
Decidimos isso porque era sempre a mesma coisa. Ele dizia sempre "eu vou bater ali", apontando para um canto. E lá ia a bola para o outro. E nós arriscávamos um lado do gol. E ele mandava para o outro. E nos jogávamos para o oposto ao que ele anunciava - e a bola ia no que não estávamos. Batata. Com dois goleiros, sem chance.
Pois não é que ele fez o gol de novo? Fomos buscar a bola na rede, enquanto ele sorria de uma forma tímida, como sempre fez.
Fica aqui minha rápida homenagem ao eterno Roberto Dias, um dos maiores ídolos do São Paulo, que tive a honra e privilégio de jogar, e levar - vários - gols.