Jean Marie Balestre (1921-2008)Morreu aos 86 anos Jean Marie Balestre, ex-presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Mas isso você encontra com mais informações em diversos portais de notícia. O objetivo deste blog, afinal, não é informar, mas sim registrar.
Esse senhor nascido na França, sempre com uma cara rabugenta e com óculos garrafais, foi a primeira pessoa que eu me lembro de odiar. A palavra é forte, sei disso. Mas na infância tudo ocorre de forma superlativa, autêntica e sem preconceitos. Balestre, para os que não sabem, foi o maior inimigo que Ayrton Senna teve na Fórmula 1. Muito além de Prost, Mansell ou Schumacher, apenas rivais na pista.
Em 1989, então com nove anos, descobri, graças ao citado falecido, que as pessoas eram manipuladoras. E muito. Àquela época, Fórmula 1 era tudo pra mim. Acompanhava as corridas, como faço hoje, mas com muito mais paixão. Claro, além do fato do Brasil ser então dignamente representado (bons tempos), a idade contribuía para que aquilo ganhasse tons ainda mais lúdicos para mim.
Foi com a Fórmula 1 que passei as primeiras madrugadas propositadamente acordado, desde os seis anos, quando havia corridas na Austrália e no Japão. Em 88, assisti e gravei, no revolucionário e cheirando a novo videocassete, a vitória que deu o título de Ayrton - sempre ao lado do meu pai.
E, em 1989, vi aquela sujeira feita por Alain Prost, também ao vivo - para os mais jovens ou desmemoriados, vejam o resumo da corrida
aqui. Diga-se, a sujeira maior não foi de Prost, que fechou a porta buscando causar o fim da corrida e seu eventual título. A verdadeira manobra ilegal ocorreu nos bastidores, entre os "homens de terno e gravata", como dizia Galvão Bueno à época.
Balestre desclassificou Senna da corrida por ter cortado caminho pela chicane após a batida com Prost. Um motivo pífio e ridículo, já que Senna claramente não levou vantagem nenhuma ao cortar a curva. Apenas foi empurrado pelos fiscais para não ocupar a pista enquanto estava parado - uma questão de segurança.
O presidente da FIA, porém, decidiu punir Senna mesmo assim. Lembro-me bem dos momentos que mostraram Senna impedido de subir ao pódio, resignado, olhando para o vazio. E de seu depoimento, na corrida da Austrália alguns dias depois, quando revelou ter considerado abandonar a carreira. Como resultado, o brasileiro não levou o título de 1989.
Mais do que isso, Ayrton foi obrigado a "reconhecer" seu erro, ou perderia os direitos de correr na F-1 em 1990. Ele correu, e foi campeão. Mas as consequências do ocorrido no Japão surtiram efeitos até para novas gerações - quem não se lembra de Schumacher em suas manobras para o desfecho do título, em 1994 e 97?
Jean Marie Balestre claramente usou seu poder para favorecer o compatriota Alain Prost. De uma certa forma, ele seguiu os passos de Prost, que tinha o apelido "professor". Balestre foi para mim um mestre. Me mostrou que existem pessoas no mundo que agem por interesses - e usam meios obscuros para atingir seus objetivos.
A lição foi aprendida. Que descanse em paz, Balestre. Você não fará falta.