terça-feira, 6 de maio de 2008

Amando Buenos Aires e São Paulo

Quem é usuário regular ou antigo deste blog, sabe que eu já falei muito das minhas viagens regulares a Buenos Aires. A quinta vez (quarta em três anos), que se encerrou no último fim-de-semana, não foi diferente: cidade encantadora, hospitalidade, caminhadas, calçadas largas e algumas compras. A única mudança foi em relação ao frio, deliciosamente mais marcante que das outras vezes (mas ainda assim, muito agradável).

Em todas as vezes que estive lá, sempre aconteceu o mesmo processo, algo que eu chamo de “efeito revolta Buenos Aires” (não encontrei nome melhor). Revolta, sempre devido ao mesmo motivo: por que as coisas funcionam por lá, um país também em desenvolvimento e com problemas até mais sérios do que o Brasil? Quando me refiro a “coisas”, falo mais da cultura das pessoas, em especial.

Andar em Buenos Aires é saborear um pouco da história da Argentina. Monumentos enormes ou pequenos, estão sempre lá para registrar e eternizar os nomes e momentos que mais marcaram as conquistas portenhas. Mesmo os mais distraídos ou desinteressados trombam com praças como “Homenagem À Comunidade Croata” ou coisas do tipo. Avenidas largas, planejadas, ruas que não precisam mudar de nome a cada quatro quadras em tributo às pessoas (vide a Av. Cidade Jardim, que é Tajurás, São Valério, Augusta, Colômbia, etc). Lá, as pessoas recebem estátuas e praças. Aqui, recebem nomes de rua.

“Se fosse em São Paulo, essa praça estaria cheia de mendigos”. “Se fosse no centro de São Paulo, já teríamos sido assaltados”. “Em São Paulo teriam pichado tudo isso”. Essas eram frases comuns durante toda a viagem entre meus amigos e eu. Naturais, saíam até em tom jocoso. A comparação, infelizmente, era lamentável e quase sempre vitoriosa pra eles, denegrindo ou diminuindo nossa própria cidade. São Paulo cresceu e se tornou a maior cidade do país de forma desordenada e caótica. Hoje, imagino que 90% do que é gasto por aqui é emergencial, urgente e, na melhor das hipóteses, necessário há muitos anos.

Mas, como nem tudo é eterno, regressei. E, no caminho pra casa, esse "efeito revolta" começa aos poucos a se dissipar em nosso ar poluído. Já era madrugada e, sem trânsito e no escuro, a cidade aparecia diante dos meus olhos muito mais bela do que realmente é. Foi possível vislumbrar a beleza dos jardins com paisagismos próximos às marginais, dos enormes viadutos e passarelas que preenchem quarteirões paulistanos, do asfalto renovado e prédios colossais em construção. Os olhos miram e a mente se encanta com o que é nosso. Também temos a nossa beleza, é verdade.

Mas as horas passaram, o dia clareou e trouxe com ele as pichações, o trânsito e a desorganização tão nossa. De volta a São Paulo, hoje já estou imerso no frenético dia-a-dia da nossa capital como se daqui nunca tivesse saído. A viagem parece uma lembrança distante e o que preenche meus pensamentos são afazeres do trabalho e músicas que ouvi no caminho. Inebriado no genioso ar paulistano, começo a fazer as contas para a próxima visita a Buenos Aires

A paixão não necessita explicações.

3 comentários:

Patty Diphusa disse...

Que saudades de Buenos Aires. Bom lugar para se estar, e se com amigos, melhor ainda.

Beijps

Anônimo disse...

Esse é o nosso problema. Falta paixão e cuidado com o que é nosso, pq o jardim do vizinho por si só já é mais bonito e qdo a causa disso é culpa nossa e do nosso desprezo com o possível, fica ainda mais belo.
A paixão tb cega.
;o)

Anônimo disse...

Qto tempo perdemos passeando em São Paulo??? Mas digo passeando mesmo, sem stress, sem horário, apenas observando o que a cidade tem a nos oferecer.

Me peguei fazendo coisas em BsAs que nunca fiz em SP e seria totalmente possível! Passear pelo centro durante o dia obsevando a arquitetura, visitar museus querendo extrair deles um pouco de história local, observar os "populares" e por aí vai...

Tb me apaixonei por Buenos Aires (afinal eles têm Quilmes de 1l), mas nossa cidade tb tem segredos!

Apaixone-se todos os dias!