domingo, 26 de julho de 2009

Mal estar nostálgico
O acidente de Felipe Massa, claro, só podia lembrar 1994





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Imagens feitas pelo helicóptero. Carro batido. Suspense. Medo. Falta de informações (em um mundo onde elas chegam em todo momento). Ver as cenas da retirada de Felipe Massa do carro foi de um ruim nostálgico. Lembraram, claro, aquelas malditas imagens de 1994 que teimam em voltar. Que teimam em machucar e, infelizmente, ainda são referência.

Como se não bastasse a sensação ruim, o acidente de Felipe Massa foi ainda pior por um motivo: tragédia tem o hábito de virar moda. Lembrei de um ocorrido quando um ônibus em São Paulo perdeu uma roda, que saiu desgovernada pelas ruas e causou a morte de cidadãos despreocupados. Na mesma semana, o mesmo improvável acontecimento tinha sido notícia em outro canto da cidade. Parece que o destino deixa para coisas parecidas ocorrerem em tempos próximos. No caso do assunto desta coluna, quem está ligado em automobilismo certamente lembrou de Henry Surtees, jovem piloto da F-2 que morreu há menos de duas semanas por um pneu desgarrado que bateu em sua cabeça. Claro, é desproporcional comparar um pneu a uma pequena mola, mas a conseqüência foi parecida: no momento do choque, ambos perderam a consciência e simplesmente foram reto até a barreira mais próxima.

No momento da batida de Massa, eu me lembrei do quanto a F-1 ainda é um esporte perigoso. É justamente esse perigo, resultado de uma velocidade e de uma precisão milimétrica, que nos fascina e ao mesmo tempo assusta. Em questão de uma curva, tudo pode acabar. Ficamos tristes com e mesmo os mais ferrenhos podem se perguntar se tudo isso vale a pena.

Talvez esses pensamentos confusos sejam resultado das imagens exibidas de Massa, completamente grogue, com um olho arregalado e o outro coberto de sangue, ainda com o capacete. A mola que colidiu com a cabeça de Massa chegou com a velocidade de algo atirado do alto de um prédio. A essa altura, especialistas especulam, fãs fajutos fingem interesse, e alguns aproveitam para tirar mais uma onda do Barrichello por ser justamente do carro dele a mola quase assassina.

Tudo isso à parte, sabemos que os pilotos não pararão de correr, e nem nós pararemos de assistir, aconteça o que tiver de acontecer com Felipe. Somos viciados em velocidade e já sabemos que o medo está no pacote quando começamos a nos viciar.

No mais, é rezar para que as conseqüências para o brasileiro sejam mínimas e que ele já esteja de volta, após essa providencial pausa, no GP de Valência.

Reta Oposta

Na mão do Nelsão
Nelsinho Piquet já não está com essa bola toda – nem no universo da F-1, nem entre a torcida brasileira. Talvez por isso devesse medir melhor as palavras. Após a Hungria, disse que vai “sair de férias e o pai vai resolver”.

Mais nostalgia
Por um momento, a F-1 voltou a 2007, com Alonso, Hamilton e Räikkönen dividindo as primeiras posições. Button segue perdendo sua vantagem, infelizmente, não para o Barrichello.

Só no cronômetro
O que foi aquela cena no final do treino de sábado?! Fernando Alonso checando com os colegas de pista quem fez o tempo mais rápido? Me lembrou as minhas corridas de kart na Granja Viana, em que todo mundo dá o máximo sem saber quem foi melhor...

*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aqueles velhos rabiscos*...

Tem dias em que uma faxina no quarto é a melhor coisa. Sim, aqueles domingos cinzentos em que sair de casa é quase proibido. E todos sabemos bem como são essas faxinas: procuramos as coisas velhas, as separamos e deixamos num canto. Então, olhamos cada uma delas, lembramos de momentos diferentes da vida e, no fim, tudo volta para onde estava e pouca coisa é realmente descartada. Em uma dessas limpezas, encontrei meu antigo caderno de faculdade. Caderno grande, foi usado nos quatro anos, já que eu sempre fui econômico no espaço dos textos.

Via de regra, comecei a folheá-lo pelas páginas de trás. Afinal, a essência sempre está lá. Não a matéria, o ensinamento que nem sempre você queria receber, mas apenas o que lhe interessava naquele momento. As últimas páginas de um caderno bem usado determinam, muitas vezes, o comportamento das pessoas. Tem gente que sequer lembra dele. Tem outros que enchem de desenhos. Tem quem apenas lembre daquele ponto quando vai testar canetas. No meu caso, sempre foi ali que escrevi o que realmente sentia, pensava e vivia. Sem obrigações, sem medo, sem memória, sem moral. Apenas rabiscava traços, desenhava pessoas e jogava, despreocupadamente, o que estava na cabeça, fosse bom ou ruim.

E na minha cabeça, durante o período de faculdade, tinha muito sonho. Tinha muito sono. Tinha sopro de esperança de alguém que pouco conhecia o jornalismo e sequer sabia o que era RP. Encontrei, emocionado, suspiros de um estudante que ainda sabia pouco sobre a vida, sofreu quase nada e mesclava um esboço de vida adulta com um ranço gostoso de adolescência. Em linhas mal escritas e rasuras impensadas, ideias do que somos, do que sonhamos, do sono que sentimos.

Também não pude deixar de pensar no tempo que passou. Entre aqueles grafites rasurados e o texto digitado que você lê aqui, o que mudou. O que foi aproveitado. O que não foi. Quem se foi. Quem chegou. E amores. E amigos. E as mudanças. Me modifiquei, mas mantive meu mantra. Mudei, mesmo mesclando mulheres, mensalidades, martírios. Jamais me sentirei pleno. Jamais serei inteiro.

Não consegui me desfazer do caderno. Como previa, ele apenas voltou ao fundo do armário. Memórias foram junto. Alguns anos depois, sonhos que ali estavam seguem sendo somados ao suor de todo dia. Hoje, há um novo caderno. Novos ensinamentos me são passados. Novos profissionais compartilham certezas com cobranças, sentimentos com saudade. Mas as últimas páginas, ah...Elas permanecem sendo escritas.

*texto publicado no 806, blog da LVBA.

terça-feira, 14 de julho de 2009

De volta à infância, em 1991*


O GP da Alemanha foi bom? Foi. Mas achei um tema mais interessante para a minha coluna desta vez. Queria falar da recente experiência que tive com um jogo de computador.

Sendo um apreciador de corridas e também de tecnologia desde criança, foi cedo que adquiri interesse por jogos de velocidade. No começo, eram aqueles games de PC clássicos, como o Indy 500. Mas, em 1993, minha vida mudou com o World Circuit, ou como era mais conhecido, GP1, criado por Geoff Crammond. Aquele simulador de corrida trazia a temporada de 1991, com os feras da época, e todas as pistas do calendário, para jogar a qualquer momento. Eu passava horas na tela do computador. Gráficos toscos, mas a jogabilidade compensava tudo.

Claro, o tempo passou e o GP1 foi superado. Não, eu não parei de jogar. Apenas fui evoluindo com os nomes – logo surgiu o GP2, GP3 até o último da série, GP4 (parece que Crammond desistiu de continuar a série). Joguei todos, fiz vários campeonatos e me estressei demais com rodadas e erros, até que as obrigações da vida adulta chegaram e me afastei da tela do computador – só para jogar. O GP4 manteve-se instalado, mas era raramente acessado.
Até que, um dia, navegando pelo YouTube, encontrei vídeos de um GP4 que não conhecia.

Os gráficos eram parecidos, mas os carros, não. Sim, era um GP4 alterado, com carros e pista antigos. Mais precisamente, de 1991. Vibrei quando vi aquilo, me encantei com a precisão dos detalhes, desde patrocinadores até ângulos das câmeras. Foi uma volta no tempo.

Não demorou para que eu fosse atrás de como transformar o meu GP4, parado e original (a temporada lançada nele era a enfadonha 2001), naquele túnel do tempo. Mas demorou para conseguir. Descobri que era necessário instalar muita coisa. Adaptar o jogo inteiro. Basicamente, fazer coisas de hackers. Mexer em arquivos que eu nunca soube que existiam.
Mas eu consegui.

Cerca de dois meses após ver o vídeo, o “GP4-1991” estava em minha própria máquina. Foi paixão antes mesmo da primeira volta. Ainda na abertura, já está tudo modificado. Imagens do campeonato de 1991 aparecem na tela, e quando o menu principal finalmente desponta, você está sedento para correr.

Mas tem mais. A música executada durante o menu, as fotos dos pilotos, tudo foi feito com requintes detalhistas ao máximo. É possível, inclusive, ouvir o lendário Murray Walker, espécie de Galvão Bueno da Inglaterra, narrando as corridas mais famosas daquele ano.

Correr, claro, é o melhor de tudo. Na minha “estreia”, escolhi Roberto Moreno, na Benetton. A pista foi Interlagos, claro. Foi emocionante ver o cenário. Patrocinadores da época misturam-se com os bólidos coloridos fieis aos originais. O som também encanta. Pulei a classificação e fui logo para a largada, saindo de último. Poucas voltas depois, rodei. Mas durante elas consegui lembrar como é bom ser criança. Aquele meu GP4 nada mais era do que o mesmo GP1, que eu jogava em 93, com gráficos melhores.

Como disse Ayrton Senna uma vez: “a diferença entre as crianças e o adultos são apenas os brinquedos”.

RETA OPOSTA

E da corrida?
Sim, o GP da Alemanha foi interessante. Rubinho ficou em segundo de novo. Agora, ele é o segundo piloto que mais demorou para vencer uma corrida na F-1.

E da política?
Acho que falo por todos quando digo que não quero mais saber de política na F-1. Estamos todos, claro, torcendo apenas para que Mosley dê o seu lugar.

E do Rubinho?
Ele disse que acha “um saco” isso tudo acontecendo. Falar o quê? Enquanto isso, Massa fez uma de suas melhores corridas este ano. O cara está maduro mesmo.

Ah, se você tem GP4, saiba mais sobre o projeto 1991 aqui.

*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Os Nove (+ 1) mais -
Personagens de novelas


Não sei por qual razão, mas resolvi chutar o balde no lado cult do blog e colocar aqui um pouco de cultura inútil, área por onde, devo dizer, passeio bastante. Então, lá vão meus 9 personagens favoritos de novelas. Por que nove? Porque deixo o décimo para vocês sugerirem, nos comentários dos posts.

Ah, sim, vale dizer que a última novela que eu vi mesmo foi Terra Nostra, de 1998. Depois dela, sem falsa demagogia, a TV a cabo entrou na minha vida e hoje assisto muito, muito pouco de TV aberta. Meu período noveleiro máximo foi entre 1989 e 1998.

Portanto, seguindo o barco e minha linha de conhecimento, vamos lá:

10. É com você! Quem está faltando nessa lista?? Deixe um comentário dizendo.

9. Sinhozinho Malta (Roque Santeiro, 1985): não acompanhei essa novela já que era muito novo, mas tenho flashes de lembrança desse importante nome vivido por Lima Duarte. E, como não lembro muito, nem tenho o que falar. Só a citação aqui mesmo.

8. Babalu (Quatro por Quatro, 1994): Letícia Spiller perdeu de vez a imagem de paquita quando viveu a Babalu. Gostei muito dessa novela, que trazia uma série de personagens legais. Babalu criou tendência de moda, na época, no Rio de Janeiro. Diversas "Babalus" surgiam pelas ruas cariocas, sempre de mini-saias, uma blusinha curta e salto alto (boas lembranças...).

7. Jeremias Berdinazzi (O Rei do Gado, 1996): Raul Cortez dando um show de interpretação. A novela foi decaindo com o passar dos meses, mas ele apaixonado pela empregada Giudite (Judite?) quando já estava doente era muito legal de ver.

6. João Pedro (Renascer, 1993): Marcos Palmeira era o filho "enjeitado" de José Inocêncio, e passou sua vida sendo sempre o menos querido dos três irmãos. Marcos Palmeira inspirou-se muito no seu personagem de Pantanal, quatro anos antes. Mas, como eu vi mais Renascer do que Pantanal...

5. Velho do Rio (Pantanal, 1989): outro clássico das novelas rurais (sempre foram minhas preferidas), o Velho do Rio (Cláudio Marzo) me dava medo. Criança ainda, via aquele velho andando pelos rios da região e demorei pra descobrir que ele era o Zé Leôncio, outro personagem da novela (tipo não saber que o Sr. Barriga era o Nhônho).

4. Tonho da Lua (Mulheres de Areia, 1993): Um clássico! Quem nunca imitou o jeito de falar do famoso Tonho da Lua "aaaa Rutinha é minha amiga!"? Marcos Frota deu vida a esse curioso personagem, que sempre abotoava os botões de cima da camisa e deixava os de baixo, revelando a barriga.

3. Don Lázaro Venturini (Meu Bem, meu Mal, 1989): Mais uma cena que a Globo conseguiu colocar na (minha) história. Lembro de vários momentos do Don Lázaro (Lima Duarte) em sua recuperação do derrame cerebral que sofrera na trama. A hora em que voltou a escutar, por exemplo. Mas o clássico maior é a cena "eu quero melão", que vocês podem rever aqui.

3. Bruno B. Mezenga (Rei do Gado, 1996): Rei do Gado sempre foi uma tentativa meio barata de reviver o grande sucesso de Renascer, de três anos antes. E Bruno Mezenga (Antônio Fagundes) imitava bastante o José Inocêncio. Não empolgou, mas ajudou bastante na briga dos Mezenga X Berdinazzi.

1. José Inocêncio (Renascer, 1993): vivido por Antônio Fagundes, o cara era o máximo. Coronel daquelas fazendas de cacau na Bahia (pelo menos na novela elas existem), ele chegou à região ainda novo (Leonardo Vieira) e enterrou seu facão na frente de um enorme jequitibá-rei. (relembre aqui). Enquanto o facão estivesse ali, ele jamais morreria por "morte morrida ou morte matada". Brilhante!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

(Alguém) Salve o Tricolor
Paulista - na íntegra


Para quem não leu no blog da LVBA, segue o meu texto sobre a decisão do SPFC de demitir o Muricy. Espero que gostem. Comentários são benvindos.

Quando você olha os fatos sem o coração, é fácil perceber como empresas e pessoas cometem erros ao serem pressionadas. São momentos em que a comunicação é o que mais falta. Nessa semana, por exemplo, só se falou na demissão de Muricy. Sou um são-paulino bem longe de fanático. Tive meus momentos, claro, mas a maioria deles vêm de um passado nem tão recente. Na era pós-Telê Santana, sofria muito com as consecutivas derrotas do clube. Mas a maturidade foi chegando e, com ela, a percepção de o seu time de coração vencer ou perder não muda em (quase) nada a sua vida. São apenas doses efêmeras de alegria ou tristeza.

Hoje, pouco me envolvo em questões coletivas de futebol - não sei a escalação completa dos times e muitas vezes abro mão de assistir as partidas na TV em troca de encontro com os amigos ou até mesmo uma pestana vespertina.

Mas confesso que aceitei com gosto o pedido de escrever neste 806 sobre a saída do Muricy Ramalho do São Paulo. Sim, porque essa decisão do clube me deixou quase indignado. Com a saída do Muricy, o São Paulo se iguala aos clubes rivais que ele tanto critica pela falta de planejamento e organização. E perde muitos pontos com sua torcida.

Muricy Ramalho era a cara do São Paulo. Um técnico são-paulino de coração, rabugento e meio ranzinza, mas extremamente eficiente e carismático. Tudo isso não seria suficiente para segurá-lo, claro. Sem problemas, já que o cara conseguiu o feito de ser tri-campeão nacional consecutivo. Algo que só vemos com aqueles times que marcam uma geração.

Em sua obsessiva busca pela Libertadores, o São Paulo abre mão do provável melhor técnico do país hoje. Sem perceber que os problemas no time são estruturais, estão no elenco. Agora, Muricy está à disposição da concorrência, e eu não vou me surpreender se ele não acabar parando em um rival direto do tricolor.

O que mais revolta em tudo isso é ver a forma como o São Paulo atuou. Um dos meus maiores orgulhos em ser são-paulino sempre foi ver que o meu clube sabe se organizar, se planejar e cuidar dos seus. Não precisamos fazer parcerias duvidosas (ou não). Temos uma história de muito trabalho. Temos o maior estádio da cidade. Um centro de treinamento que é referência. Uma área social muito bem cuidada. Programa para revelar novos talentos. Jogadores revelados pelo São Paulo correm o mundo.

Porém, na hora em que a crise aperta (e ela sempre aperta), o time se portou justamente como qualquer outro clube. Em dúvida, demita o técnico. É mais fácil assim. Vamos ignorar tudo que Muricy dedicou ao time e preferir um desconhecido da maioria que, parece, tem ligações políticas com a CBF e a irritante questão do Morumbi e a Copa-14.

Não deixarei de torcer pelo São Paulo, claro. Mas minha torcida, que já vinha caindo progressivamente desde os anos 1990, segue em franca decadência. E a saída do Muricy apenas acelerou o processo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Em busca do "o"

Agora pouco estava falando com uma amiga muito querida. E o assunto, que foi por várias searas da vida, caiu, inevitavelmente, em relacionamentos.

E ela me falou do "amor da minha vida". Que ainda não tinha encontrado o amor da sua vida. E então nos perguntamos: em uma vida tão curta, mas tão complexa, tão breve, mas tão eterna, tão fugaz mas tão distante, tão efêmera e tão profunda, por que, de maneira quase infantil e ilógica, achamos piamente que há apenas um "o" entre tantos amores?

Sim, eu acho que podemos ter vários amores de nossas vidas. E devemos agradecer a isso. Seria um desperdício de vida ter apenas "o" amor. A melhor forma de viver a vida é saboreando o que ela tem de melhor a oferecer; é conhecendo as pessoas que podem te acrescentar algo.

E não, eu não sou polígamo.