Mal estar nostálgico
O acidente de Felipe Massa, claro, só podia lembrar 1994
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Imagens feitas pelo helicóptero. Carro batido. Suspense. Medo. Falta de informações (em um mundo onde elas chegam em todo momento). Ver as cenas da retirada de Felipe Massa do carro foi de um ruim nostálgico. Lembraram, claro, aquelas malditas imagens de 1994 que teimam em voltar. Que teimam em machucar e, infelizmente, ainda são referência.
Como se não bastasse a sensação ruim, o acidente de Felipe Massa foi ainda pior por um motivo: tragédia tem o hábito de virar moda. Lembrei de um ocorrido quando um ônibus em São Paulo perdeu uma roda, que saiu desgovernada pelas ruas e causou a morte de cidadãos despreocupados. Na mesma semana, o mesmo improvável acontecimento tinha sido notícia em outro canto da cidade. Parece que o destino deixa para coisas parecidas ocorrerem em tempos próximos. No caso do assunto desta coluna, quem está ligado em automobilismo certamente lembrou de Henry Surtees, jovem piloto da F-2 que morreu há menos de duas semanas por um pneu desgarrado que bateu em sua cabeça. Claro, é desproporcional comparar um pneu a uma pequena mola, mas a conseqüência foi parecida: no momento do choque, ambos perderam a consciência e simplesmente foram reto até a barreira mais próxima.
No momento da batida de Massa, eu me lembrei do quanto a F-1 ainda é um esporte perigoso. É justamente esse perigo, resultado de uma velocidade e de uma precisão milimétrica, que nos fascina e ao mesmo tempo assusta. Em questão de uma curva, tudo pode acabar. Ficamos tristes com e mesmo os mais ferrenhos podem se perguntar se tudo isso vale a pena.
Talvez esses pensamentos confusos sejam resultado das imagens exibidas de Massa, completamente grogue, com um olho arregalado e o outro coberto de sangue, ainda com o capacete. A mola que colidiu com a cabeça de Massa chegou com a velocidade de algo atirado do alto de um prédio. A essa altura, especialistas especulam, fãs fajutos fingem interesse, e alguns aproveitam para tirar mais uma onda do Barrichello por ser justamente do carro dele a mola quase assassina.
Tudo isso à parte, sabemos que os pilotos não pararão de correr, e nem nós pararemos de assistir, aconteça o que tiver de acontecer com Felipe. Somos viciados em velocidade e já sabemos que o medo está no pacote quando começamos a nos viciar.
No mais, é rezar para que as conseqüências para o brasileiro sejam mínimas e que ele já esteja de volta, após essa providencial pausa, no GP de Valência.
Reta Oposta
Na mão do Nelsão
Nelsinho Piquet já não está com essa bola toda – nem no universo da F-1, nem entre a torcida brasileira. Talvez por isso devesse medir melhor as palavras. Após a Hungria, disse que vai “sair de férias e o pai vai resolver”.
Mais nostalgia
Por um momento, a F-1 voltou a 2007, com Alonso, Hamilton e Räikkönen dividindo as primeiras posições. Button segue perdendo sua vantagem, infelizmente, não para o Barrichello.
Só no cronômetro
O que foi aquela cena no final do treino de sábado?! Fernando Alonso checando com os colegas de pista quem fez o tempo mais rápido? Me lembrou as minhas corridas de kart na Granja Viana, em que todo mundo dá o máximo sem saber quem foi melhor...
*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.