Bon Jovi - The Circle
Estou ouvindo The Circle, novo disco do Bon Jovi. E qualquer pessoa sensata sabe que, para fazer um bom review de um CD, ouví-lo apenas uma vez não é suficiente. Normalmente, é raro escutar e se apaixonar logo na primeira vez (isso só com álbuns antológicos). Com a maioria, você precisa deixar seu ouvido se acostumar com aquela novidade. Deixar que seja notado mais do que apenas a voz do cantor ou o solo da guitarra. Você precisa perceber o fôlego do vocalista puxando um novo verso. As discretas, porém ricas variações do baixo. As viradas e mudanças na bateria. E assim vai, até que os instrumentos presentes se esgotem.
Feita essa introdução, posto agora um review de The Circle. E, em vez da análise habitual, farei algo faixa a faixa, mais detalhado. Para seu conforto, caro leitor, incluí o link de cada música no sagrado YouTube, assim você pode acompanhar enquanto vê o que eu achei:
1. We Weren't Born To Follow - Essa é a a famosa "música de trabalho" do álbum. Na primeira vez que ouvi, não empolgou. Na segunda, menos. Na terceira, idem. Somente após ouvir uma cinco vezes comecei a pegar a música - mas, até aí, já não sabia se era pelo ouvido habituado demais da conta. De qualquer forma, essa é uma clássica música do Bon Jovi, que entoa sempre hinos de diferenciação e de curtir a vida. Claro, vocês sabem que todo disco do Bon Jovi tem uma música no estilo "viva ao máximo" - a lista é enorme e inclui "It's My Life", "One Wild Night", "We Got It Goin' On", "Someday It Will Be Saturday Night" e por aí vai. Será que é essa a carpe diem do disco? Veremos.
2. When We Were Beautiful - Essa melhorou. Lenta, mas bem arranjada, com batidas pesadas da bateria, que tentam encarnar bem o que a letra diz: a época em que éramos bonitos. Pelo jeito, o Jon Bon Jovi já não é mais essa beleza toda. Afinal, os caras começaram nos lamentáveis anos 1980, quando ainda eram cabeludos, sobreviveram aos lamentáveis anos 1990 e ainda estão de pé. Será que eles se achavam mais bonitos quando tinham aquela cabeleira horrível?
3. Work For The Working Man - Qualquer semelhança com Livin' on a Prayer ou qualquer música famosa do Michael Jackson será coincidência (ou não?). A entrada do baixo é bem parecida. Mais uma canção na linha "protesto-estou-dando-meu-recado", como a faixa 1. Essa, inspirada na crise mundial e nos problemas econômicos recentes. Mas também parece remeter um pouco ao 11/09. Apesar da levada triste, tem um ritmo bom. Achei meio piegas ele falar "esses eram meus sonhos, esses eram meus amigos". Não chega aos pés de concorrentes como "Working Class Hero", de John Lennon.
4. Superman Tonight - A letra é bonita. Fala de desilusão, fala de tristeza e questiona valores interessantes. Uma das melhores do disco. Backing vocal quase durante toda a música (mas o melhor trecho é quando Sambora faz o "Superman Tonight" junto). Mas não me agradou a batida do refrão. Pela primeira vez no disco, Bon Jovi fala de amor, o tema mais usado por eles e por 99% das bandas e artistas do planeta. Mas é um amor perdido, meio desesperado.
5. Bullet - Até agora, o ponto alto do disco. Saiu da chuva no molhado. Uma levada mais pesada, mais rápida, mais ardida. O teor me lembrou, em um primeiro momento, "O Calibre", aquela canção-protesto dos Paralamas (os títulos, aliás, são parecidos. Será coincidência?). Fato é que, de novo, eles cantam a indignação pelas coisas erradas. Destaque para o trecho: how can someone take a life / in the name of God and say it's right / how does money lead to greed / when there's still hungry mouths to feed. O refrão questiona se Deus desisitiu de nós. Curti bastante.
6. Thorn In My Side - Que paulada! A música é boa, mas a letra chama mais a atenção. De novo, desafios, problemas, amores perdidos (alguns tragicamente), má sorte, um teste de fé. Mas o orgulho permanece. Uma música pesada. Até agora, temos um disco que vem se mostrando obscuro, pesado, nebuloso, quase triste - uma versão não-suicida de "Tempestade", da Legião. Apesar disso, o ritmo das músicas não passa a mensagem. É necessário ler, ouvir, escutar não apenas as letras, mas como é entoada.
7. Live Before You Die - Aqui! Achamos a música carpe diem do Bon Jovi? Não, ainda não. Apesar do título, a canção é triste. Interessante notar que a letra no encarte não está totalmente igual. Em alguns pontos, a primeira pessoa do plural no papel vira a primeira pessoa do singular na voz de JBJ - isso só reforça o peso que ele coloca na letra. A faixa segue a linha do disco. Fala em perdas desde a adolescência e passa o claro recado "aproveite logo, você vai ficar velho rapidamente". O ritmo é gostoso.
8. BrokenPromiseLand (tudo junto mesmo) - Falar o quê de uma faixa dessa? O título, somado ao que venho analisando acima, já explica. Mais uma música que escancara uma decepção de alguém que esperava algo que não veio. Não adianta ajoelhar e rezar, respire, você vive apenas o agora e tem apenas o que está em suas mãos, enquanto os anjos caem dos céus. Sofrida, nossa. O que houve com o Bon Jovi?
9. Love's The Only Rule - Quem disse que a vida (ou o disco) tem de ser tão cruel? O amor rules - esse é mais ou menos o que quer dizer essa música. Nesse fôlego positivo do disco, Bon Jovi mostra uma mensagem parecida com a Live Before You Die, mas de outra maneira. Faça tudo que quiser, pois all you need is love. Claro, na levada Sambora de ser. Gostei. Tem um riffzinho de guitarra (creio), com um som que lembra um videogame, legal.
10. Fast Cars - Dispensável. Quando estava ouvindo, achei que Love's The Only Rule deveria ser a última do disco. Afinal, após tanto desabafo, seria legal fechar com a mensagem de amor. Mas ainda há espaço para mais três músicas após o amor. Aqui, ele mostra que somos todos carros velozes, capazes de vencer na vida. Uma forma estranha de passar a mensagem. Não gostei, boba. Não seja uma peça sobressalente ou um ferro-velho no quintal? A pior do disco.
11. Happy Now - Essa começa com um fade (bem baixinho e vai aumentando), como se já estivesse tocando quando demos o play. E JBJ pergunta, quase em um tom de voz que alcançava com muito mais facilidade quando era mais novo: posso ser feliz agora? Parece que, após as agruras do disco (e da vida), ele quer o direito de sorrir, sem que o puxem de volta pra baixo. O ritmo, de novo em forma de protesto, meio pesado.
12. Learn To Love - Estamos a um passo do dia do julgamento. Portanto, aprenda a amar o mundo do jeito que ele é. É a única faixa light do disco. Mais lenta, mais bonitinha. Uma "My Way" a la Bon Jovi. Será que só eu achei que os acordes lembram, vagamente, "I Still Haven't Found What I'm Looking For", do U2? Não sei, veja você. Anyway, eu gostei.
Resumo:
Com a última faixa, fica clara que a mensagem final do disco, apesar de tantas tristezas em tantas letras sofridas, é positiva. Na verdade, procure pela palavra "hope" (esperança) nas lyrics e você a encontrará em quase todas as músicas. Sim, segundo Bon Jovi, ainda há esperança para viver nesse mundo. Não por muito tempo. Estamos pertos do fim. Devemos ser únicos, viver ao máximo e, apesar de tudo, amar. E, caso não saiba como, escute a última faixa e aprenda (algo como Loving for Dummies).
Em suma: The Circle mostra que Bon Jovi voltou a ser Bon Jovi. Isso é bom? Depende. Se você gostou de Lost Highway, o último disco deles (que resultou na melhor turnê da banda na década) que navegou em mares country, talvez não goste. Já se você nem sabe de que disco estou falando, talvez goste. Ou ache mais do mesmo. As músicas soam todas meio parecidas com as feitas por eles no fim da década de 1990 (de novo, se isso é bom ou ruim, só o ouvinte pode dizer).
Pessoalmente, eu sou um dos que não gosta. O disco é legal, claro. Vou continuar ouvindo-o, mas sem tanta paixão. O negócio é que sempre curti Bon Jovi, mas me encantei particularmente com Lost Highway. Bon Jovi pode ser country e não perder o rock da veia. Talvez pela minha predileção pelo country-gospel-rythm'n blues (que originou o rock'n roll), tenha gostado tanto desse CD. Em The Circle, tudo isso construído foi desprezado. Não há influências gritantes do último disco neste trabalho. Os instrumentos folk sumiram quase que totalmente (cadê o violino da morena ou a steel guitar?) e o rock característico deles voltou a ser predominante.
Para o grande público, talvez The Circle seja um sucesso. Para o fã do Bon Jovi cabeludo, pode ser que sim. Para mim, não faz sombra ao disco anterior.
Feita essa introdução, posto agora um review de The Circle. E, em vez da análise habitual, farei algo faixa a faixa, mais detalhado. Para seu conforto, caro leitor, incluí o link de cada música no sagrado YouTube, assim você pode acompanhar enquanto vê o que eu achei:
1. We Weren't Born To Follow - Essa é a a famosa "música de trabalho" do álbum. Na primeira vez que ouvi, não empolgou. Na segunda, menos. Na terceira, idem. Somente após ouvir uma cinco vezes comecei a pegar a música - mas, até aí, já não sabia se era pelo ouvido habituado demais da conta. De qualquer forma, essa é uma clássica música do Bon Jovi, que entoa sempre hinos de diferenciação e de curtir a vida. Claro, vocês sabem que todo disco do Bon Jovi tem uma música no estilo "viva ao máximo" - a lista é enorme e inclui "It's My Life", "One Wild Night", "We Got It Goin' On", "Someday It Will Be Saturday Night" e por aí vai. Será que é essa a carpe diem do disco? Veremos.
2. When We Were Beautiful - Essa melhorou. Lenta, mas bem arranjada, com batidas pesadas da bateria, que tentam encarnar bem o que a letra diz: a época em que éramos bonitos. Pelo jeito, o Jon Bon Jovi já não é mais essa beleza toda. Afinal, os caras começaram nos lamentáveis anos 1980, quando ainda eram cabeludos, sobreviveram aos lamentáveis anos 1990 e ainda estão de pé. Será que eles se achavam mais bonitos quando tinham aquela cabeleira horrível?
3. Work For The Working Man - Qualquer semelhança com Livin' on a Prayer ou qualquer música famosa do Michael Jackson será coincidência (ou não?). A entrada do baixo é bem parecida. Mais uma canção na linha "protesto-estou-dando-meu-recado", como a faixa 1. Essa, inspirada na crise mundial e nos problemas econômicos recentes. Mas também parece remeter um pouco ao 11/09. Apesar da levada triste, tem um ritmo bom. Achei meio piegas ele falar "esses eram meus sonhos, esses eram meus amigos". Não chega aos pés de concorrentes como "Working Class Hero", de John Lennon.
4. Superman Tonight - A letra é bonita. Fala de desilusão, fala de tristeza e questiona valores interessantes. Uma das melhores do disco. Backing vocal quase durante toda a música (mas o melhor trecho é quando Sambora faz o "Superman Tonight" junto). Mas não me agradou a batida do refrão. Pela primeira vez no disco, Bon Jovi fala de amor, o tema mais usado por eles e por 99% das bandas e artistas do planeta. Mas é um amor perdido, meio desesperado.
5. Bullet - Até agora, o ponto alto do disco. Saiu da chuva no molhado. Uma levada mais pesada, mais rápida, mais ardida. O teor me lembrou, em um primeiro momento, "O Calibre", aquela canção-protesto dos Paralamas (os títulos, aliás, são parecidos. Será coincidência?). Fato é que, de novo, eles cantam a indignação pelas coisas erradas. Destaque para o trecho: how can someone take a life / in the name of God and say it's right / how does money lead to greed / when there's still hungry mouths to feed. O refrão questiona se Deus desisitiu de nós. Curti bastante.
6. Thorn In My Side - Que paulada! A música é boa, mas a letra chama mais a atenção. De novo, desafios, problemas, amores perdidos (alguns tragicamente), má sorte, um teste de fé. Mas o orgulho permanece. Uma música pesada. Até agora, temos um disco que vem se mostrando obscuro, pesado, nebuloso, quase triste - uma versão não-suicida de "Tempestade", da Legião. Apesar disso, o ritmo das músicas não passa a mensagem. É necessário ler, ouvir, escutar não apenas as letras, mas como é entoada.
7. Live Before You Die - Aqui! Achamos a música carpe diem do Bon Jovi? Não, ainda não. Apesar do título, a canção é triste. Interessante notar que a letra no encarte não está totalmente igual. Em alguns pontos, a primeira pessoa do plural no papel vira a primeira pessoa do singular na voz de JBJ - isso só reforça o peso que ele coloca na letra. A faixa segue a linha do disco. Fala em perdas desde a adolescência e passa o claro recado "aproveite logo, você vai ficar velho rapidamente". O ritmo é gostoso.
8. BrokenPromiseLand (tudo junto mesmo) - Falar o quê de uma faixa dessa? O título, somado ao que venho analisando acima, já explica. Mais uma música que escancara uma decepção de alguém que esperava algo que não veio. Não adianta ajoelhar e rezar, respire, você vive apenas o agora e tem apenas o que está em suas mãos, enquanto os anjos caem dos céus. Sofrida, nossa. O que houve com o Bon Jovi?
9. Love's The Only Rule - Quem disse que a vida (ou o disco) tem de ser tão cruel? O amor rules - esse é mais ou menos o que quer dizer essa música. Nesse fôlego positivo do disco, Bon Jovi mostra uma mensagem parecida com a Live Before You Die, mas de outra maneira. Faça tudo que quiser, pois all you need is love. Claro, na levada Sambora de ser. Gostei. Tem um riffzinho de guitarra (creio), com um som que lembra um videogame, legal.
10. Fast Cars - Dispensável. Quando estava ouvindo, achei que Love's The Only Rule deveria ser a última do disco. Afinal, após tanto desabafo, seria legal fechar com a mensagem de amor. Mas ainda há espaço para mais três músicas após o amor. Aqui, ele mostra que somos todos carros velozes, capazes de vencer na vida. Uma forma estranha de passar a mensagem. Não gostei, boba. Não seja uma peça sobressalente ou um ferro-velho no quintal? A pior do disco.
11. Happy Now - Essa começa com um fade (bem baixinho e vai aumentando), como se já estivesse tocando quando demos o play. E JBJ pergunta, quase em um tom de voz que alcançava com muito mais facilidade quando era mais novo: posso ser feliz agora? Parece que, após as agruras do disco (e da vida), ele quer o direito de sorrir, sem que o puxem de volta pra baixo. O ritmo, de novo em forma de protesto, meio pesado.
12. Learn To Love - Estamos a um passo do dia do julgamento. Portanto, aprenda a amar o mundo do jeito que ele é. É a única faixa light do disco. Mais lenta, mais bonitinha. Uma "My Way" a la Bon Jovi. Será que só eu achei que os acordes lembram, vagamente, "I Still Haven't Found What I'm Looking For", do U2? Não sei, veja você. Anyway, eu gostei.
Resumo:
Com a última faixa, fica clara que a mensagem final do disco, apesar de tantas tristezas em tantas letras sofridas, é positiva. Na verdade, procure pela palavra "hope" (esperança) nas lyrics e você a encontrará em quase todas as músicas. Sim, segundo Bon Jovi, ainda há esperança para viver nesse mundo. Não por muito tempo. Estamos pertos do fim. Devemos ser únicos, viver ao máximo e, apesar de tudo, amar. E, caso não saiba como, escute a última faixa e aprenda (algo como Loving for Dummies).
Em suma: The Circle mostra que Bon Jovi voltou a ser Bon Jovi. Isso é bom? Depende. Se você gostou de Lost Highway, o último disco deles (que resultou na melhor turnê da banda na década) que navegou em mares country, talvez não goste. Já se você nem sabe de que disco estou falando, talvez goste. Ou ache mais do mesmo. As músicas soam todas meio parecidas com as feitas por eles no fim da década de 1990 (de novo, se isso é bom ou ruim, só o ouvinte pode dizer).
Pessoalmente, eu sou um dos que não gosta. O disco é legal, claro. Vou continuar ouvindo-o, mas sem tanta paixão. O negócio é que sempre curti Bon Jovi, mas me encantei particularmente com Lost Highway. Bon Jovi pode ser country e não perder o rock da veia. Talvez pela minha predileção pelo country-gospel-rythm'n blues (que originou o rock'n roll), tenha gostado tanto desse CD. Em The Circle, tudo isso construído foi desprezado. Não há influências gritantes do último disco neste trabalho. Os instrumentos folk sumiram quase que totalmente (cadê o violino da morena ou a steel guitar?) e o rock característico deles voltou a ser predominante.
Para o grande público, talvez The Circle seja um sucesso. Para o fã do Bon Jovi cabeludo, pode ser que sim. Para mim, não faz sombra ao disco anterior.