terça-feira, 27 de outubro de 2009

A mando

Olho para o vazio do futuro
Cheio e inseguro
Olho para tudo ao meu redor
Vejo sonhos, sentimentos, bem melhor
Meço meus medos e fujo do mesmo
Mas sempre esbarro no medo

Torço por um mundo sem postes
Vivo um dilema de fortes
Crio ilusões em volta de mim
E, sei que no mais acaba tudo
Como sempre foi, sempre sujo
Em volta de um mesmo fim

Sofro por paixões que não vieram
Sinto pena de quem vive-as em um sonho
Sonho com tristezas de um inverno
Vivo sem certeza, sem ser terno
Rimo quem não soma silhuetas
E pesco um infantil amor interno

Faço figas por um pouco de sal
Acendo velas que não derretem o mal
Crio percepções e as ilumino com sol
Agarrado à vida, só a corda e só cal

Permaneço sisudo apaixonado
Enlouquecido, endiabrado
Animado e deprimido
Sigo sem talento, sigo aquele alento
Sem ritmo, sem prova, sem prosa
Com rosa, com tosa e pergaminho

Sigo histórico e imortal
Em cada palavra, registro o mal
A mando, amando, avanço
Pioneiro conservador
Visto a virtude que me vela
Vejo pelo vão de minh'alma
Uma vela que se acende
Um vazio que me anima
E uma vida que me espera

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mallu Magalhães e Marcelo Camelo

O casal no palco: Mallu variava entre violões e instrumentos de percussão

Ontem estive na festa de três anos da Rolling Stone no Brasil, realizada no Bourbon Street. Aquelas celebridades de sempre (Paulo Ricardo?), Vesgo, Silvio, trabalho de RP e as atrações: Marcelo Camelo com a namorada Mallu Magalhães & banda e, depois, Macaco Bong (oi?).

Não fiquei para ouvir o Macaco Bong que, me disseram depois, faz um som instrumental dos melhores. Peguei apenas, em local super privilegiado, o show do Camelo e da Mallu.

Foi interessante ouvir a tal da Mallu Magalhães. Há um enorme tumulto em volta da moça desde que ela começou a fazer sucesso pelo MySpace, há alguns anos. E, agora que a ouvi ao vivo, posso dizer que o fenômeno maior é mesmo o sucesso pela Web 2.0 do que o talento necessariamente.

Mallu Magalhães não é ruim, não me entenda mal. Só não tem sal. Quase não se ouve a voz da moça. Seu estilo de tocar violão é quase pós-estudantil. Seus acordes são básicos, basicamente parecidos com o que faço quando toco (sou um músico amadoríssimo nas horas vagas). Alguns replicam dizendo que ela tem apenas 17 anos. Ora, existem artistas de 13 anos com mais desenvoltura e qualidade musical que ela.

Além da limitação musical, ela é tremendamente insegura no palco. Ao lado do experiente Camelo, ela torna o namorado em uma espécie de pai; quando não estava com o violão em mãos, ela pegava diversos instrumentos de percussão que estavam ao lado. Parecia com medo de usá-los. Antes de qualquer tentativa, olhava sempre para Camelo procurando um olhar de aprovação. E, quando arriscava um primeiro boing ou priii, olhava novamente para o vocalista do Los Hermanos para saber se estava certo.

Marcelo "João Gilberto" Camelo reclama pra plateia

Alguns dizem que o jeito timido de Mallu é tipo. Eu não acredito. Ela é realmente uma moça tímida. Foi feita para tocar apenas com seu violão, em um ambiente silencioso - justamente o que não havia ontem. Além da banda bem completa que os acompanhava, o público de fato não deu muita atenção à banda e falava bastante durante o show. Chegando ao ponto do próprio Camelo encurtar a apresentação por conta disso. "Ensaiamos pesado durante 1 semana para este show, mas o público não parece interessado em nos ouvir. Sem problemas, podem beber e comer e a gente para", disse o vocalista. Não houve vaias. Mas foi o comentário da noite em todo o bar.

Não vou julgar a atitude de Camelo, deixo isso para vocês.

Finalizo com o que comecei: Mallu Magalhães não é um talento ou gênio como falam, é apenas um ótimo case de como a forma de vender, consumir e compartilhar música mudou. Além das características até aceitáveis para sua jovem idade já mencionados (insegurança, timidez), ela tem uma voz muito fraca (em alguns momentos, não era possível ouví-la) e possui uma limitação musical muito grande para alguém com a notoriedade dela. Mas parece que isso tudo é justamente o que faz com que ela tenha sucesso, não?

Vai entender...

Abaixo mais imagens do show.


O polêmico set list já era curto e foi diminuído por decisão de Marcelo Camelo

Na última música, Camelo tirou a amada para dançar enquanto a banda encerrava


Mallu Magalhães se divertindo com um dos instrumentos: esse, uma espécie de sanfona, ela mal tocou

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Achando Escondido

"Escondido" é o nome de uma cidade próxima de onde nasceu J J Cale

Como já falei aqui anteriormente, nada é melhor do que nascer ignorante. É uma dádiva a gente não saber tudo. E um enorme prazer ir aprendendo aos poucos, especialmente quando menos se espera.

Uso muito esssa lógica no campo musical, onde tenho modesto conhecimento. Vou descobrindo, sem pressa, novas e (especialmente) velhas bandas. Pois foi pelas bandas de um amigo mineiro que este CD chegou ao meu conhecimento: The Road To Escondido, de Eric Clapton e J. J. Cale (2006).

Esse CD estava sendo tocado durante uma pequena reunião de amigos. E me chamou a atenção o blues gostoso e melódico, cheio de ritmo, acalentador e instigante ao mesmo tempo. Fui atrás da capinha e decorei o nome.

Nem sabia quem era J. J. Cale. Algumas pesquisas depois, fiquei sabendo que ele é o composito de Cocaine, um dos maiores sucessos de Clapton, entre outros. Na verdade, o estilo famoso de Clapton é bastante inspirado em Cale. Road to Escondido nasceu em 2003, quando Clapton pediu que Cale produzisse um álbum para ele. Conversa vai e vem, os dois decidiram gravar juntoso. Cale levou sua banda para trabalhar no disco e acabou dominando - não sozinho, já que uma série de músicos famosos trabalharam no CD. Ele é o compositor de 11 das 14 músicas do disco.

Porém, não estranhe se você não conseguir diferenciar Clapton de Cale. A voz, o estilo de cantar o blues e até alguns solos são bem parecidos. Algo até esperado, considerando que um meio que se inspirou no outro.

Road to Escondido é um daqueles discos de blues que dificilmente vai frustrar alguém. O som é gostoso de ouvir. Solos bem feitos, um teclado de fundo que anima e batidas lentas e rápidas. Ao contrário do famoso Riding With The King, em que Clapton junta-se a B.B King, neste CD você vai encontrar um blues com uma pegada mais country. Menos sacana, menos direta, mais discreta e suave. O CD abre com Danger, e logo você se pergunta quem está cantando. As duas vozes soam calmantes e simbióticas. Porém, recomendo que você, antes de ouvir o CD inteiro, pule para a faixa 7, de nome It's Easy. Que gostosa! Um ritmo contagiante, eu adorei.

O álbum, fiquei sabendo, levou o Grammy de 2008 como melhor disco de blues contemporâneo. Pra quem ficou interessado, a melhor notícia: encontrei um CD 2 em 1 com The Road to Escondido e Back Home, álbum de Clapton de 2005, por apenas R$ 12,90! Onde? Na Videolar.com. Acessa lá e procura.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O amor e ódio por Barrichello

O cara não dá uma dentro no Brasil - mas a gente adora ele assim mesmo...

Talvez não exista na história do esporte brasileiro – e talvez não venha a existir – alguém que desperte sentimentos tão contrastantes em nossa torcida. O brasileiro ama o Rubinho. Porém, mais do que amá-lo, gosta mesmo é de falar mal dele. Falar mal do Barrichello é um esporte nacional. Afinal, são 17 anos com uma constante frustração, que começou a ganhar corpo após a morte de Ayrton Senna. Todo ano acontece a mesma coisa. Mas, todo ano, lá está a torcida, de novo esperançosa, de novo na expectativa. Firme e forte.

Neste domingo, em Interlagos, nosso Rubinho seguiu à risca o cardápio dos últimos anos. Nos animou no sábado para derrubar domingo. E, claro, após a prova, deu sua declaração bizarra do dia. Diz que saiu da pista com o “dever cumprido”. Eu fico me imaginando qual era esse dever: largar da pole e conseguir terminar a prova atrás do rival que saiu de 14º, além de perder a chance de ser campeão em solo nacional? Se era esse, ele não só cumpriu o dever como ganhou palma de ouro ao perder o segundo lugar no campeonato para Sebastian Vettel.

No meio do ano, escrevi uma coluna que falava da estrela de um piloto. Estrela? Sim, aquele “algo mais” que somente poucas pessoas têm. Aquilo que os diferencia da reles maioria – e isso vale para todos os setores da vida. Existe gente muito competente. Outros são oportunistas, ou têm sorte. Mas somente alguns são predestinados a brilhar.

Barrichello prova seu talento a cada corrida. A cada ano. Neste, em especial, mostrou uma maturidade ainda maior, mesclada com uma experiência que só a idade traz. “É um veterano com a vontade de um jovem de vinte e poucos anos”, me disse Nick Fry, o chefe de Rubens. De fato, o piloto da Brawn é elogiado às tampas por onde se passa no grid. Os mais jovens o invejam por ainda estar tão competitivo; os mais velhos não conseguem acompanhar o ritmo. O próprio Michael Schumacher declarou, após a corrida, que não deveria ter parado. Será que viu Barrichello disputando título e se arrependeu?

Tudo isso, no entanto, não adiantou para fazer com que Rubens Barrichello seja campeão. Ou, de forma mais humilde, para que apenas vença uma única vez a corrida de Interlagos. Vou ao GP do Brasil regularmente desde 1997. Na ocasião, Rubens estreava na Stewart e ainda era jovem. As críticas pós-corrida, no entanto, eram as mesmas de hoje. Em 1999, lembro-me quando ele ultrapassou Eddie Irvine, na Ferrari, na nossa frente. Comemoramos como se fosse gol.

A verdade é que amamos Rubinho. Amamos o que ele fez no sábado. E como conseguiu a pole nos segundos finais. Amamos sua caricata simpatia, suas bizarras declarações, sua sambadinha e até uma aparente teimosia em não aceitar a aposentadoria.

Mas também odiamos o Rubinho. Odiamos como ele freqüentemente chega atrás do companheiro de equipe. E como consegue encontrar erros que só ocorrem com ele. Odiamos suas bizarras declarações. Temos vergonha da sambadinha e imaginamos quando ele aceitará a aposentadoria e dará lugar a alguém mais jovem – incluindo o Bruno Senna.

Mas deixe estar. Em 2010, Barrichello estará conosco, novamente em Interlagos. Novamente vamos amá-lo no sábado. Odiá-lo no domingo. E criticá-lo na segunda.

Conversando com Bruno Senna

Emerson Fittipaldi e Bruno Senna no paddock de Interlagos

Bruno Senna não vê problemas em ser companheiro de equipe de Nelsinho Piquet

Na manhã da corrida, em Interlagos, Bruno Senna conversou rapidamente comigo. No papo, falou sobre a possibilidade de ser companheiro de equipe de Nelsinho Piquet, na estreante Manor, uma das equipes que ingressam à F-1 em 2010. "Não o conheço tão bem, mas não teria problema nenhum com isso", afirmou. Sobre as negociações que conduz, Senna diz que fala com algumas equipes e espera anunciar algo em breve. E, apesar de não ter problemas com Piquet, ele acha que o piloto demitido da Renault dificilmente terá uma nova oportunidade na categoria máxima do automobilismo. "Eu acho difícil. As equipes ainda têm muito receio em associar seus nomes aos dele (Nelsinho). Sei que ele está tentando algo, mas muita gente ainda não está confortável para contar com ele", finalizou.

Bruno Senna negocia com algumas equipes na Fórmula 1. Além da Manor, o brasileiro sobrinho de Ayrton Senna conversa com Campos e Force India.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Venezuela, um país dividido

Parênteses - a resposta à carta

A agência respondeu em uma carta que continha, incusive, erros de português: eles concordam 100% com minhas reclamações, tanto que irão remover o hotel de seu portfólio. Parte 1 concluída - vamos acabar com aquele resort!

Para amenizar o nosso desconforto, eles oferecem, a preço de custo, uma viagem a qualquer local operado por eles. Agora eu me pergunto: vale a pena? Pois, para ter essa compensação, preciso necessariamente gastar mais um bom dinheiro, certo? Devo aceitar? Devo recusar? Se sim, o que devo exigir?

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Venezuela, um país dividido


Parte II - Isla Margarita, um resort infernal e o paraíso das compras

Quando saímos de Los Roques, após 3 dias de intenso sol, mar, praia e bronzeados como nunca (leia-se "rosas dos pés à cabeça"), encaramos com muito otimismo o período em Isla Margarita. Sabíamos que, apesar dos transtornos iniciais, seria uma experiência bacana.

Transtornos? Sim, deixe-me contextualizar a coisa. Antes da viagem, tudo já estava certo e pago. Em Margarita, ficaríamos no Hesperia Isla Margarita. Cinco estrelas, praia quase exclusiva, além do regime "all inclusive", aquele maravilhoso sistema em que você pode comer e beber o que quiser o dia inteiro, tudo na faixa.

Pois bem. Uma ou duas semanas antes da viagem, fomos informados que haveria uma cumbre (cúpula, em espanhol) do Chávez, e que portanto ele estava tomando o resort Hesperia Isla Margarita inteiro para ele. Assim, simplesmente. Os hóspedes que já estavam reservados para ficar lá simplesmente ficaram sem hotel!

Nossa agência de viagens nos explicou o ocorrido, e nos deu como opção mudarmos para o resort Hesperia Playa el Agua, da mesma rede, um pouco mais afastada e quatro estrelas - portanto, 1 a menos do que pagamos. Antes de aceitar, pedimos uma compensação qualquer para eles. E, resumindo, o hotel nos prometeu uma "atenção especial".

Não falarei aqui como foi a experiência em Margarita. Apenas vou reproduzir abaixo o e-mail que mandei ao agente de viagens, após o retorno. Vejam e constatem como, quando quero, consigo ser bastante chato:

Caro Geronimo, bom dia.

Escrevo para lhe passar um pouco do que foram as férias na Venezuela ao lado do Lucas. Como sempre, o serviço de transfer entre os vários locais que estivemos foram impecáveis. Simpatia e bom atendimento nesse quesito. Los Roques nos surpreendeu positivamente com sua beleza, apesar das constantes quedas de luz no local - algo relativamente normal por lá. Caracas, em uma passagem rápida, também foi uma boa experiência, incluindo o hotel Pestana, certamente um dos mais belos que já fiquei. Tudo muito bom.

Isso, porém, não apaga o que passamos no resort Hesperia Playa El Agua, justamente o trecho mais longo da viagem - e o local que contávamos mais para nos divertir. Encontramos erros em diversos âmbitos: atendimento, comida, frequência, localização, agilidade, acomodações, etc. Ao longo do e-mail, irei detalhar melhor.

Essas falhas já seriam frustrantes tivéssemos, de fato, reservado aquele resort. Porém, ficava pior quando lembrávamos que havíamos pago por um resort 5 estrelas e estávamos em um 4. E irritava quando sabíamos que o resort prometeu-nos uma "atenção especial".

Pois sinto lhe informar que essa atenção especial foi, na verdade, uma falta de atenção especial. A seguir explico em tópicos.

- Comida: comida de péssima qualidade, em pouca quantidade. No dia em que chegamos, um dos três restaurantes estava fechado para reformas, sem que tivéssemos sido informados. Com um local a menos, a conta é fácil: os demais funcionando estavam sempre lotados, com filas imensas, péssimo atendimento. As opções de bebida em um deles era suco estilo "tang" de laranja ou morango, acredite. No café da manhã, ovos mexidos e outros itens típicos desta refeição acabavam em minutos; pratos e tigelas estavam lascados e rachados; não havia colher, em mais de uma ocasião; a música executada nos auto-falantes dos locais pulava, indicando o CD riscado - e mesmo assim não trocavam. Os pães eram servidos sem pegador: os hóspedes escolhiam com a mão - alguns deles pegavam e devolviam.

Fomos almoçar no primeiro dia um pouco mais tarde e encontramos filés de frango frios embalados com filme plástico. Hambúrgueres tostados demais, pães em falta...

- Lobby: de longe, muito longe, o pior que já estive. Sem ar condicionado, aberto, infernal de quente, com um terrível atendimento no balcão. Não sabiam de nossa famosa "atenção especial" quando fizemos o check-in; não respeitaram a fila quando fizemos o check out; o wi-fi não funcionou; não havia um bar no local. Onde ele funcionava, apenas uma faixa amarela de interdição, lembrando aquelas cenas policiais dos EUA. Sim, o bar principal também estava fechado.

- Bares: mais um exemplo do atendimento deplorável deste resort. As bebidas eram boas, mas a agilidade não existia. Mal humor, indisposição e constante falta de ingredientes. Em uma ocasião, fomos pedindo as bebidas, uma a uma, para checar qual havia. Tudo acabava: suco de laranja, tequila, côco. O bar da piscina central, que fechava todos os dia 1 de manhã (não havia um bar 24h), parava de atender 15 minutos antes. Quando cheguei 0h45 ao local para pedir bebidas, nos serviram cervejas, dizendo que iam fechar. Quando insisti dizendo que ainda não era hora de fechar, foram ríspidos e falaram que tudo já havia acabado (no balcão, todas as bebidas já estavam guardadas, claro). Um desleixo com o cliente que nunca vi em qualquer hotel.

- Quarto: o atendimento nele era lamentável. Faltavam toalhas todos os dias. Em um deles, tivemos que ligar mais de uma vez, pois horas haviam passado e nada chegou. A limpeza era mal feita e a acomodação tinha um claro cheiro de mofo.

- Atividades diárias: a música que tocava nas piscinas era a mesma, todos os dias. As atividades noturnas eram fracas: limitavam-se a shows de dança típicos, sem qualquer interação com o público. Durante o dia, apenas vôlei na água e um concurso de dança. Tudo acontecia sempre no mesmo local, um palco ao lado da piscina, dando ao hóspede uma sensação de rotina, justamente o que ele não quer em um resort.

- Mentira: a equipe de monitores organizou uma balada para os hóspedes: transfer ida e volta mais entrada para a Kamyl Beach. Nos convenceram, dizendo que seria a melhor da região e estaria cheia. Pagamos, certos de que valeria a pena. Chegando ao local, estava vazio, às moscas. Perguntamos a eles se a disco Frog's, que nos indicaram, estava melhor. Nos disseram que não, que estava vazia pois ficava em região militarizada. Fomos conferir mesmo assim, e surpresa: a balada estava cheia, lotada e agitada.

- Frequência: justamente o que não queríamos. Casais aos montes, crianças e idosos. Em cinco dias de resort, eram raras as ocasiões em que víamos grupos de amigos ou amigas jovens, que não fossem casais. Ou seja, a ideia de ir a um resort divertido, com agitação e pessoas para conhecer foi pelo ralo.

Pior, a frequência era notadamente simples: 95% de venezuelanos de classe média com suas família. Éramos os únicos brasileiros e pouquíssimos estrangeiros estavam conosco. Após o bar da piscina fechar, 1 da manhã (ou 15 minutos antes, como vi), o resort ficava em silêncio sepulcral. Não havia nenhuma turma de jovens disposto a curtir a noite.

Resumindo: sei que tínhamos a opção de postergar nossa viagem em razão da Cumbre que tomou nosso hotel. Sei também que este mesmo evento prejudicou um pouco a situação normal na ilha. Mesmo assim, confiantes nas nossas exigências e nas trocas de e-mail, fomos certos de que o resort 4 estrelas seria tão bom quanto o 5. Acreditamos nas palavras de todos os fornecedores envolvidos, especialmente você, a julgar pela ótima experiência que tivemos em Cuba, dezembro passado.

Não foi o que tivemos.

Já me disseram que resorts no regime "all inclusive" caracterizam-se pela quantidade, e não qualidade. Concordo que a proposta seja outra, mas não aceito falta do mínimo de qualidade. Pagamos um bom preço por isso - de fato, pagamos por algo que não tivemos de forma dupla: um resort 5 estrelas e essa misteriosa e desaparecida atenção especial que, reitero, não aconteceu em nenhum momento durante todos os cinco dias em que lá estivemos.

Sem mais, espero por um esclarecimento e alguma forma de compensar a experiência que passamos no esquecível resort citado.

Obrigado,
Luís Joly

Entenderam agora como foi a experiência em Isla Margarita? Alguns detalhes adicionais: por causa da maldita cumbre do Chávez, o fim de semana que estávamos lá teve a cidade toda militarizada e lei seca. Nas poucas baladas que fomos, tudo estava às moscas. Claro, no resort ainda podíamos beber, mas o que havia para fazer naquele lugar? Para compensar essa frustração, só mesmo uma coisa podia nos ajudar.

Compras
Nem tudo estava perdido em Isla Margarita. Soubemos, pouco antes de embarcar, que toda a cidade é tax-free, ou seja, isenta de impostos em suas lojas. E, no segundo dia do hotel, achamos o shopping Sambil, um palácio do consumo, com 250 lojas, inclusive as maiores grifes dos EUA e Europa.

E aqui vai uma dica importante para quem vai à Venezuela: a taxa de câmbio por lá é controlada pelo governo, em outras palavras, é a taxa oficial: 1 dólar que valem 2,1 bolívares fuertes. Porém, ninguém usa essa taxa. Os venezuelanos possuem um limite para compra dólares ou euros e, portanto, os compram no mercado paralelo. Nas ruas, nas lojas e afins, era possível trocar 1 dólar por até 6 bolívares fuertes. Em euros, é ainda mais vantajoso. Alguns locais chegam a trocar 100 euros por 900 bolívares (mais do que o salário mínimo deles, de 800 bolívares).

Com o dinheiro nas mãos, fomos às compras. E vale muito a pena, gente. Muito melhor que os famosos outlets de Nova Iorque (nunca fui) ou similares. Mas, claro, a vantagem só existe se você pagar em dinheiro. Caso opte pelo cartão de crédito, você irá pagar pela taxa de câmbio oficial. Ainda haverá vantagem, mas nao tão grande. Pra gente foi até melhor. Saberemos que o cartão de crédito não vai nos assustar no mês seguinte...

Alguns exemplos? Calças da Diesel por 100 reais. Bermudas da Tommy por 40 reais. Camisas da Moose por 30 reais...E por aí vai.

Como o período em Margarita não foi nada demais, não há um link para fotos. Apenas algumas, que incluí abaixo, além da montagem inicial. Nos vemos na terceira e última parte da série Venezuela, que irá abordar a capital, Caracas.

Em tempo: ainda não recebemos a compensação da agência de viagens. Quando a conseguirmos, eu atualizo o post.

A vista do nosso quarto: uma das piscinas do resort

O teto do shopping com as 250 lojas

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Venezuela, um país dividido


Começo agora uma sequência de textos e fotos sobre minha experiência de 10 dias na Venezuela.

Parte 1 - Los Roques, um paraíso com calor infernal

A primeira questão que entra em cena aqui é o destino de uma forma geral. Muitas pessoas me perguntaram o que tinha de bom para fazer na Venezuela, e por que eu escolhi justamente aquele local. Para essas pessoas, eu digo: não sei muito bem. É a brochante verdade: escolhi a Venezuela pelo pacote incluir três destinos em um, e pelo preço relativamente bom. Além do mais, eu tinha milhas para ir até lá sem pagar nada. Gostaria de dizer que havia um quê político e cultural na escolha, mas não. Até havia, mas bem pouco. Eu queria era descansar mesmo.

Minha viagem foi dividida em três trechos, sendo o primeira deles, Los Roques (veja o quão insignificante é Los Roques neste mapa). Logicamente, não há um vôo direto SP - Los Roques, ou seja, você deve chegar a Caracas primeiro (fomos usando milhagens da TAM. Com 20 mil voc~e chega lá).

Los Roques, em poucas palavras, é um paraíso na Terra. Um paraíso com um calor dos infernos. As fotos mostram o lado paraíso melhor que os textos. Já o calor, eu não desejo pra ninguém que não esteja em uma piscina ou em uma bela praia.

Los Roques é um parque ecológico. Um arquipélago isolado no meio do mar do Caribe. Sem barulho, sem festas, sem bagunça, baladas, noites caribenhas ou muita gente. Apenas o estonteante mar, com diversos tons de azul e verde, a límpida e brilhante areia, e o sol - muito sol.

Apenas a ilha central de Los Roques é habitada. Lá, além das pousadas e casebres, há uma pista - no caso, o aeroporto.

Ao chegar em Los Roques, você provavelmente irá se decepcionar. A água próxima à pista exala um cheiro não muito agradável, e você começa a se pensar se valeu a pena ir até tão longe. Você não vê uma praia incrível logo de cara, e a coisa piora quando você decide dar uma volta pela ilha. As praias são todas usadas para ancorar lanchas, e neste momento você se pergunta "mas onde está a praia?"

Não estão ali. A ilha principal de Los Roques - e a maior - serve apenas para morar. Diversas casas, no estilo cabanas. Moradores locais misturam-se com turistas - muitos da Europa - o tempo todo. A região é segura. Não há eletricidade por cabos. Toda a luz da ilha vem por meio de gerador a díesel. De forma que é bastante comum o local ficar sem luz constantemente.

No chuveiro, não existe a torneira para água quente. Apenas fria. Um problema? Não, uma dádiva. Com pouca fonte de eletricidade, quase não existem casas com ar condicionado. E o calor é forte - mas bota forte nisso. No meu quarto, um ventilador de teto não era suficiente para acalmar os ânimos. Ou seja, entrar no chuveiro frio era a melhor maneira de ter um alívio rápido e fácil.

Ficamos na pousada Macondo, um aconchegante local com cerca de 4 cômodos. Administrado por um casal de italianos que chegaram à ilha há 5 anos, a hospitalidade é tamanha que você se sente rapidamente um parente distante dos dois. Café da manhã, almoço e jantar inclusos - e uma comida muito boa (acho que a esposa deve ter sido chef na Itália).

No pacote que compramos para Los Roques, havia "passeios". E são eles que valem o local fazer a pena. Na manhã do dia seguinte, nos levaram ao cais, cercados por pelicanos, lanchas e turistas. Uma das lanchas te espera. Embarquei nela, onde passeamos pelo meio do oceano até nos deixarem em uma ilhota, daquelas de tirinhas de jornal, bem pequena mesmo. Linda. Muito linda. Água transparente, peixes aos seus pés. Sol. Muito sol. O piloto desembarca, monta um guarda-sol, cadeiras e um enorme dispositivo térmico. Isso umas 10h. Vão embora, prometendo te buscar umas 17h.

Aí, o trabalho é acostumar-se com uma visão encantadora da ilha e do mar. De novo, os convido a ver as fotos no fim do post. Certamente as praias mais bonitas que já vi. Na embalagem térmica? Cervejas, almoço, lanches e água. O suficiente para você curtir o dia. Claro, com muito protetor solar.

No segundo dia, o passeio foi ainda melhor, pois fizemos mergulho. Infelizmente, minha câmera não podia ser usada embaixo d'água, então fica apenas na memória o verdadeiro show que vi no oceano. No momento em que caí na água, já usando a máscara, me surpreendi com toda a vida que estava abaixo de meus pés. Me senti em um documentário aquático. Foi sem dúvida a experiência mais rica de toda a viagem e altamente recomendável.

Detalhe: soubemos depois que o passeio para as ilhas mais longes não estão inclusos. Ou seja, tivemos de pagar para ir até a ilha dos mergulhos. Além de pagar o aluguel do equipamento de mergulho. Ainda assim, abra o bolso: vale a pena e nosso dinheiro vale mais (falaremos do dinheiro venezuelano mais pra frente).

A essa altura, vocês se perguntam duas coisas: a) estava tão quente assim? e b) com quem você foi? Pois digo que estava quente sim. Usamos protetor direto, reaplicando o tempo todo, e ao fim do segundo dia estávamos vermelhos como todo turista norte-americano bobo. Tivemos de cancelar o passeio do terceiro dia para não arruinar as férias.

E, sobre a segunda questão, estive em Los Roques com um velho amigo de viagens - o mesmo que foi comigo para Cuba e me conhece desde criança. Apesar disso, Los Roques é bem mais recomendado para casais. Ou até para uma Lua de Mel. O cenário é incrível. Em todas as ilhotas, há uma pequena loja, onde pode-se comprar bebidas a mais - não são caras - ou um petisquinho. No mais, é curtir o sol e a água transparente cercada de peixes.

Em breve volto para falar de Isla Margarita, onde o esquema mudaria - baladas, festa, resort all inclusive e comida farta, tudo isso somado aos velhos companheiros, o sol, a praia, o mar.

Abaixo incluí uma seleção das melhores fotos. Como sabem, cliquem para ampliar. Quer ver as outras? Clique aqui.

O que dizer? Toda foto virava um cartão postal instantâneo

No momento em que chegamos, com um carregador levando nossas malas: vila simples, toda de areia

Essa é a ilha do segundo dia: maravilhosa

Fim de tarde do primeiro dia: o pôr do sol mais belo que já presenciei

Esta é a placa no "aeroporto"