segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pergunta

Fui assistir "Tropa de Elite 2" no último fim de semana. Antes disso, tinha visto Atividade "Paranormal 2".

Quando vi o Atividade, dormi bem de noite. Quando vi o Tropa de Elite, tive pesadelo. Saí do filme desgostoso com o mundo que vivemos. Será que basta sair do País para resolver? Será que devo ter filhos, para colocá-los em um lugar tão nocivo e cheio de problemas?

Sempre tive medo do sobrenatural, mas dessa vez o bandido real me assustou muito mais.

sábado, 4 de setembro de 2010

Nostalgias de um assessor # 1


Sim, eu ainda era um menino. Para mim, o trabalho, como algo remunerado, era uma grande novidade. Desde a primeira ligação, quando o rapaz do outro lado da linha - hoje, um amigo muito querido - falou o nome de uma empresa em inglês. Achei que devia ser algo grande.

Era uma segunda, em fevereiro de 2003. Comum naquela época do ano, chovia muito. Mas, preocupado com o primeiro dia de trabalho, cheguei cedo. Bem cedo. Na verdade, fui o primeiro a chegar, atrás apenas da moça que fazia a limpeza. Ela pouco falou comigo, além de um rápido 'bom dia' ou um 'bem-vindo' qualquer. Fiquei, então, sozinho na empresa que começaria. Pequena. Eram apenas três cômodos, uma recepção e três banheiros. Devia ter algo como 100m2.

Mas eu não me esqueço do cheiro quando entrei.

Um misto de carpete novo, com papel. Cheiro de limpeza. Olhei ao meu redor e, enquanto as trovoadas corriam do lado de fora da janela, atentei para o gaveteiro: quatro gavetas de inox, bem arrumadas. Na primeira, a etiqueta "BRANCO A4". Na segunda, "BRANCO CARTA. A terceira tinha "RASCUNHO A4" e a última, "RASCUNHO CARTA". Achei aquilo o máximo. Pena que nunca tirei foto.

Nos armários, vários brindes de clientes. Em especial, da Discovery e Kodak. Um deles me chamou a atenção. Uma reprodução de uma caixa de remédio, em frasco, porém enorme. Era na verdade um press kit do extinto canal Discovery Health. Ao lado, havia flyers de "câmaras" (sim, era ordem do cliente) fotográficas da Kodak - que ainda eram mescladas entre tradicionais e digitais.

Os computadores eram enormes. IBM, creme. Os teclados traziam aquele suporte para o braço, que se acoplava na parte frontal do periférico. Os mouses ainda não eram ópticos. As mesas, da Tok&Stok, assim como a maioria da mobília. Partes em laranja, cor preferida de uma das funcionárias da época.

Na sala de reunião, duas mesas que ficavam unidas. Suas pernas eram de inox, ou aço, algo assim. Ficavam rapidamente com marcas de dedos. Na parede, uma estante continha uma TV de 21 polegadas. Ao lado, um quadro indicando um prêmio de critério duvidoso. Ali ficavam os armários, também laranjas. Quase sempre as chaves emperravam na hora de abrí-los - mesmo sendo novos.

Do outro lado do escritório, um recipiente de água padrão. Quando cheguei, ele ainda ficava no meio do "salão". Quando foi para o canto, era uma alegria a mais para os homens da firma. Sim, a empresa ficava ao lado do hotel Renaissance, na Alameda Santos. E, do ponto de vista da janela em frente à água, era possível ver a piscina do hotel. Precisa dizer mais?

No começo, eu não tinha computador. Então, usava o servidor. Sim, era uma máquina maior que as demais, mas que ficava ali mesmo, como se fosse outra qualquer.

Meu primeiro almoço foi em um restaurante por quilo, tradicional. Chamava-se "amarelinho" ou algo assim. Fui com a pessoa que comprou os móveis - mencionada antes. Nunca mais voltei ao restaurante, mas a colega tornou-se uma das minhas mais importantes amigas.

A maior sala era da chefe. Na verdade, era tão grande que tinha quase o mesmo tamanho do resto do escritório. Pelo menos era o que a gente dizia, nos corredores, na época. A mesa da chefe também era mais bonita, toda em vidro, com pernas em inox ou aço. A cadeira, era branca e longa, muito confortável, mas não reclinava (sim, eu a experimentei anos depois). A nossa cadeira era da Giroflex. Reclinava bastante, achava o máximo.

Na minha primeira semana lá, um colega me avisou que, se eu quisesse escrever, estava no lugar errado. Dois dias depois, ele saiu. Nunca mais vi.

A chefe também não estava quando eu fui contratado. A primeira vez que a vi foi quando ela voltou de férias. Chegou com malas e cheia de coisas na mão. Olhou rapidamente para mim e para outro funcionário que também era novo. Deu um "oi", sorriu com os olhos e entrou para a sala dela.

Uma vez a chefe resolveu ouvir Elvis. Sim, ela sempre gostou de colocar discos para tocar no meio do expediente (os all time hits eram "Cruising Together", "Keep it Coming, Love" e "We just Don't Care"). Sempre gostei. Mas, naquele único dia, foi Elvis. O disco escolhido era ELV1S 30#1 HITS, um comercial da ocasião.

Fiquei surpreso quando ouvi os primeiros acordes da faixa inicial, "Heartbreak Hotel". Mas imaginei que ela dificilmente ouviria o disco inteiro. Se sobrevivesse à pior faixa do CD, "Trouble", talvez existisse uma chance, pensei.

Não deu outra.

No meio de "Trouble", se não me engano a faixa 8, a música subitamente parou. E foi a última vez que ouvi uma música de Presley saindo daquela sala.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

As minhas Copas


Em 1990, lembro da sala de aula. Todas as carteiras foram pra trás. Aquela bagunça toda. A TV era pequena, mas deu pra ver o jogo. Brasil e Escócia, se não me engano. Comidas e docinhos espalhados. Se bem que o mais divertido pra mim era entrar nas "cavernas" de carteiras no fundo da sala. Que diversão. Alguns dias depois, em casa, vi com meus pais a eliminação para a Argentina. Nem triste fiquei.

O álbum de figurinhas eu completei.

94 foi o ano. De ganhos e perdas eternas. Foi a Copa da minha vida. E até hoje, é a única que sei detalhes, de cabeça. Placar, gols, momentos, nomes da escalação. Naquele ano, o futebol foi o pano de fundo da minha vida sendo construída. Amizades, se não nasceram, foram consolidadas naqueles dias de julho. Na final, estava em um sítio com um amigo. Família de italianos, mas mesmo assim ficaram felizes pelo Brasil. Eu me lembro de pular, em frente a uma TV antiga, e os olhos rapidamente marejaram. Fiquei surpreso por chorar pelo meu país.

O álbum de figurinhas eu completei.

Em 98, nada de especial. Ano de transição, esquisito. Adolescência boba, mal usada. Em minha mente, queria reperir 94. Não o resultado, mas a intensidade da paixão em todas suas vertentes. Não foi nada disso. Nem lembro onde estava na final. Nem lembro daquele ano, afinal.

O álbum de figurinhas ficou bem incompleto. Um descaso.

Veio o título de 2002. Desempregado, entrevistas de estágio. Vida séria. Vida em série. Mas foi incrível. Na final, tentei chorar e não consegui. Vibrei e comemorei o título, mas as lágrimas não vieram. E aquele momento acabou sendo apenas um título de futebol.

O álbum de figurinhas ficou cheio, mas não completo.

06 foi divertido. A primeira Copa trabalhando. Com uma turma legal, em uma empresa bacana. Nesta edição, a cerveja já era companheira de guerra. E a bebedeira ajudou. A turma animou. A eliminação para a França foi irritante, mas o relatório do cliente teria que ser entregue mesmo assim. Vida corporativa.

O álbum de figurinhas eu completei. Na marra. Suado, pelo correio, um ano depois.

2010 me reserva uma nova surpresa. O que irá acontecer? Ainda não sei. E nem estou falando de futebol.

Mas o álbum de figurinhas eu já comprei, e só faltam três.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Breve

Dizem que escrever dá trabalho. Que requer inspiração, suor, mentalização e muito mais. Incrível como para mim as palavras vão surgindo. Enquanto a digitação ou os rabiscos aparecem, as frases mentais vão se formando, vão crescendo e ganhando corpo. Quando vi, uma sentença inteira ficou pronta. E um parágrafo. E outro.

Me irrita errar quando digito. É um retrocesso. Uma pausa. Um susto. Um atraso de vida. Mas os erros de digitação fazem bem o papel de metáfora. Afinal, a gente vai digitando, vai montando sentenças, mas nem sempre faz tudo direito. De vez em quando aparece uma repetição aqui ou ali. E quando vimos tudo já foi feito com cettos tropeçpos. Sabe como é. A diferença é que no teclado a gente poda voltar no tempo. Pode corrigir tudo que fez de errado. Na vida, nem sempre dá pra corrigir o que não saiu como a gente queria.

No mais, é continuar escrevendo.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Para ajudar Schumacher, vale tudo


Estava devendo uma coluna sobre Michael Schumacher este ano. Afinal, confesso que fui um dos empolgados quando veio a notícia oficial de que o alemão estaria de volta às pistas da F-1 em 2010. Nostálgico que sou, é o máximo para mim ver um piloto que estava nos grids de 1991 e regressa em 2010. Uma volta de um campeão digna dos cinemas, das eternas lutas de Rocky Balboa.

Mas se a realidade imita a arte, nem sempre o contrário acontece. E o que vimos nas primeiras quatro corridas do ano foi uma realidade bem diferente do que estávamos acostumados, em relação à Schumacher: dificuldade para domar o carro, constantes classificações e chegadas atrás do companheiro e, o pior, ultrapassagens de todos, por todos os lados.

Depois da etapa chinesa, a coisa começou a ficar pior. Foi justamente nessa corrida que ele levou o maior número de ultrapassagens. No intervalo de três semanas sem GP, o agente do piloto, Willi Weber, afirmou que estava mais fácil achar uma virgem de 50 anos do que conseguir um patrocinador para Schumacher. Do outro lado, o alemão procurava se esquivar das críticas do público e cobranças da imprensa. Vinha afirmando que estava na F-1 para se divertir, e estava conseguindo fazer isso.

De fato, o heptacampeão não tem mais o que provar. Ele já superou todos os recordes significantes da categoria. Claro, ele sempre terá de conviver com as costumeiras análises que dizem que o piloto não teve rivais a altura depois da morte de Senna. Mas isso é muito subjetivo.
O que não se discute são resultados. E os de Schumacher, neste começo de ano, foram péssimos.

Coincidentemente, após o GP em Xangai a Mercedes anunciou que faria diversas mudanças no carro – que incluíam não só os famosos dutos para saída de ar – a invenção da vez -, mas detalhes como alterações no eixo do carro e aerodinâmica. Também foi nessa época que Michael admitiu que estava enfrentando problemas na condução do seu carro, e que não estava bem adaptado – enquanto, vale lembrar, o seu companheiro, o jovem Nico Rosberg, parecia totalmente pronto e já havia inclusive conquistado um pódio.

Chegamos ao fim do GP da Espanha, e o que vemos? Michael Schumacher chegou em quarto. Fez sua melhor corrida no ano. Segurou Jenson Button brilhantemente, foi arrojado e por pouco não teve um pódio. Rosberg? Um apagado 13º lugar, problemas em todo o fim de semana (largou atrás de Schumacher também) e uma declarada dificuldade para controlar o carro em sua nova versão.

Some dois mais dois para chegar a sua conclusão. Será que a Mercedes está disposta a modificar tanto o carro apenas para que Michael Schumacher possa dirigi-lo melhor, mesmo sabendo que não será o formato preferido pelo companheiro Rosberg – que vem conquistando bons resultados?

Some dois mais dois.

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Frita Massa
Quatro vencedores em cinco corridas. Realmente, a F-1 está com um aparente equilíbrio, mesmo com uma vantagem considerável da Red Bull. Mas chamou a atenção o péssimo desempenho de Felipe Massa na Espanha – certamente o pior entre todos que postulam o título. Difícil aceitar que o brasileiro não conseguiu um bom acerto do carro em uma pista tão bem entendida por pilotos e equipes. Me parece algo errado com ele mesmo.

Cena sem brilho
Gostaria de entender até que ponto vale a pena para a carreira de Bruno Senna estar a bordo de um carro que anda quase na mesma velocidade dos carros da GP2. Aquela imagem do piloto indo reto na quarta curva do cirtcuito foi vexatória. Acho que era hora da família Senna refletir bem sobre isso.

Sonolenta Espanha
À parte da briga entre Button e Schumacher, o GP da Espanha foi medíocre. Sem novidades, claro. Desde 1991, quando entrou para o calendário, é assim. Quando será que vão perceber que essa pista é chata demais e só serve mesmo para testar?

domingo, 2 de maio de 2010

Alice e o IMAX - Maravilha mesmo foi quando o filme acabou

O filme que vou retratar a seguir não foi minha primeira experiência com cinema 3D - claro, nessa fase moderna. No início dos anos 1990, cheguei a ver A Hora do Pesadelo com aqueles óculos de plásticos verdes e vermelhos). Mas foi minha primeira experiência ruim - nem sempre teremos apenas coisas bonitas pra contar...

O primeiro filme 3D que vi foi há cerca de 1 mês, o tal de Como Caçar Dragões (ou algo assim). Muito divertido. Adorei a experiência com os óculos e fiquei fã do formato de cinema.

Naquela mesma sessão, me chamou a atenção o trailer de Alice no País das Maravilhas. Na verdade, fiquei tão encantado com as imagens do filme que decidi assistí-lo, e melhor: na sala iMax (seria da Apple?), a suposta melhor sala de São Paulo (já tinha tentado ver o Avatar lá, mas nunca tinha ingresso disponível).

O ingresso foi comprado com quase três semanas de antecedência para uma sessão de sábado à noite.

Sobre o filme: Alice vale a pena pela fotografia. Belíssimo, com cenários psicodélicos, viagens mentais e proporções que você só consegue ver lá. Mas, infelizmente, ainda não é esse o fator mais importante em uma obra gravada em vídeo. Mesmo em um filme cercado por toda a tecnologia ou em um MPEG caseiro, o que importa mesmo é a história. E a história de Alice é tão chata que eu quase dormi.

Os primeiros 15 minutos do filme, após Alice entrar na terra maluca, são de descobertas. Afinal, vale explorar ao máximo a tecnologia 3D no mundo tão bem criado por Tim Burton e seu time. Mas, passado esse encantamento com os personagens e cenários curiosos, acaba a graça. A trama é parada, pastel, sem andamento. Os diálogos são lentos e arrastados. Me parece que a Disney pediu um filme a Tim Burton apenas para explorar o 3D. "A história? Crie qualquer coisa". Em suma: chato, muito chato. Só o 3D e a imaginação de Tim Burton não foram suficientes.

Sobre a sala: minha péssima avaliação do filme teve uma séria contribuição: o conforto não oferecido pela sala iMax (ou IMAX) do Bourbon. Estava no melhor (teoricamente) lugar do cinema: última fileira, bem no meio. Uma tela gigante mostra-se a sua frente. E a vinheta do iMAX mostra que o som e a imagem são realmente de primeira. Mas, assim como a Disney esqueceu do básico (a trama), o Bourbon esqueceu do que mais interessa - o conforto.

As cadeiras são apertadas, grudadas. Mal há espaço para dobrar as pernas corretamente sem que seu joelho já encoste na poltrona da frente. Em determinado momento, movido pelo cansaço do filme, tive algo próximo a uma sensação de claustrofobia. E, naquele cenário curioso, de vez em quando eu tirava os óculos 3D para olhar a plateia. Todos usando o acessório, pareciam seres hipnotizados.

Resumindo, é isso: se for ver o filme, o faça com ressalvas. E, se for à sala IMAX...não vá. Há salas 3D excelentes em São Paulo por preços menores e mais conforto.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Na mesma


Pra variar chego na sala e aqui não há ninguém. Há uma nuance de angústia no meu ser. O medo de crescer e de notar que esse medo nada muda a não ser a mesmice de mudar merda nenhuma. Me mexo, me machuco, misturo morfina e medicina, nadando em meio a minas de minério novo. Não há meio de mesclar minhas manias com o nada que magnetiza o momento.

Mudei, negando murmúrios e nutrindo um medo nostálgico. Nessa mistura maléfica, ninguém notou que nem meus amigos ou minhas mulheres negaram que eu era mais do mesmo. Nada, nada me mudou. Meses passaram, medos minguaram e mesmo minha mãe neutralizou esse mistério que eu mantinha manhoso.

Na hora que me esmurraram, me rendi, desnorteado. Ah, muito se muda sobre mentiras. Mas, na hora matreira em que o murro é bem no meio, nem mesmo um eunuco não nega o que mentaliza com mantras de nudez. Mientras tanto, minha sala no meio do nada segue na mesma. nada mudou e amanhã me dirijo ao mesmo norte, que tanto machuca, mortifica, mas embriaga e enaltece o meu nó.

Observação do autor: calma, gente. Não é bigráfico. Apenas reconheci que tenho um talento especial em criar textos melancólicos.

domingo, 18 de abril de 2010

Eficiência ou espetáculo?

Parece clichê de início de temporada, mas não é: esse campeonato mostra-se um dos mais equilibrados da Fórmula 1 de todos os tempos. Massa, o líder na última prova, agora não está nem entre os cinco primeiros. Claro, como bem sabemos, muita água (sem trocadilhos) ainda vai rolar após o início da temporada na Europa “séria”, com a próxima etapa, na tradicional Barcelona. A síntese dessa primeira porção do calendário é feira por Fernando Alonso, após a China: “espero uma corrida normal de vez em quando”. Fato. Das quatro corridas que já rolaram este ano na Fórmula 1, todas tiveram fatores climáticos instáveis – alguns na corrida, outros apenas nos treinos, mas que com isso tornaram o grid de largada igualmente atípico.

O telespectador, claro, adora uma boa corrida com chuva – já brincam que os circuitos deveriam ter um sistema de irrigação no asfalto. Mas, para as equipes e pilotos, é um tormento – e isso vai muito além do óbvio fator extra de dificuldade devido às péssimas condições de visão e condução do carro. É ruim mesmo porque o carro e os pilotos não se desenvolvem. E todo o trabalho que é feito nos treinos, com pista seca e sol, de nada serve em verdadeiras loterias molhadas.

Mas a chuva potencializa duas características que se mostram predominantes este ano: o espetáculo e a eficiência. Espetáculo, que pode também ser chamado de Lewis Hamilton, como mencionei na última coluna. Não tenho os números aqui, mas não duvido que ele tenha sido o piloto que mais fez ultrapassagens até agora. De novo, para a audiência, nada melhor do que um ótimo piloto largando de trás, com um carro mais rápido que a maioria. Mas, para a McLaren, será que isso é realmente interessante? Não, certamente.

Do outro lado do grid (normalmente), Jenson Button, que chegou campeão e discreto no time para 2010, não preza pela agressividade. Prefere a discrição, sua característica mais forte. E, assim, sem provocar muitos sorrisos ou olhares espantados no público, já levou duas corridas no ano. Nas duas, fez a melhor estratégia de pneus e paradas, enquanto Hamilton trocava sopapos com o resto do circo, galgando suadas posições, uma a uma, para em seguida perdê-las de novo em uma rodada ou nova troca de calçados.

Qual dos dois leva? Impossível dizer. Quem foi melhor, Senna ou Prost? Torcedores fervorosos dirão Senna, claro. Era quem arriscava, ousava, errava, mas empolgava.

Mas, entre os dois, quem teve mais títulos na carreira?

RETA OPOSTA

Sempre atrás do alemão
Já faz tempo que estou devendo uma coluna só sobre o desempenho de Michael Schumacher na temporada. Mas estou postergando isso em prol de uma corrida melhor do campeão, que ainda não veio – e, honestamente, tenho medo de achar que pode não vir...

Fernando X Felipe
Finalmente apareceu uma faísca no duelo de Alonso, que vinha sempre aparecendo com Massa a sua frente nas corridas. Felizmente, Massa não reclamou da manobra. Já era hora do espanhol deixar claro que não vai ficar atrás do companheiro pra sempre.

Enfim, um horário de gente
Momento desabafo: finalmente, as corridas voltam para os tradicionais domingos de manhã, quando chegarem à Europa. Valeu a pena assistir a todas as provas até agora, mas os horários eram cada vez mais cruéis.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dia do jornalista


O dia em si já foi (sete de abril), mas coloco aqui o cartão feito pela firma.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dá gosto ver o Lewis Hamilton correr

Hamilton na época do kart: o capacete já lembrava o de Ayrton Senna, seu eterno ídolo

Somos saudosistas por natureza. É do ser humano lembrar com orgulho dos tempos antigos, que os mais jovens não testemunharam. O “antigamente” é sempre melhor. Se seguirmos essa lógica e a aplicarmos ao universo da Fórmula 1, é fácil elogiar Lewis Hamilton, o piloto que evoca os grandes nomes do automobilismo - já falei sobre o estilo de pilotagem dele em outras colunas, mas nunca exclusivamente sobre isso.

Dá gosto ver o piloto da McLaren correndo. Hamilton é a antítese da obviedade, do previsível, na categoria. Uma combinação que parece unir Ayrton Senna, Gilles Villeneuve e Nigel Mansell em apenas uma pessoa. Hamilton talvez não seja o melhor piloto do grid. Para isso, é necessária uma combinação de diversos elementos, e isso talvez ele só consiga com o tempo – ou talvez não consiga nunca. Mas, fato é que ele é o mais rápido em momentos de adversidade.

O Grande Prêmio da Malásia, se não teve chuva no domingo, teve no sábado. E isso (somado a um erro de estratégia) ajudou no processo de colocar as duas Ferrari e McLaren no fim do grid. Naturalmente que os quatro pilotos fariam, de um jeito ou de outro, as ultrapassagens que precisavam para alcançar a zona de pontuação. Mas Hamilton vai além: ele arrisca mais que qualquer um. Enquanto muitos passaram apenas nos boxes, ele ousou, na pista, ultrapassar. O preço para isso é alto: entre genial e genioso, há uma linha tênue, e o jovem piloto alterna momentos maravilhosos com erros bobos. Mas garante a audiência da corrida e ganha uma legião de fãs em todo o mundo.

Lewis Hamilton ainda encaixa-se como uma luva nos planos de Jean Todt de fazer a F-1 voltar aos tempos de ouro, mas com a segurança de hoje. Mesmo que isso gere dúvidas. Na etapa malaia, mais uma vez o piloto da McLaren remeteu ao passado. Quando o valente Vitaly Petrov, da Renault, tentou recuperar a vaga roubada por Hamilton, viu o inglês “dançar” na pista, de um lado para o outro, evitando que o russo pegasse o vácuo para ultrapassá-lo. Esperada, diversas críticas por parte da Renault sobre a manobra, que lembra, em muito, o que Senna fazia com Alain Prost nas brigas de McLaren. Em uma delas, em Estoril, 1988, Prost reclamou após a corrida. Nada mudou, mesmo assim. Senna seguiu ousado até o fim da vida.

Pilotos como Lewis Hamilton sempre serão alvo de polêmicas, críticas, ofensas e dúvidas. Porém, isso não irá mudar a maneira como ele conduz seu carro. Sempre buscando a ultrapassagem, algo a mais e um segundo a menos. Talvez não sejam os maiores campeões da categoria, mas são sempre os mais admirados e lembrados nos especiais de TV e vídeos da internet.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Na piscina

Buzz, brainstorm, corporativismo. A tendência é que, com o passar dos anos, a gente se esqueça da infância. Deixe escondido, ou se livre mesmo, do que era importante antes. As pessoas deixam de sorrir de fato; deixam de revelar seus sentimentos. E tudo se torna um grande teatro social (também conhecido como "crescer").

Nesse palco em que vivemos, tudo tem que ocorrer como quer a sociedade; a felicidade é efêmera, é fraca e fugaz. Sorrimos, mas sem a autenticidade de outrora.

Outro dia estava na piscina do clube. Sozinho. Nadando, em uma área onde várias crianças brincavam. Três ou quatro delas estavam com uma bola. Um era o goleiro, usando dois chafarizes como traves. Os outros arremessavam para que ele fizesse as famosas "pontes", caindo em seguida, são e salvo, na água.

Fiquei com inveja. Queria brincar com eles. Fiquei com saudades de quando era criança. De uma época boa demais, em que tudo parecia enormemente mais simples - e era mesmo. Sim, as pressões já existiam. E muitas delas eu não faço questão de sentí-las de novo. Nem tudo da infância a gente quer de novo.

Mas, pelo menos naquele domingo ensolarado, eu queria ser o goleiro.

quarta-feira, 31 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

Senna, 50

Já coloquei essa foto aqui antes. Pra mim, fantástica. O piloto, sem sua máquina. Desamparado, desligado do que mais necessita. E o rosto de Ayrton mostra bem isso. Clique na imagem, amplie-a, e veja com mais detalhes e tente interpretar esse momento.

Mesmo sumido do blog, faço questão de aparecer aqui apenas para deixar um registro sobre os 50 anos que Ayrton Senna faria.

Para mim, nada mudou. E continuo indo ao cemitério do Morumbi duas vezes ao ano, para prestar meus respeitos, desde 1995. A mídia apenas concentra as atenções quando os números são redondos.

Senna foi meu primeiro grande herói. Contribuiu muito na formação de minha personalidade. O tempo passou, claro, e hoje já não existe mais aquela idolatria. Já não recorto jornais, compro revistas e gravo especiais. Existe uma admiração, uma saudade gostosa. Uma tristeza de saber que o mundo perdeu o duelo que teria com Schumacher.

De seu legado, ficou minha paixão eterna pela Fórmula 1, pela velocidade, pelos karts. Ficou minha fé. Minha vontade de deixar algo pro mundo. E a certeza de que mesmo os heróis não duram pra sempre.

quarta-feira, 3 de março de 2010

(Very)Coldplay


Lá longe, o telão: o palco, então, esqueça

Como prometido, aqui segue um breve texto sobre o show do Coldplay, que ocorreu anteontem no Estádio do Morumbi e contou com minha presença na plateia. Breve mesmo, já que nem fiquei até o fim da apresentação.

Localização é tudo: nos shows da Madonna, Beyoncée e AC/DC, eu estava na numerada. A cadeira não era a melhor, mas era uma cadeira. Você podia sentar e esperar pelo tradicional atraso dos artistas. No Coldplay, eu estava na pista. Pista lotada. Pista terrível. Cheia. Cheiro de maconha forte, em todos os locais. Antes tivesse surtido efeito. Drogado, talvez aquele local fosse bom. O público era adolescente.

Para entrar, uma fila considerável. Cheiro de urina pelas calçadas. A banda não demorou muito. E tocou lá seus sucessos. O público até curtiu.

Mas eu não. A visibilidade estava péssima. Mulheres levantadas nos ombros dos namorados tapavam a visão que já era ridícula. Não era possível se mexer nem dançar. Estava chato.

Localização é tudo: Coldplay não é uma banda para tocar no Morumbi. Gritos de "aumenta o som" eram comuns no estádio. O estilo de som não empolga - pelo menos, não naquele contexto. Acalma, na verdade. Coldplay deveria tocar em um local como o Credicard Hall ou similar. A música é bem tocada, mas só. Teve uma só em voz e piano que foi quase anestésica.

Se eles são bons? São ruins? Para mim foram normais. Só isso. Já disse no Twitter: a melhor música da noite foi quando eles tocaram "Parabéns pra você", já que era a data especial de um dos caras da banda. Talvez bem instalado eu gostasse um pouco mais, mas o fator pista foi crucial para o tom pessimista deste texto.

No fim do show, uma surpresa: eles deram o CD mais recente da banda. Assim, completo, de graça. Achei bacana, vou ouvir. Acho que vou curtir (bem) mais o Coldplay no conforto do lar do que naquele inferno.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Cidadania, eu quero uma pra viver

Pra que ocupar uma vaga apenas, se dá pra ocupar várias?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Atividade Paranormal - "Profecia" ficou no chinelo

Sempre gostei de filmes de terror - especialmente terror com um q de realismo - nada de zumbis ou lobisomens. Gosto de coisas que mexem com espíritos, religião e afins.

Fui assistir "Atividade Paranormal", já há algum tempo, sem pretensões. Na falta de outro filme, acabei pegando esse. Pois bem, sei que o post é velho, mas quem puder, veja. Alugue ou procure se ainda estiver no cinema. É o filme de terror mais assustador que já vi. Pior que "Profecia", "Exorcista" ou "O Exorcismo de Emily Rose". É simplesmente terrivelmente assustador. Um terros psicológico, já que não mostra nada.

O trailer explica o filme melhor que eu. Divirtam-se.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Beyoncée: ela manda muito bem

Um mar de gente: Beyoncée levou a multidão a uma alegria extrema

Conforme falei no último post, escrevo aqui um review do show da Beyoncée (Beyonce? Beyoncé? Beyoncee? Enfim...), sábado passado, no estádio do Morumbi.

Apenas uma semana após o show do Metallica, as comparações em termos de lotação, público, perfil, são inevitáveis. Portanto, posso dizer que a plateia era bem diferente (bem mais bonita). Estádio tomado de pessoas, filas, cambistas, policiais, bombeiros, estava um caos. Barracas com pessoas acampadas, ficou claro que a Beyoncée é um fenômeno e tanto. Se sua passagem pelo Morumbi foi mais chamativa que a do Metallica? Difícil dizer, já que eu fui ao segundo show do grupo, menos lotado que o primeiro, no dia anterior. Mas, a julgar pelo que vi, a estrutura foi bem comparável à do AC/DC e da Madonna. Se isso não dava para comparar, deu pra ver ao menos que o palco da Beyoncée era quase igual ao do Metallica - eles devem ter deixado os tapumes para a Beyoncée usar e desmontar depois...:-)

Fui assistir ao show sem nenhum juízo de valor - da Beyoncée sabia apenas que ela cantava músicas R&B modernas, a maioria delas sem chamar minha atenção. Antes da "diva" entrar, Ivete Sangalo animou a plateia. Escorregou no palco e cantou pouco. Mas segurou bem, até.

Após a baiana terminar, levou um bocado de tempo para que Beyoncée começasse - quase duas horas. Foi cansativo ficar lá meio que sem fazer nada a não ser ver o estádio, que já estava cheio, atingir praticamente a lotação máxima - 60 mil pessoas foram ao evento.

Demorou tanto que, quando, enfim, começou o show da Beyoncée, nem me animei muito. Ela tocou músicas que eu não conhecia - de vez em quando, mandava uma ou outra que eu já tinha ouvido alguma vez. Mas aos poucos a apresentação foi esquentando. Ela falou com a plateia ao término da terceira música, já entregando (ou não) que aquela era provavelmente a maior apresentação que já tinha feito. Verdade? Acredito, acho que ela não inventaria algo assim.

O resumo da ópera foi: Beyoncée canta muito. Fez uma versão solo de Ave Maria que foi de arrepiar. Sua banda é fantástica. A baixista toca trechos de músicas do Michael Jackson. A pianista fez um verdadeiro solo de piano clássico. As backing vocals animaram em um blues bem americano e gostoso. Rolou até um cover de Alanis Morissette com You Oughta Know - diga-se, bem mais legal que a versão da canadense.

Beyoncée também mostra-se uma fã de Michael Jackson. Além dos trechos de músicas que rolaram com a baixista, ela fez questão de cantar uma música em homenagem ao cantor. Pessoalmente, eu acharia mais legal se ela tivesse cantado uma música dele, e não em homenagem a ele. Ficou meio chato.

Tenho, portanto, avaliação curta dos últimos shows que fui no Morumbi:
- Madonna: dançante, o mais agitado. Mas pouca música em sua essência
- AC/DC: Puro rock. Os caras são muito bons! Valeu cada segundo!
- Metallica: extremo, ame ou odeie. Eu, odiei.
- Beyoncée: a mulher sabe cantar, tem carisma, potencial e uma senhora banda.


Na saída, era tanta gente que parecia não ter fim

Em março, volto para dar um review sobre o Cold Play (mas calma que até lá devo postar outras coisas).

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sad, but true: Metallica
foi uma decepção


Antes de ler o texto, deixo claro que essa é uma opinião estritamente pessoal e, portanto, relativa. Se você for fã de Metallica, daqueles inflexíveis, recomendo que pare de ler aqui. Caso contrário, aceite o que tenho para dizer abaixo e comente o que achar interessante.

Seguindo em minha odisséia de megashows no Morumbi, agora foi a vez do Metallica. Fã de rock que sou, esperava algo interessante, nos moldes do AC/DC, que me surpreendeu enormemente (veja o post aqui).

Mas os sinais que havia algo errado começaram cedo: saímos de casa, à pé como costume, esperando aquele grupo de cabeludos de camiseta preta, guardadores de carro, PM's e todos os outros figuras que sempre aparecem na área em ocasiões como essa. Mas, ao longo do caminho, foram só os PMs que vimos. Sim, as ruas estavam relativamente vazias. Só vimos mais movimento quando estávamos bem perto do estádio.

Ao entrar em nosso setor (o costumeiro portão 18), mais uma surpresa: nos mudaram para o portão 16 - pista VIP. Assim, do nada. Quando entramos na pista, deu p entender melhor: a arquibancada estava vazia. Então, acho que jogaram os da arquibancada para a numerada (nosso lugar original) e, os da numerada, para a pista VIP. De fato, o show não estava lotado. Longe disso.

Resultado, ficamos na cara da banda. Em um lugar bom, mas com um cheiro péssimo. Sim, lembrava cachorro molhado. E a banda começou a tocar. Antes, o Sepultura abriu - nem chegamos a ouvir, entramos na arena após eles terminarem. O vocalista do Metallica gosta de falar. Acho legal isso.

Mas o que achei da música?

Barulhenta. Pesada demais. Repetitiva. Cansativa. Igual. Todas com aquela guitarra cheia de distorção, fazendo acordes pesados, uma bateria que não para nunca. Uma plateia que simplesmente não se anima com a maioria das músicas - exceto o começo ou o fim delas. A única que mexeu mais foi o hit Nothing Else Matters. No mais, mais do mesmo. Que coisa chata.

Falta ritmo. Falta uma batida mais legal. Falta uma pegada blues, funk, rock'n roll, algo que mexa. Tudo bem ser um rock mais pesado, mas aquilo lá é demais pra mim. Nem fiquei até o fim. Quando o grupo terminou, o vocalista voltou pro bis dizendo que ia fazer covers. Aí animei. Quem sabe eles tocariam algo legal. Nada. Fizeram cover de músicas que parecem as mesmas deles. Terrível.

No segundo cover, fomos embora.

E, que fique claro, os caras tocam bem. Em dados momentos, era possível escutar a música em meio ao barulho. Nas canções mais leves, com violão, os caram mostravam o talento. O guitarrista é exemplar, o baterista manda bem e o vocalista tem um timbre super interessante. Só que eles escondem tudo isso fazendo um barulho que, em alguns momentos, era irritante.

Voltamos para casa secos, mas decepcionados e conformados. Não valeu nada. Não valeu o figurino especial pro show, a caminhada até o estádio, a bagunça perto de casa. Nada. E eu, apenas confirmei algo que já era quase certo: não sou um apreciador desse tipo de música.

Sad, but true.

Obs.: em breve, mudança de figurino e som, no review do show da Beyoncée!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Deu de ombros

Ele não tinha jeito de quem falava muito. E, quando vi, realmente não falava. Chegou em silêncio, sorrindo de um jeito meio assustado. Meio assustador. Não sei bem o que fazia lá. Pouco tinha a ver com o resto da turma na fila. Aliás, olhando melhor, ele nem sabia que tipo de fila era aquela. Não, parecia que ninguém tinha reparado nele. A moça na frente, negra bem negra, com uma bolsa azul na mão, apenas olhava para um vazio cheio de nada. Enquanto isso, ele mantinha um deslocado sorriso. Não demorou para que alguns chegassem atrás dele. “Para abrir firma?”, perguntou um rapaz calvo, mas ainda jovem, chegando atrás dele. Percebi que o jovem ficou mudo. Apenas olhou com desdém para o sujeito. Deu de ombros e, quando parecia que nem havia entendido a pergunta, fechou a cara dizendo “sim”.

Sim. Ele não estava de bem com a vida. Sua esposa lhe tratava de forma fria. Chegava em casa todo dia e pouco via de novo. Mobílias gastas, a cortina meio cor de creme, com cara de suja, sempre lhe irritava. Quase sempre a TV ligada na Globo. Aos domingos, o timbre da voz do apresentador obeso já lhe irritava. Mas não era domingo. Nem dia de semana era. Ele mal sabia que dia era, enquanto fitava a dobra da blusa azul clara da senhora negra na frente. A dobra indicava que o peso dela estava acima do normal. Enfeitiçou-se por aquela visão, e quando notou, já estava sem foco e, mesmo assim, não tirava os olhares da dobra. Apenas quando a fila andou ele conseguiu dispersar. Todos com pastas na mão, mas ele não. Ele era o único que não tinha pasta. Resolveu tomar uma atitude então. Encarou o segurança, que meio entediado, transparecia o cansaço disfarçado de autoridade meia boca. O que pretendia com aquilo? Quando o segurança enfim notou que estava sendo duramente observado, era tarde. O rapaz estava próximo demais. Deu um empurrão no segurança.

Nessa hora, um medo incomum chegou em sua mente. Enquanto o senhor de bigodes ralos e camisa marrom clara e calça marrom escura caía ao chão, toda sua vida passou em sua mente. E não era boa. E não era bela. Sofreu muito para chegar onde chegou. E mal sabia onde era. E mal sabia o que fora. O que sonhou e o que ganhou.

Quando os dois jovens chegaram junto ao solo, a senhora enfim encheu sua mente. Por um breve instante, surgiu em sua veia um relance de emoção. Livrou-se do olhar vazio, e mesmo achando que estava em perigo, gostou. No fundo de sua alma, sorriu. Sorriu enquanto o rapaz foi detido e levado para uma sala onde não era mais observado. Sorriu porque teria algo para contar de noite. Chegou a vangloriar-se, imaginando como seria contar isso às amigas. Sim, o dia já tinha valido a pena, pensou.