O último post do ano...
Termino o blog em 2008 com uma breve nota do mês. Dezembro, que já costuma ser um mês intenso pelas festividades, caprichou este ano. Foi talvez o mês mais longo que já tive. Quem viveu o mês comigo vai se identificar. Feliz ano novo!
Viajei
Com a vista
Me encantei
Briguei
Beijei
Fui socialista
Me apaixonei
Me frustrei
Trabalhei
Ganhei
Perdi
Ri
Sumi
Disse não
Me posicionei
Reencontrei
Lutei
Me iludi
Sofri pelo que não vivi
E ainda assim, amei o quanto sofri
Adoeci
Curei
E recaí
Me reaproximei
Fui ao camarote
Acudi
E bebi
Cantei
Toquei
Ensaiei
Desafinei
Mandei em si
Quando era em ré
E mesmo assim
Fui aplaudido de pé
Descansei
Entrei em uma conga
Fui criança
Chorei e pensei
No quanto gosto de vocês
Mais uma vez
Obrigado pelo mês
Obrigado pela vida
Este poema tem um fim
Mas vocês, parte de mim
Continuam ao meu lado
Na próxima manhã adormecida
P.S.: Enquanto escrevo, aproveito para escutar algumas músicas inéditas do Elvis (sim, ainda não ouvi todas) que estão em um CD dinamarquês que chegou hoje aqui em casa...:-)
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Diários de Cocotaxi - Dois brasileiros em Cuba - Parte III e final
Fachada do hotel tomado por Fidel Castro no início da revolução: estávamos hospedados em pura história
Havana Libre: o hotel da revolução
Em Havana, a aula cultural começou pelo próprio hotel. O Habana Libre é o prédio mais alto da cidade, com 27 andares. Na época em que foi contruído, em 1958, era o maior da América Latina. Não ficamos no último andar, obviamente (estávamos no 8º), mas a vista, postada no capítulo II dessa saga, vale muito a pena.
O Havana Libre nem sempre teve esse sugestivo nome. Até 1958, ano I de sua construção, ele era chamado de Havana Hilton. Teve um papel fundamental no período da Revolução Cubana, em 1959. No lobby do hotel, diversas fotos remontam a época de guerra, com imagens dos soldados no restaurante ou deitados no saguão principal.
O quarto 2223, em especial, possui uma mística maior. Ele é o quarto onde costumava ficar Che Guevara - sim, sempre ele - e seus companheiros de revolução. Fomos até o quarto em questão, mas confesso que não tinha nada demais, era apenas mais um corredor. Portanto, não tirei fotos do local.
Carros | De volta às ruas, outra marca registrada de Havana e Cuba salta aos olhos: a frota. Os carros de Havana são absolutamente únicos. São divididos em três gerações: os mais antigos, dos anos 1940 e 1950, foram comprados antes da revolução e passam de pais para filhos. A segunda são marcadas pelos carros soviéticos. A Lada era a principal montadora a suprir Cuba com carros durante os tempos da Guerra Fria, em especial entre 1970 e 1980. A terceira geração são de carros modernos.
É impressionante ver carros como um Chevrolet "rabo de peixe" de 1950 - ou menos - andando em (aparentes) boas condições por todos os lados. É uma estranha sensação de uma surreal e frustrante volta no tempo. Frustrante por a associação estar incompleta. Carros como aqueles são vistos em filmes como De Volta para o Futuro, mas em Havana somente os carros condizem. O restante, prédios e pessoas, estão sucateados e sofrem com a ação do tempo sem conservação alguma.
Como os carros não podem ser comprados, eles vão trocando de mãos. O Dodge 1950 que andamos (vide foto) era da avó do motorista. A manutenção é difícil, o que dá aos cubanos o título informal de "melhores mecânicos do mundo". A frota é toda dividida por cores de placas, que representam desde turistas e exército até governo e carros particulares. Os únicos que podem comprar carros novos são - de novo - esportistas, médicos ou artistas.
Salsa | Cuba é um país com vocação para a música. A salsa está presente o dia inteiro, em pequenos e velhos rádios ou em bailes noturnos. Para os turistas, claro, chegam sempre cantantes tocando os clássicos da música cubana. Destaque para "Comandante Che Guevara" (que pode ser ouvida aqui) e "Guantanamera", escrita em homenagem a uma moça de Guantânamo, base militar no litoral de Cuba.
Aproveitei para quebrar uma antiga escrita: nunca havia tocado violão fora do Brasil. Eis que, dado momento, na beira do mar, um dos artistas de rua veio tocar para ganhar uns trocados. Aproveitei para pedir o violão e fiz, ali na rua e na frente de dezenas de cubanos, uma bela versão de "Boate Azul", regravada recentemente nas vozes de Bruno e Marrone e escrita por Benedito Onofre - sim, claro que eu tocaria um Elvis, mas acho que em Cuba, poderia não soar bem. :-)
Muitos me perguntam se eu fui ao Buena Vista Social Club. Descobri - apenas lá - que não se trata de um local específico, mas de uma banda. Eles não tocam sempre no mesmo lugar, e não consegui assistí-los. Mas a influência de Compay Segundo, morto em 2003, é enorme. Compay é um dos maiores ídolos da música cubana e fotos dele estão presentes em diversos quadros, sempre acompanhado de um café e de um puro.
Saí de Cuba com o espírito rejuvenescido e cheio de idéias. Junto, porém, uma pequena frustração. Cuba é um país fantástico e gostaria muito de ficar por lá mais tempo. Fica fácil a impressão de que fazer um livro sobre Cuba seria algo muito estimulante e renderia boas e saborosas páginas.
Um dia, quem sabe, isso acontece.
P.S: ah, e o cocotaxi do título? Ei-lo aqui. Trata-se de outra atração pitoresca da ilha. Basicamente, o Cocotaxi é uma moto com dois lugares traseiros, sem cinto, sem segurança alguma, mas obrigatório pra quem está lá. Demos uma volta no Cocotaxi de noite. Ele certamente não passa de 50 km/h, lembrando em muito também um kart.
Em Havana, a aula cultural começou pelo próprio hotel. O Habana Libre é o prédio mais alto da cidade, com 27 andares. Na época em que foi contruído, em 1958, era o maior da América Latina. Não ficamos no último andar, obviamente (estávamos no 8º), mas a vista, postada no capítulo II dessa saga, vale muito a pena.
O Havana Libre nem sempre teve esse sugestivo nome. Até 1958, ano I de sua construção, ele era chamado de Havana Hilton. Teve um papel fundamental no período da Revolução Cubana, em 1959. No lobby do hotel, diversas fotos remontam a época de guerra, com imagens dos soldados no restaurante ou deitados no saguão principal.
O quarto 2223, em especial, possui uma mística maior. Ele é o quarto onde costumava ficar Che Guevara - sim, sempre ele - e seus companheiros de revolução. Fomos até o quarto em questão, mas confesso que não tinha nada demais, era apenas mais um corredor. Portanto, não tirei fotos do local.
Carros | De volta às ruas, outra marca registrada de Havana e Cuba salta aos olhos: a frota. Os carros de Havana são absolutamente únicos. São divididos em três gerações: os mais antigos, dos anos 1940 e 1950, foram comprados antes da revolução e passam de pais para filhos. A segunda são marcadas pelos carros soviéticos. A Lada era a principal montadora a suprir Cuba com carros durante os tempos da Guerra Fria, em especial entre 1970 e 1980. A terceira geração são de carros modernos.
É impressionante ver carros como um Chevrolet "rabo de peixe" de 1950 - ou menos - andando em (aparentes) boas condições por todos os lados. É uma estranha sensação de uma surreal e frustrante volta no tempo. Frustrante por a associação estar incompleta. Carros como aqueles são vistos em filmes como De Volta para o Futuro, mas em Havana somente os carros condizem. O restante, prédios e pessoas, estão sucateados e sofrem com a ação do tempo sem conservação alguma.
Como os carros não podem ser comprados, eles vão trocando de mãos. O Dodge 1950 que andamos (vide foto) era da avó do motorista. A manutenção é difícil, o que dá aos cubanos o título informal de "melhores mecânicos do mundo". A frota é toda dividida por cores de placas, que representam desde turistas e exército até governo e carros particulares. Os únicos que podem comprar carros novos são - de novo - esportistas, médicos ou artistas.
Salsa | Cuba é um país com vocação para a música. A salsa está presente o dia inteiro, em pequenos e velhos rádios ou em bailes noturnos. Para os turistas, claro, chegam sempre cantantes tocando os clássicos da música cubana. Destaque para "Comandante Che Guevara" (que pode ser ouvida aqui) e "Guantanamera", escrita em homenagem a uma moça de Guantânamo, base militar no litoral de Cuba.
Aproveitei para quebrar uma antiga escrita: nunca havia tocado violão fora do Brasil. Eis que, dado momento, na beira do mar, um dos artistas de rua veio tocar para ganhar uns trocados. Aproveitei para pedir o violão e fiz, ali na rua e na frente de dezenas de cubanos, uma bela versão de "Boate Azul", regravada recentemente nas vozes de Bruno e Marrone e escrita por Benedito Onofre - sim, claro que eu tocaria um Elvis, mas acho que em Cuba, poderia não soar bem. :-)
Muitos me perguntam se eu fui ao Buena Vista Social Club. Descobri - apenas lá - que não se trata de um local específico, mas de uma banda. Eles não tocam sempre no mesmo lugar, e não consegui assistí-los. Mas a influência de Compay Segundo, morto em 2003, é enorme. Compay é um dos maiores ídolos da música cubana e fotos dele estão presentes em diversos quadros, sempre acompanhado de um café e de um puro.
Saí de Cuba com o espírito rejuvenescido e cheio de idéias. Junto, porém, uma pequena frustração. Cuba é um país fantástico e gostaria muito de ficar por lá mais tempo. Fica fácil a impressão de que fazer um livro sobre Cuba seria algo muito estimulante e renderia boas e saborosas páginas.
Um dia, quem sabe, isso acontece.
P.S: ah, e o cocotaxi do título? Ei-lo aqui. Trata-se de outra atração pitoresca da ilha. Basicamente, o Cocotaxi é uma moto com dois lugares traseiros, sem cinto, sem segurança alguma, mas obrigatório pra quem está lá. Demos uma volta no Cocotaxi de noite. Ele certamente não passa de 50 km/h, lembrando em muito também um kart.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
O fenômeno Madonna
(e a lei de Gerson chata)
(e a lei de Gerson chata)
Terminada a etapa final do show da Madonna, a cantora americana se vai, com um pouco mais de dinheiro no bolso, enquanto os problemas brasileiros ficam. Nada contra a artista, diga-se, que fez o que qualquer outro faz. Mas muito contra, sim, nossa própria cultura.
Moro a poucas quadras do Morumbi. Ou seja, já estou habituado a conviver com finais de campeonato, eventos religiosos ou megaconcertos (incluindo o da própria Madonna, em 1993). Longe dos problemas brasileiros, ela não tem culpa alguma do nosso próprio comportamento. Nas ruas, lixo e mais lixo. Na frente do estádio e arredores, assaltos; a polícia que diz que "não é possível fazer nada". Confusão e caos. Nas ruas, "guardadores" de carro cobrando até R$ 200 (sim, isso mesmo) para estacionar na rua.
Em momentos como esse, é fácil sentir vergonha do nosso país. Uma população que vive sob a eterna "lei de Gerson", sempre querendo, de alguma forma, levar vantagem. Longe de mim ignorar os problemas vividos por outras culturas. Longe de mim perder o ainda existente orgulho de ter nascido aqui. Também não sou santo e nem sempre exemplo.
Mas que, de vez em quando é complicado, é.
domingo, 21 de dezembro de 2008
O fenômeno Madonna
(e a parte antropológica legal)
(e a parte antropológica legal)
Quando voltei de viagem, semana retrasada, soube que teria de ir ao show da Madonna. Sim, teria. Pois meu cliente é um dos patrocinadores do evento. Passei a semana inteira cheio de preconceitos. Confesso que o interesse era mínimo. Não sou fã da Madonna e conheço apenas as músicas mais famosas.
Mas, de graça e com tantas regalias, até dá pra gente se divertir. No camarote Nokia / Claro, havia de tudo, desde massagens relaxantes até fotomontagens e confortáveis almofadões. Uma pulseira mágica - ah, como eu adoro essas pulseirinhas que dão acesso aos lugares - permitia que fôssemos à pista, onde estava a galera, e voltássemos a qualquer momento. Assim, deu pra encarar um pouco o calor humano com a galera lá no olho do furacão, e quando batesse a vontade, voltar para escolher alguma bebida entre caipiroscas de melancia com gengibre, tangerina com manjericão e afins.
Como disse, tinha um texto imaginário pronto para criticar a Madonna. Era apenas uma questão de tempo. Mas não é que ela me surpreendeu? Pois é. Admito que dancei, bastante, em algumas músicas. Claro, vale lembrar que o fato de estar em um confortável camarote, com bebidas e comidas inclusas, ajudou muito em todo o processo. Mas, como uma amiga minha me lembrou, já tive mordomias similares em outros eventos e não dancei. A Madonna conseguiu isso. E também acabou com a minha voz.
Sobre o show? Claro que teve playback. Claro que os efeitos visuais impressionam e dão uma senhora roupagem às músicas. Claro que é um pouco estranho ir a um show e não ver uma banda tocando atrás do artista principal - de fato, o único instrumento que vi na noite foi uma guitarra na mão dela de vez em quando.
Mesmo assim, trata-se de um megaevento muito interessante e, no mínimo, legal de incluir no currículo. Justificável para as centenas de fãs fazerem de tudo para ir e correrem em direção à pista em lágrimas? Não, definitivamente. Mas fã é fã, e é melhor não tentar entender, apenas manter distância se necessário.
Deixo aqui um breve registro fotográfico da tarde e noite no Estádio. Ainda colocarei outro post sobre a Madonna, mas esse fica pro meio da semana.
Mas, de graça e com tantas regalias, até dá pra gente se divertir. No camarote Nokia / Claro, havia de tudo, desde massagens relaxantes até fotomontagens e confortáveis almofadões. Uma pulseira mágica - ah, como eu adoro essas pulseirinhas que dão acesso aos lugares - permitia que fôssemos à pista, onde estava a galera, e voltássemos a qualquer momento. Assim, deu pra encarar um pouco o calor humano com a galera lá no olho do furacão, e quando batesse a vontade, voltar para escolher alguma bebida entre caipiroscas de melancia com gengibre, tangerina com manjericão e afins.
Como disse, tinha um texto imaginário pronto para criticar a Madonna. Era apenas uma questão de tempo. Mas não é que ela me surpreendeu? Pois é. Admito que dancei, bastante, em algumas músicas. Claro, vale lembrar que o fato de estar em um confortável camarote, com bebidas e comidas inclusas, ajudou muito em todo o processo. Mas, como uma amiga minha me lembrou, já tive mordomias similares em outros eventos e não dancei. A Madonna conseguiu isso. E também acabou com a minha voz.
Sobre o show? Claro que teve playback. Claro que os efeitos visuais impressionam e dão uma senhora roupagem às músicas. Claro que é um pouco estranho ir a um show e não ver uma banda tocando atrás do artista principal - de fato, o único instrumento que vi na noite foi uma guitarra na mão dela de vez em quando.
Mesmo assim, trata-se de um megaevento muito interessante e, no mínimo, legal de incluir no currículo. Justificável para as centenas de fãs fazerem de tudo para ir e correrem em direção à pista em lágrimas? Não, definitivamente. Mas fã é fã, e é melhor não tentar entender, apenas manter distância se necessário.
Deixo aqui um breve registro fotográfico da tarde e noite no Estádio. Ainda colocarei outro post sobre a Madonna, mas esse fica pro meio da semana.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Um pouco de Buenos Aires em São Paulo
Antes do último post sobre Cuba, uma mudança (leve) de ares: saio da terra de Fidel, mas ainda não volto ao Brasil totalmente.
Nunca foi a Buenos Aires? Já foi, quer ir de novo mas a crise global não permite? Seja qual for a sua opção, se tiver interesse em conhecer (ou relembrar) um pouco o ambiente portenho sem sair de São Paulo, vá ao Che Bárbaro. Localizado no "coração" da Vila Madalena (lembram desse post?), na R. Harmonia, o local abriu há menos de 1 mês e preza por duas características fortes: o excelente atendimento e os detalhes fiéis à capital do Tango.
Não tive a oportunidade de jantar no local, portanto não avaliei os pratos. Mas fiz questão de pedir uma empanada de carne (R$ 3,50), que estava incrivelmente semelhante a uma argentina. O dono do local, Alberto, recebe os convidados na porta. Não se deixe enganar pela primeira impressão. O Che (aliás, nome sugestivo para este blog em meio a tantas menções de Cuba, diga-se) é grande em profundidade e possui uma área no fundo temática da famosa "boca" argentina: paredes pintadas com as mesmas cores e falsas sacadas dão um ar nostálgico a quem já conheceu essa famosa - e turística - parte de Buenos Aires.
Se for, não deixe de pedir um vinho argentino ou - o que foi meu caso - uma legítima Quilmes, com direito a garrafa de 1,5 litro (R$ 14,00), como é normal por lá.
Serviço
Restobar Che Bárbaro
11 | 2691-7628
R. Harmonia, 277 - Vila Madalena
Nunca foi a Buenos Aires? Já foi, quer ir de novo mas a crise global não permite? Seja qual for a sua opção, se tiver interesse em conhecer (ou relembrar) um pouco o ambiente portenho sem sair de São Paulo, vá ao Che Bárbaro. Localizado no "coração" da Vila Madalena (lembram desse post?), na R. Harmonia, o local abriu há menos de 1 mês e preza por duas características fortes: o excelente atendimento e os detalhes fiéis à capital do Tango.
Não tive a oportunidade de jantar no local, portanto não avaliei os pratos. Mas fiz questão de pedir uma empanada de carne (R$ 3,50), que estava incrivelmente semelhante a uma argentina. O dono do local, Alberto, recebe os convidados na porta. Não se deixe enganar pela primeira impressão. O Che (aliás, nome sugestivo para este blog em meio a tantas menções de Cuba, diga-se) é grande em profundidade e possui uma área no fundo temática da famosa "boca" argentina: paredes pintadas com as mesmas cores e falsas sacadas dão um ar nostálgico a quem já conheceu essa famosa - e turística - parte de Buenos Aires.
Se for, não deixe de pedir um vinho argentino ou - o que foi meu caso - uma legítima Quilmes, com direito a garrafa de 1,5 litro (R$ 14,00), como é normal por lá.
Serviço
Restobar Che Bárbaro
11 | 2691-7628
R. Harmonia, 277 - Vila Madalena
sábado, 13 de dezembro de 2008
Diários de Cocotaxi - Dois brasileiros em Cuba - Parte II
Acredite: essa foto foi tirada em troca de 3 xampus
Acredite: essa foto foi tirada em troca de 3 xampus
Havana: uma rica pobreza
Saímos de Varadero contaminados com o pior do capitalismo: o desperdício, o luxo totalmente desigual e abundância exagerada. Logicamente que lembrávamos o país onde estávamos, mas é fácil esquecer de questões sociais quando a média de piñas coladas ao dia era de 15 - eu disse a média.
Não demorou muito para o cenário mudar. E menos ainda para sacarmos nossas câmeras digitais - ou, no meu caso, o celular. Havana é um cartão postal 24h. Qualquer esquina possui um atrativo para fotógrafos - amadores ou profissionais. A cidade mescla um colorido vivo com um cinza pobre, tudo isso somado a um cenário tipicamente tropical. Salsa tocando o tempo todo, pessoas de chapéus panamá e palmeiras fazem você ter vontade de registrar tudo e dá a impressão de que você está dentro de um videogame. Mas é tudo real.
E a realidade do cubano não é fácil. Com um salário médio de 15 pesos, eles dependem do turismo para complementar suas rendas. Um quilo de carne custa 11 pesos, portanto, é possível imaginar o quanto eles admiram dinheiro vindo de visitantes. Até pouco tempo, moradores do país não podiam comprar microondas, DVDs ou itens secundários. A única maneira era os trazendo de fora. Porém, são poucos os que podem sair do país. Apenas médicos, artistas ou esportistas, além de pessoas ligadas ao governo, claro, podem viajar para fora de Cuba.
A saúde em Cuba é sempre motivo de orgulho no país. Junto com a educação, são dois benefícios gratuitos aos cidadãos. A mortalidade infantil é menor do que nos Estados Unidos. Mesmo assim, estima-se que atualmente 31 mil médicos de Cuba trabalhem fora do país. Em cuba, é possível conseguir agendar - e fazer - uma ressonância magnética em questão de minutos.
Fidel y El Che| A adoração ao "nuestro comandante" Fidel Castro é latente. Seja por meio de cartazes e placas ou ao conversar com a população mesmo. Um cubano diz, até com um certo orgulho, que ninguém sabe onde está Fidel. "Ele vive escondido por questões de segurança", explica. Segundo suas razões, Fidel já foi vítima de exatos 637 tentativas de homicídio por parte da CIA, órgão de segurança do governo dos Estados Unidos. "E estão todas documentadas", complementa.
Fidel não está sozinho na lista de heróis cubanos. Junto dele, José Martín também é bastante citado como um dos responsáveis pela revolução de 1959 que tirou Fulgêncio Batista do poder. Porém, os dois são superados de longe por um nome que tem imagem quase tão conhecida como Jesus Cristo: Ernesto Che Guevara.
"El" Che está presente em praticamente toda esquina de Havana. Quando não é seu famoso rosto acompanhado da boina e da estrela, são suas frases famosas ou cartões postais com fotos inusitadas, como o argentino (sim, Che nasceu na Argentina) fazendo a barba ou ocioso em um sofá. Nas eternas feiras de artesanato, ele é, de longe, o mais representado. A foto de Che está em camisetas, quadros, caixas de charutos, ímãs e onde mais imaginar - basta lembrar que, em 2007, Gisele Bündchen desfilou com o rosto do revolucionário em seu biquíni (um dos maiores antagonismos possíveis, aliás).
O maior rosto de Che em Cuba está no Instituto de Educação em Havana, na Praça da Revolução. Ele próprio costumava frequentar o prédio para estudar. Em sua homenagem, o imenso semblante famoso, seguido da frase "hasta la vitoria sempre". O tamanho impressiona, e também dá a noção exata do quanto esta pessoa de gestos questionáveis ganhou uma fama que ultrapassa facilmente o que ele representou em vida.
Quer distância dos heróis de Cuba pela TV? Esqueça.
A televisão de Cuba se resume a três canais. O canal oficial do estado e dois canais educacionais. Em ambos, não há intervalos comerciais com propagandas consumistas. Apenas mensagens de apoio ao governo e lembretes de que, em janeiro próximo, comemoram-se 50 anos "de la revolución".
"Chaves" o dia inteiro? | Assistir a TV em Havana é uma árdua tarefa. Durante boa parte do dia, desfiles e homenagens militares tomam espaço da programação. Os telejornais são um capítulo à parte: matérias sobre visitas e agenda do atual comandante do país, Raúl Castro, levam quase meia hora. As cenas do que ele fez no dia vão ao ar de forma bruta, quase sem edição. Discursos são exibidos quase na íntegra. Uma das cenas me chamou a atenção em especial: mostrava uma pequena garota, com não mais que 11 ou 12 anos, entregando uma carta dirigida à Fidel ao irmão Raúl. Ao passar a carta, apenas disse "espero que nosso comandante se recupere logo", caindo então em prantos. Chocante.
A TV que tínhamos no hotel, logicamente, possuía alguns outros canais com aspecto mais global. Um deles foi fenomenal: a TV Venezuela. Foi outro susto ver, de forma mais próxima, o que acontece com Hugo Chávez por lá. Não é difícil imaginar que ele pretende ser um novo Fidel. O canal possui mais intervalos do que programação. Neles, são exibidos clipes de músicas feitas especialmente para apoiar Chávez. Rock, salsa, bolero... É uma espécie de MTV comunista. Entre um solo de guitarra e outro, entravam trechos de discursos do presidente da Venezuela, em especial repetindo a frase "Uh ah, Chávez no se vá". Assustador e instigante ao mesmo tempo.
Quer saber mais? Aguarde outro post. O texto já está muito grande...
Não demorou muito para o cenário mudar. E menos ainda para sacarmos nossas câmeras digitais - ou, no meu caso, o celular. Havana é um cartão postal 24h. Qualquer esquina possui um atrativo para fotógrafos - amadores ou profissionais. A cidade mescla um colorido vivo com um cinza pobre, tudo isso somado a um cenário tipicamente tropical. Salsa tocando o tempo todo, pessoas de chapéus panamá e palmeiras fazem você ter vontade de registrar tudo e dá a impressão de que você está dentro de um videogame. Mas é tudo real.
E a realidade do cubano não é fácil. Com um salário médio de 15 pesos, eles dependem do turismo para complementar suas rendas. Um quilo de carne custa 11 pesos, portanto, é possível imaginar o quanto eles admiram dinheiro vindo de visitantes. Até pouco tempo, moradores do país não podiam comprar microondas, DVDs ou itens secundários. A única maneira era os trazendo de fora. Porém, são poucos os que podem sair do país. Apenas médicos, artistas ou esportistas, além de pessoas ligadas ao governo, claro, podem viajar para fora de Cuba.
A saúde em Cuba é sempre motivo de orgulho no país. Junto com a educação, são dois benefícios gratuitos aos cidadãos. A mortalidade infantil é menor do que nos Estados Unidos. Mesmo assim, estima-se que atualmente 31 mil médicos de Cuba trabalhem fora do país. Em cuba, é possível conseguir agendar - e fazer - uma ressonância magnética em questão de minutos.
Fidel y El Che| A adoração ao "nuestro comandante" Fidel Castro é latente. Seja por meio de cartazes e placas ou ao conversar com a população mesmo. Um cubano diz, até com um certo orgulho, que ninguém sabe onde está Fidel. "Ele vive escondido por questões de segurança", explica. Segundo suas razões, Fidel já foi vítima de exatos 637 tentativas de homicídio por parte da CIA, órgão de segurança do governo dos Estados Unidos. "E estão todas documentadas", complementa.
Fidel não está sozinho na lista de heróis cubanos. Junto dele, José Martín também é bastante citado como um dos responsáveis pela revolução de 1959 que tirou Fulgêncio Batista do poder. Porém, os dois são superados de longe por um nome que tem imagem quase tão conhecida como Jesus Cristo: Ernesto Che Guevara.
"El" Che está presente em praticamente toda esquina de Havana. Quando não é seu famoso rosto acompanhado da boina e da estrela, são suas frases famosas ou cartões postais com fotos inusitadas, como o argentino (sim, Che nasceu na Argentina) fazendo a barba ou ocioso em um sofá. Nas eternas feiras de artesanato, ele é, de longe, o mais representado. A foto de Che está em camisetas, quadros, caixas de charutos, ímãs e onde mais imaginar - basta lembrar que, em 2007, Gisele Bündchen desfilou com o rosto do revolucionário em seu biquíni (um dos maiores antagonismos possíveis, aliás).
O maior rosto de Che em Cuba está no Instituto de Educação em Havana, na Praça da Revolução. Ele próprio costumava frequentar o prédio para estudar. Em sua homenagem, o imenso semblante famoso, seguido da frase "hasta la vitoria sempre". O tamanho impressiona, e também dá a noção exata do quanto esta pessoa de gestos questionáveis ganhou uma fama que ultrapassa facilmente o que ele representou em vida.
Quer distância dos heróis de Cuba pela TV? Esqueça.
A televisão de Cuba se resume a três canais. O canal oficial do estado e dois canais educacionais. Em ambos, não há intervalos comerciais com propagandas consumistas. Apenas mensagens de apoio ao governo e lembretes de que, em janeiro próximo, comemoram-se 50 anos "de la revolución".
"Chaves" o dia inteiro? | Assistir a TV em Havana é uma árdua tarefa. Durante boa parte do dia, desfiles e homenagens militares tomam espaço da programação. Os telejornais são um capítulo à parte: matérias sobre visitas e agenda do atual comandante do país, Raúl Castro, levam quase meia hora. As cenas do que ele fez no dia vão ao ar de forma bruta, quase sem edição. Discursos são exibidos quase na íntegra. Uma das cenas me chamou a atenção em especial: mostrava uma pequena garota, com não mais que 11 ou 12 anos, entregando uma carta dirigida à Fidel ao irmão Raúl. Ao passar a carta, apenas disse "espero que nosso comandante se recupere logo", caindo então em prantos. Chocante.
A TV que tínhamos no hotel, logicamente, possuía alguns outros canais com aspecto mais global. Um deles foi fenomenal: a TV Venezuela. Foi outro susto ver, de forma mais próxima, o que acontece com Hugo Chávez por lá. Não é difícil imaginar que ele pretende ser um novo Fidel. O canal possui mais intervalos do que programação. Neles, são exibidos clipes de músicas feitas especialmente para apoiar Chávez. Rock, salsa, bolero... É uma espécie de MTV comunista. Entre um solo de guitarra e outro, entravam trechos de discursos do presidente da Venezuela, em especial repetindo a frase "Uh ah, Chávez no se vá". Assustador e instigante ao mesmo tempo.
Quer saber mais? Aguarde outro post. O texto já está muito grande...
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Diários de Cocotaxi - dois brasileiros em Cuba -Parte I
Não tente entender, apenas clique, amplie e aprecie: esta certamente foi a
foto mais bela tirada na viagem
Varadero: o capitalismo dentro do socialismo
Confesso que venho tentando, desde os momentos em que ainda estava em Havana, escolher uma palavra, ou ao menos uma frase curta, que definisse um pouco o que foi a viagem. Junto do amigo que foi comigo, criamos algumas teorias ao longo de nossa rápida jornada por Cuba. E as melhores definições que encontramos foram "surreal", "contrastante", ou ainda "uma aula de sociologia na prática". Porém, nenhuma conseguirá retratar de forma fiel (ou seria fidel?) o que sentimos por lá.
Cuba é o país dos contrastes. O país que mistura sensações opostas e discrepantes em questão de metros. Lugares onde a beleza é tão irrequieta, instigante e irritante quanto a miséria exposta. Um lugar parado no tempo, o mais próximo que alguém mais jovem pode chegar de viver nos anos 1950.
Capitalismo Selvagem | Após uma rápida passagem pelo já conhecido Panamá, nossa primeira parada foi em Varadero. Constantemente chamada de “a praia mais bonita do mundo”, Varadero fica na província de Matanzas, nome dado em razão da forma como os espanhóis chegaram ao local na época de sua descoberta - sim, os índios foram sendo mortos um a um. Isso é a primeira coisa que destaco em Cuba. Tudo, do período da colonização aos tempos atuais, gira em torno de guerra, sangue, conquistas bélicas e grandes batalhas. Os monumentos, as praças, o hino, a filosofia e, claro, a postura política do país.
O embargo dos EUA à Cuba é o segundo ponto a ser destacado. Não há Coca-Cola, há Tu Cola. Não existe Mc Donald's, há hambúrgueres comuns. O bloqueio é constantemente citado pelos cubanos, seja por meio de conversas com os locais ou por gigantescos outdoors e faixas que culpam os Estados Unidos pelo terrorismo. Curiosamente, a bandeira da terra de Tio Sam está no aeroporto, junto com as demais. A situação vivida por Cuba atualmente nos faz pensar até que ponto a culpa é exclusivamente do embargo, ou deles mesmo por se isolarem? Certamente não consegui a resposta em tão pouco tempo de viagem.
Varadero é o maior dos contrastes, por se tratar quase uma Disney cubana. É um paraíso capitalista hipócrita no meio de uma terra em clara queda. Os resorts no local usam o sistema "all inclusive" (tudo incluso), o que leva você a tornar-se, como dizíamos, um "porco capitalista" em poucos dias. Afinal, é tudo de graça, o dia inteiro. Nosso trabalho era, basicamente, ir do quarto para a praia ou para a piscina ricamente decorada com pontes. Sempre, claro, parando nos diversos bares para pegar uma bebida - piña colada, cuba libre, fondo del mar e daikiri estavam entre os mais consumidos, além é claro, do tradicional mojito. Na entrada do hotel, um enorme cartaz remonta o início de 1990, quando "nuestro comandante" Fidel Castro inaugurou o hotel. Por meio de Varadero, fica claro o investimento do país em turismo, uma das principais fontes de renda após o término da Guerra Fria.
Não há muito que dizer de Varadero e dos dias no resort. Além da constante exposição ao sol, as atividades recreativas de sempre. Torneios de pingue-pongue, aulas de salsa, campeonato de dardo (que ganhei), aulas de drink e baladas noturnas davam a nós a difícil missão de passar o tempo no Caribe. O sol se encarregou de nos dar a cor dourada que é quase impossível de não conseguir.
A oferta de bebidas era tamanha que em dado momento a piña colada tornou-se um veneno. Procurávamos uma bebida ou um prato diferente para tomar (ou comer) junto com as diversas cartelas de Engov que iam se esgotando aos poucos. Basicamente, passávamos os dias ligeiramente - ou excessivamente - bêbados.
Los Puros | Entre um passeio e outro, os cubanos (funcionários) sempre tentavam nos vender algo. Fosse o famoso rum cubano (añejo blanco do Havana Club) ou los puros (como são chamados os charutos por lá), tudo era oportunidade para vendas. "En mis manos, és más barato", diziam insistentemente. Para um cubano, qualquer chance de renda extra vale muito a pena, o que nos leva ao terceiro assunto, a situação financeira.
Os turistas em Cuba não podem usar o dinheiro do país, o peso cubano. Para os de fora, são passados os pesos convertibles, dinheiro que vale quase tanto quanto o euro. Portanto, quem espera gastar pouco, como em cidades como Buenos Aires ou Montevidéu, irá se frustrar. Um peso convertido vale 450 pesos cubanos. O salário médio, em Cuba, é de 10 pesos. Cartões de crédito raramente são aceitos - quando isso acontece, não podem ser emitidos por bancos americanos. Números como esse explicam por que eles ficam tão felizes ao receber 1 ou 2 pesos de turistas - um médico em Cuba recebe, normalmente, 15 pesos.
A pobreza da população vai além da necessidade de dinheiro. O regime usado por Fidel Castro só dá algo quando extremamente necessário. Não há abastados em Cuba – ou no socialismo. Logo, os itens mais pedidos pela população são os de higiene. Isso mesmo. Munido dessa informação antes de embarcar, levei comigo dezenas de xampus de hotel, daqueles pequenos, recolhidos em viagens anteriores e jamais usados. Se eles gostaram? Basta dizer que voltei sem nenhum. "Hoy voy a bañarme", me disse um dos presenteados. Foi emocionante.
Com a missão de descansar e desconectar do mundo completa, dois bronzeados brasileiros foram à Havana para os últimos três dias antes do retorno a São Paulo. E foram os três dias mais intensos da viagem.
Mas isso fica para outro post. Aguardem por mais textos e fotos.
Confesso que venho tentando, desde os momentos em que ainda estava em Havana, escolher uma palavra, ou ao menos uma frase curta, que definisse um pouco o que foi a viagem. Junto do amigo que foi comigo, criamos algumas teorias ao longo de nossa rápida jornada por Cuba. E as melhores definições que encontramos foram "surreal", "contrastante", ou ainda "uma aula de sociologia na prática". Porém, nenhuma conseguirá retratar de forma fiel (ou seria fidel?) o que sentimos por lá.
Cuba é o país dos contrastes. O país que mistura sensações opostas e discrepantes em questão de metros. Lugares onde a beleza é tão irrequieta, instigante e irritante quanto a miséria exposta. Um lugar parado no tempo, o mais próximo que alguém mais jovem pode chegar de viver nos anos 1950.
Capitalismo Selvagem | Após uma rápida passagem pelo já conhecido Panamá, nossa primeira parada foi em Varadero. Constantemente chamada de “a praia mais bonita do mundo”, Varadero fica na província de Matanzas, nome dado em razão da forma como os espanhóis chegaram ao local na época de sua descoberta - sim, os índios foram sendo mortos um a um. Isso é a primeira coisa que destaco em Cuba. Tudo, do período da colonização aos tempos atuais, gira em torno de guerra, sangue, conquistas bélicas e grandes batalhas. Os monumentos, as praças, o hino, a filosofia e, claro, a postura política do país.
Varadero, no entanto, esconde tudo isso muito bem, de uma forma quase americana. Essa região do país é simplesmente fechada para cubanos. Sim, um cubano não pode ir a Varadero (assim como não pode sair do país), a não ser que trabalhe ali. No local, dezenas de resorts recebem os abastados turistas de diversas partes do mundo. Durante meus cinco dias no Sol Palmeiras, conheci pessoas da Rússia, Argentina, Brasil, França, Alemanha, Canadá, Portugal, México e Espanha, entre outros. Só não havia, claro, originários dos Estados Unidos, que vale lembrar, são proibidos de ir à Cuba.
O embargo dos EUA à Cuba é o segundo ponto a ser destacado. Não há Coca-Cola, há Tu Cola. Não existe Mc Donald's, há hambúrgueres comuns. O bloqueio é constantemente citado pelos cubanos, seja por meio de conversas com os locais ou por gigantescos outdoors e faixas que culpam os Estados Unidos pelo terrorismo. Curiosamente, a bandeira da terra de Tio Sam está no aeroporto, junto com as demais. A situação vivida por Cuba atualmente nos faz pensar até que ponto a culpa é exclusivamente do embargo, ou deles mesmo por se isolarem? Certamente não consegui a resposta em tão pouco tempo de viagem.
Varadero é o maior dos contrastes, por se tratar quase uma Disney cubana. É um paraíso capitalista hipócrita no meio de uma terra em clara queda. Os resorts no local usam o sistema "all inclusive" (tudo incluso), o que leva você a tornar-se, como dizíamos, um "porco capitalista" em poucos dias. Afinal, é tudo de graça, o dia inteiro. Nosso trabalho era, basicamente, ir do quarto para a praia ou para a piscina ricamente decorada com pontes. Sempre, claro, parando nos diversos bares para pegar uma bebida - piña colada, cuba libre, fondo del mar e daikiri estavam entre os mais consumidos, além é claro, do tradicional mojito. Na entrada do hotel, um enorme cartaz remonta o início de 1990, quando "nuestro comandante" Fidel Castro inaugurou o hotel. Por meio de Varadero, fica claro o investimento do país em turismo, uma das principais fontes de renda após o término da Guerra Fria.
Não há muito que dizer de Varadero e dos dias no resort. Além da constante exposição ao sol, as atividades recreativas de sempre. Torneios de pingue-pongue, aulas de salsa, campeonato de dardo (que ganhei), aulas de drink e baladas noturnas davam a nós a difícil missão de passar o tempo no Caribe. O sol se encarregou de nos dar a cor dourada que é quase impossível de não conseguir.
A oferta de bebidas era tamanha que em dado momento a piña colada tornou-se um veneno. Procurávamos uma bebida ou um prato diferente para tomar (ou comer) junto com as diversas cartelas de Engov que iam se esgotando aos poucos. Basicamente, passávamos os dias ligeiramente - ou excessivamente - bêbados.
Los Puros | Entre um passeio e outro, os cubanos (funcionários) sempre tentavam nos vender algo. Fosse o famoso rum cubano (añejo blanco do Havana Club) ou los puros (como são chamados os charutos por lá), tudo era oportunidade para vendas. "En mis manos, és más barato", diziam insistentemente. Para um cubano, qualquer chance de renda extra vale muito a pena, o que nos leva ao terceiro assunto, a situação financeira.
Os turistas em Cuba não podem usar o dinheiro do país, o peso cubano. Para os de fora, são passados os pesos convertibles, dinheiro que vale quase tanto quanto o euro. Portanto, quem espera gastar pouco, como em cidades como Buenos Aires ou Montevidéu, irá se frustrar. Um peso convertido vale 450 pesos cubanos. O salário médio, em Cuba, é de 10 pesos. Cartões de crédito raramente são aceitos - quando isso acontece, não podem ser emitidos por bancos americanos. Números como esse explicam por que eles ficam tão felizes ao receber 1 ou 2 pesos de turistas - um médico em Cuba recebe, normalmente, 15 pesos.
A pobreza da população vai além da necessidade de dinheiro. O regime usado por Fidel Castro só dá algo quando extremamente necessário. Não há abastados em Cuba – ou no socialismo. Logo, os itens mais pedidos pela população são os de higiene. Isso mesmo. Munido dessa informação antes de embarcar, levei comigo dezenas de xampus de hotel, daqueles pequenos, recolhidos em viagens anteriores e jamais usados. Se eles gostaram? Basta dizer que voltei sem nenhum. "Hoy voy a bañarme", me disse um dos presenteados. Foi emocionante.
Com a missão de descansar e desconectar do mundo completa, dois bronzeados brasileiros foram à Havana para os últimos três dias antes do retorno a São Paulo. E foram os três dias mais intensos da viagem.
Mas isso fica para outro post. Aguardem por mais textos e fotos.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
De volta de Cuba
As coisas estão corridas, por isso deixo aqui apenas um post rápido após as férias antes de algo mais detalhado. Férias que, aliás, não foram somente em Varadero, mas também em Havana, ou La Habana, capital da terra de Fidel Castro.
Foi a viagem da diversidade. Formada de tantos adjetivos contrastantes que realmente não sei por onde começar. Por enquanto, seguem algumas fotos, e já aviso aos leitores que saberão muito de Cuba pelos próximos posts.
Foi a viagem da diversidade. Formada de tantos adjetivos contrastantes que realmente não sei por onde começar. Por enquanto, seguem algumas fotos, e já aviso aos leitores que saberão muito de Cuba pelos próximos posts.
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