As decisões dos homens de
terno e gravata*
Quando a política supera o esporte, algo está errado
Bernie Ecclestone, o chefão da Fórmula 1: ele quer mudar tudo
Normalmente, escrever sobre o Grande Prêmio de Mônaco não costuma ser algo muito rico, já que a corrida é tradicionalmente a mais charmosa, mas também mais previsível do ano. Falar de Barrichello pela terceira coluna seguida também não dá. Sobra, então, voltar o nariz para a sujeira e confusão vinda da política por trás da Fórmula 1.
A ambígua F-1 vive momentos distintos. Na pista, muito equilíbrio, surpresas e indefinição sobre os rumos do campeonato. Jenson Button segue rumo ao título, mas a Ferrari mostra uma evolução surpreendente e está perto de ser a segunda força. Outros times, como RBR e Toyota, mesclam desempenhos interessantes com frustrantes. As ultrapassagens são constantes e tudo parece estar indo bem. Por que mexer mais?
A principal causa para esse bom momento vivido pela categoria vem dos famosos homens de terno e gravata. São os empresários e comissários que, a cada ano, mudam e mexem nas regras para impedir que a tecnologia supere a esportividade. Nem sempre dá certo, já que os engenheiros acham maneiras de driblar as mudanças, sejam elas totalmente novas ou retrôs. O problema é quando a política e a cartolagem é tamanha que começa a esconder o esporte.
Não é novidade a FIA querer banir sistemas, impor limites e cortar gastos. Porém, o que está acontecendo de uns anos pra cá beira o absurdo: a categoria não passa dois anos seguidos sem alterações profundas no regulamento. E, para isso, basta voltar alguns anos na memória: quando eu assistia a Fórmula 1 do início dos anos 1990 e fim dos 1980, as mudanças eram poucas e, quando surgiam, mexiam bastante com o grid. Foi o caso, por exemplo, do fim da era turbo, em 1989. Ou da suspensão eletrônica, em 1994. São exemplos de regulamentos alterados que marcaram época.
Hoje, porém, a FIA não consegue sentar e apenas apreciar a corrida. Os pneus passaram a ser slicks novamente; não teremos mais reabastecimento no ano que vem. Os motores passam de V-10 para V-8; os treinos de classificação já tiveram todos os formatos possíveis. O limite de RPMs baixa a cada ano. O sistema de pontuação será por vitórias; não, não será mais. Fica para 2010. Não, não fica mais.
Tanta mudança em tão pouco tempo chega a transformar a Fórmula 1 em alvo de deboche. Afinal, qual credibilidade tem uma instituição que, a cada ano (ou a cada semestre, até), muda ferozmente os regulamentos e princípios que defende? Nessa história, sobram ameaças. Ferrari lidera o movimento e diz que não estará na categoria ano que vem se a FIA não reconsiderar a mudança envolvendo o teto orçamentário. Eu duvido. Assim como Mônaco, a Ferrari pode não ser a mais rápida sempre, mas o seu charme é indispensável.
RETA OPOSTA
Maturidade de Massa
Já falei aqui de como Felipe Massa mudou na temporada passada, assumindo um papel de piloto de Ferrari e arcando com as responsabilidades que isso envolve. Mônaco foi mais um caso assim; Massa chegou atrás do companheiro, mas fez a melhor volta da prova e certamente deixou os dirigentes italianos felizes.
Fala, Rubinho“Button está guiando como campeão”, diz Rubens. Não, o brasileiro ainda não jogou a toalha – e nem deveria mesmo. Mas admite que o piloto inglês está mesmo em uma fase incrível.
*coluna publicada em dia de corrida no site UOL Interpress Motor. Para ver as anteriores, clique aqui.